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Tábata Larissa Schütz dos Santos: Técnica de Gás Natural da SCGÁS

Sou natural de Cruz Alta (RS), mas morei boa parte da vida em Santa Maria (RS), onde fiz o Técnico em  Mecânica integrado ao ensino médio, que é o que me possibilitou estar na Companhia de Gás de Santa Catarina (SCGAS).

Quando me inscrevi no concurso da empresa, vi enfim a oportunidade de aplicar os meus conhecimentos.

Afinal foram anos de muita dedicação para ser uma profissional habilitada aos 18 anos. Quando decidi prestar o concurso público, foram meses de estudos e abdicação de vida social, que resultaram no primeiro lugar dentre uma grande lista de inscritos, a grande maioria de homens.

Com certeza, estar nesse emprego é a minha maior conquista até hoje.

Entrei na SCGAS como Técnica de Gás Natural, em fevereiro de 2020 na área de Operação e Manutenção, a chamada linha de frente. Na companhia, sou a única mulher na Coordenadoria de Operações do Vale do Itajaí (COPVI).

É, sim, uma área com perfil masculino e eu já imaginava que seria assim. Mas isso nunca foi um problema, visto que desde o 1º ano no ensino médio minha convivência vem sendo majoritariamente com colegas masculinos.

Ao longo deste pouco mais de um ano, não tenho reclamações a fazer, nem tive divergências de gênero. E isso é incrível. Aliás, tive uma equipe que me acolheu super bem e que entende meus limites físicos.

Na minha função, demanda-se uma resistência física considerável, seja pelo levantamento de equipamentos, seja por suportar muitas horas de pé exposta ao sol/frio no acompanhamento de obras, dentre outras atividades que podem ser consideradas mais “fáceis de lidar” pelos homens. E é gratificante chegar no fim do dia e ter aguentado firme essas adversidades e, sobretudo, haver realizado um bom trabalho como pessoa, indiferente de gênero. O melhor é perceber que a equipe valoriza a minha dedicação em fazer o trabalho bem-feito.

Antes de entrar na SCGÁS eu já vinha me preparando mentalmente para possíveis embates, eventuais comentários machistas e outros problemas com os quais muitas mulheres convivem no dia a dia. E ficava imaginando como deveria reagir a isso em um ambiente de trabalho, como me portar, assuntos para evitar etc. Esse preparo psicológico e físico, somado a uma equipe madura, gerou um ambiente muito agradável para mim. Gostaria que outras mulheres, em outras empresas, pudessem usufruir diariamente de um ambiente tão respeitoso.

Em toda a Gerência de Operação e Manutenção, somos apenas duas técnicas lotadas em cidades diferentes e sempre que podemos, trocamos ideias, experiências e dificuldades. Quando tive a oportunidade de conhecer as demais colaboradoras, vi muitas mulheres nas mais diversas áreas, desenvolvendo atividades e cargos de chefia e sendo reconhecidas por isso. É o que me inspira todos os dias, saber que estamos juntas e somos respeitadas, mesmo sem o convívio próximo. Para mim, essa conversa com outras mulheres é extremamente importante, pois aprendemos a evitar dificuldades, damos e recebemos conselhos e alertamos sobre atitudes que não devem ser passadas em branco.

Como entrei na empresa logo no início da pandemia, ainda não tive oportunidade de participar de projetos com outras áreas, Mas como nossas atividades de campo são muito específicas, é gratificante, por exemplo, finalizar obras complexas com sucesso e sem expor a comunidade a nenhum tipo de risco. A operação e a manutenção têm disso, a tua exposição, a dos teus colegas, da população no entorno, a produção dos clientes que estão consumindo o gás natural e não podem parar… Você vive aquela intensidade de manter tudo sob controle, de preservar vidas e realizar um excelente trabalho.

No relacionamento externo, a maior dificuldade que vejo é transparecer a mesma capacidade e ser escutada até a conclusão, sem uma interrupção masculina. Vejo que muitas vezes preciso me dedicar e me impor muito mais para ser escutada. Não é fácil, mas eu acredito que o segredo é a resignação e não aceitar essa situação, buscar meu espaço e respeito todos os dias, dando meu melhor e pontuando situações que não podem se repetir.

Vejo que isso está mudando nos últimos anos, mas há muito ainda a melhorar. Os desafios são inúmeros: machismo, importunação sexual, desrespeito ou menosprezo de opiniões femininas…

Sei que outras mulheres vivem situações constrangedoras no ambiente de trabalho e fora dele. Além disso, há ainda o desconhecimento e falta de apoio de outras mulheres, que por não verem acontecer, podem não apoiar certas causas.

Felizmente, tive pouquíssimas situações inconvenientes devido à “armadura” que criei ao longo desses anos. Até para me proteger, eu não me exponho e procuro deixar minha vida pessoal bem separada da profissional. Até me contenho em piadas e comentários, porque nunca sabemos como somos interpretadas e o quanto pode prejudicar nossa reputação. É um fardo diário que aprendi a carregar para me resguardar tanto na vida pessoal quanto profissional.

Acredito que, com relação ao mercado de trabalho, é necessário sim que as empresas invistam em um ambiente de trabalho igualitário, promovendo palestras ou apresentações sobre comportamento, sobre reconhecimento para todos, não só para homens com as mulheres e vice-versa, mas também de as mulheres escutarem, entenderem e apoiarem as demais.

Desde que entrei na empresa, a SCGAS está atuando no projeto de maior pacote de obras e eu acredito muito nele. É claro que isso demanda esforço de todos os setores, mas, sendo do setor de operação, eu consigo ver cada novo cliente recebendo o gás natural em seu estabelecimento ou residência, o que torna muito gratificante ver que esse projeto está fluindo tão bem. Além disso, a SCGAS possui muitos projetos internos que melhoram e fortalecem as equipes, tanto tecnicamente quanto na questão de desenvolvimento pessoal, que acaba impactando no desenvolvimento da empresa também.

Minha mensagem para quem está na faculdade é se fortalecer e investir no autodesenvolvimento. Independente da área, temos embates diários, situações que nem sempre vão se resolver fácil. Piadas e outras inconveniências irão acontecer, mas o melhor que podemos fazer é preparar-se e mostrar que temos capacidade e conhecimento mais que suficiente. E que não é uma capacidade de suportar peso menor que vai nos impedir de fazer um trabalho bem-feito.

Posso dar o meu exemplo. Tenho muito orgulho de onde estou e quero continuar evoluindo e aprendendo – estou terminando a graduação de Engenharia Mecânica.

Sou filha única e muito do que sou devo aos meus pais, que sempre me incentivaram, não importasse o caminho eu escolhesse profissionalmente.

O apoio deles é tudo para mim.

*Tábata Larissa Schütz dos Santos, 26 anos, é técnica em Mecânica pelo Colégio Técnico Industrial de Santa Maria e cursa Engenharia Mecânica na Universidade de Blumenau

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