Grande promessa do setor de petróleo e gás de xisto, os projetos de exploração de Vaca Muerta seguem em ritmo lento.
Cenário macroeconômico desafiador, agravada pela recente crise cambial, e política energética errática do governo geram um clima de incerteza para os investidores.
Estima-se que a Argentina tenha 27 bilhões de barris de petróleo e 802 trilhões de metros cúbicos de gás. O país tem a terceira maior reserva do mundo de petróleo e gás de xisto, atrás dos Estados Unidos e da China, segundo relatório “Guide to Investing Oil & Gas Outside of North America”, da Oilprice. Vaca Muerta, na Província de Neuquén, responde por 40% das reservas de gás de xisto e 60% do total de petróleo não convencional.
A região, que é do tamanho da Bélgica, começou a ser explorada pela estatal YPF em 2012, mas nos últimos dois anos outras empresas investiram e ampliaram a produção. A ExxonMobil fez duas grandes descobertas, e a Chevron tem 200 poços. YPF, Total, Pan American Energy e Wintershall assinaram acordo para investir US$ 1,1 bilhões até 2021.
Amanda Kupchella, analista para América Latina da Wood Mackenzie, estima que até hoje foram extraídos 100 milhões de barris de petróleo em Vaca Muerta. Para este ano, produção média esperada da região é de 160.000 barris diários.
Empresas chinesas, russas e brasileiras, como a Brasken, também estão de olho. Mas o problema é que a exploração em Vaca Muerta depende de investimento pesado, que deixa companhias receosas frente à frágil situação econômica hoje.
Kupchella afirma que enquanto nos EUA os custos de produção de petróleo e gás não convencionais ficam entre US$ 6 milhões a US$ 8 milhões por poço, na Argentina eles vão de US$ 10 milhões a US$ 13 milhões.
“Acontecimentos recentes, como a desvalorização do peso argentino e a alta da taxa de juros para 40%, são obstáculos ao desenvolvimento da produção em Vaca Muerta”, diz Artem Abramov, da Rystad Energy. “O acesso ao capital de trabalho está limitado.”
Abramov diz que o desenvolvimento da região deve continuar, mas não na velocidade que o governo espera. Semana passada o presidente Mauricio Macri disse que Vaca Muerta fará a Argentina exportar gás dentro de três anos.
Outro ponto importante para a produção deslanchar é a infraestrutura. O fato de ser uma região de deserto exige maior suprimento de água para o método de fraturamento hidráulico (fracking). Mas tanto o abastecimento de água como o transporte de insumos dependem da ampliação da malha ferroviária, uma vez que Vaca Muerta está numa área remota – Nequina, por exemplo, está a 856 quilômetros de Buenos Aires.
“O governo terá dificuldades para investir no setor dada a fragilidade atual da economia. A maior parte do montante terá de vir do setor privado, frente aos cortes que o governo precisará fazer no curto prazo”, diz Mara Roberts Duque, analista da BMI, em Nova York.
No programa de PPP de US$ 26 bilhões que começou em março, havia o projeto de malha ferroviária de US$ 500 milhões para Vaca Muerta. Mas o plano está parado.
Além dos problemas de logística, afirma Thomaz Favaro, da Control Risks, a “política energética errática” do governo também é um entrave.
Depois da estatização da YPF em 2012, que assustou investidores, o governo buscou melhorar o ambiente de negócios, com o fim de imposto para exportação e acordos para reduzir os custos trabalhistas. Mas o vai-e-vém na política de subsídios causa incerteza.
O limite a preço no mercado doméstico implementado em 2007 foi suspenso em outubro de 2017. Em maio, o governo decidiu restabelecer o teto de preço, mas revogou no início do mês. “Ainda há muita incerteza sobre a política energética do próprio governo Macri”, diz. “Por outro lado, o setor na Argentina precisa das empresas privadas, muito mais do que no Brasil. A YPF responde por 40% da produção. A Petrobras, por 90%.”
No início do ano, o gás de xisto representava 30% da produção total da Argentina, enquanto o petróleo não convencional correspondia a 10%, diz Joaquin Bagües, do banco de investimentos Balanz Capital. “A produção de gás de xisto poderá crescer 20% neste ano em relação a 2017, compensando a queda de 3% nos campos de petróleo convencional.”
Kupchella alerta, no entanto, que para a produção em Vaca Muerta ser minimamente viável, o preço do barril no mercado tem de ser de ao menos US$ 56 por barril.
Mas, mesmo que os preços da commodity colapsem no mercado internacional, a produção em Vaca Muerta não cessará do dia para a noite. “As empresas que estão lá fizeram investimentos em média US$ 2,5 bilhões por ano”, diz Abramov. “Então mesmo que o preços do petróleo caiam amanhã, no curto prazo as atividades continuarão.”
Fonte: Valor Econômico
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