Maior distribuidora de gás canalizado do país, a Comgás quer se adiantar às mudanças do mercado de gás natural e também à tendência de sofisticação de seus clientes, sejam eles residenciais, industriais ou comerciais. Para não ficar para trás, a companhia tem mapeado novas oportunidades de negócios e se vê, no futuro, como uma “utility de soluções”.
“Quero ter a Comgás preparada para atender um cliente que não quer só pagar fatura no fim do mês, que quer segurança, garantia de suprimento, um serviço digital mais ágil e fluido. No caso da indústria, [buscamos] aplicações que tragam mais eficiência e uma relação que seja mais independente da venda do gás”, afirmou o presidente da distribuidora, Antônio Simões, em entrevista ao Valor.
Com longa carreira no mercado de combustíveis e energia, Simões integra o grupo Cosan desde a formação da Raízen e assumiu a distribuidora paulista em outubro do ano passado. Ele substituiu Nelson Gomes, que passou para o comando da Compass, empresa criada pela Cosan no ano passado para explorar oportunidades do setor de gás e energia no Brasil e que controla a distribuidora de gás.
Com uma rede de mais de 19 mil quilômetros, a Comgás atende hoje 2,1 milhão de consumidores, espalhados em 92 municípios paulistas. Sua área de concessão inclui as regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, além do Vale do Paraíba e da Baixada Santista.
Para os próximos anos, a expectativa é de que a base de clientes da distribuidora continue em expansão, puxada principalmente pelo residencial. Segundo Simões, o segmento representa boa parte dos 770 mil clientes que a empresa prevê adicionar no plano 2018-2024, aprovado pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp).
“É um movimento que já vem acontecendo e deve se acentuar. Temos que estar preparados para ativar essa base”, afirma o executivo. Atualmente, o mercado residencial corresponde a 5% do volume distribuído pela Comgás, mas tem uma participação importante nas margens, de mais de 30%.
Para impulsionar a captura de clientes e desenvolver o portfólio de serviços, a companhia vem investindo em tecnologia, digitalização e em iniciativas para “testar” o potencial e alcance de sua plataforma. Entre as experimentações conduzidas recentemente, Simões cita como exemplo o saldão digital para renegociação de dívidas e a parceria para oferecer o Picpay como opção para pagamento de contas. “Tem uma série de coisas que estamos testando para aprender”.
Já para os clientes industriais, mais representativos em volume para a distribuidora, os esforços são no sentido de “reformatar” a parceria, à luz das transformações no mercado de gás. Para o presidente da Comgás, a evolução do mercado livre não representa uma ameaça aos negócios. “O papel da distribuidora para o cliente industrial e comercial vai ficar muito mais forte. [Vamos] levar a molécula de A para B em segurança, com integridade de ativos, garantindo suprimento e oferecendo complementos, como é o caso do biometano”.
A companhia já tem em mente novas frentes de negócios. “Os clientes industriais estão pedindo soluções para redução de emissões de gases, e nós temos a possibilidade de ofertá-las. A substituição de diesel por gás e, futuramente, por biometano na frota de pesados é uma delas. A adição do biometano à minha base de suprimento é outra”.
Do lado do suprimento de gás, o executivo avalia que deve demorar alguns anos até que a distribuidora comece a reduzir a dependência da Petrobras. “Temos a possibilidade do terminal de GNL da Compass em Santos (SP), discussões com outros fornecedores de gás e o biometano, que vai ter uma escala crescente. O trabalho já começou, mas para ter uma representatividade no portfólio, deve levar pelo menos um ano e meio, dois anos”.
A Comgás também enxerga oportunidades em cogeração de energia a gás. “Há uma chance de expansão enorme, de parceria com indústrias e até negócios médios, como shoppings e hospitais. É uma aplicação que pode ficar muito fortes daqui para frente, principalmente com foco na segurança energética”.
Para 2021, a distribuidora tem visão otimista para os negócios, sustentada pela retomada vista nos volumes distribuídos à indústria e aos dois segmentos que foram mais prejudicados pela pandemia no ano passado, o gás veicular (GNV) e o comercial. Mas Simões pondera que, além do risco da pandemia, que segue presente, o país sofre agora com o risco energético.
“De todo modo seguimos confiantes, não estamos adiando nenhuma decisão de investimento”. No ciclo regulatório 2018-2024, estão previstos investimentos anuais de R$ 1 bilhão, e um aumento de 5,6 mil km de redes.
Para Simões, a Comgás é um modelo de sucesso e poderia ser replicado caso a Compass tenha sucesso na aquisição de 51% da Gaspetro, empresa pertencente à Petrobras que detém participações em 19 distribuidoras. “Acreditamos que o sucesso da Comgás possa ser replicado, e mais do que isso, o modelo do grupo Cosan, a cultura de resultados, de gestão e alocação de capital”.
Fonte: Valor Econômico