A Nimofast, desenvolvedora do projeto, assegurou o primeiro cliente — a comercializadora Migratio — e busca novos consumidores. Em paralelo, espera avançar nos próximos meses com a contratação de fornecedores. O terminal está previsto para 2025.
A empresa vive o desafio de tirar o projeto do papel, num momento de superaquecimento da demanda no mercado global de GNL. Aposta no fato de já ter um supridor de gás definido: uma das principais tradings do setor, cujo nome é mantido em sigilo por cláusulas de confidencialidade. O acordo foi assinado antes da guerra da Ucrânia e está sujeito ao cumprimento de algumas condicionantes atreladas ao desenvolvimento do projeto.
A Nimofast espera tomar a decisão final do investimento no primeiro semestre de 2023. A missão, agora, é captar novos clientes para o gás, conseguir os fornecedores das embarcações e avançar no licenciamento.
Nimofast mira cabotagem
A Migratio atua na comercialização de energia e desenvolvimento de projetos de biogás. A empresa paulista fatura cerca de R$ 400 milhões/ano e montou um braço de comercialização de gás natural. O acordo vinculante com a Nimofast prevê a aquisição de um volume de 1 milhão de m³/dia de gás natural.
A Migratio tem planos de monetizar o gás no varejo, com foco, sobretudo, em pequenos e médios clientes industriais e comerciais interessados em usar o insumo na cogeração, em projetos de 1 MW a 5 MW.
A estratégia de pulverização desse gás, muito baseada na substituição de combustíveis concorrentes, está amparada num modelo de distribuição de GNL de pequena escala, via carretas.
“O custo de transporte do gasoduto [o Gasbol, da TBG] é maior que o custo do transporte de GNL via rodoviário”, explica o diretor de Novos Negócios da Migratio, Fábio Saldanha.
Uma vez assinado o acordo com a Nimofast, a Migratio parte, agora, para o esforço comercial de captação dos clientes.
“A ideia é que, no momento em que a Nimofast tome a decisão final do investimento, nós já tenhamos consumidores compromissados com os volumes de gás”, espera Saldanha.
O CEO da Nimofast, Ramon Reis, conta que o contrato com o supridor de GNL está indexado ao Henry & Hub mais uma margem de logística fixa, definida antes da guerra – o que garante a competitividade do contrato.
A Nimofast também prospecta oportunidades de fornecimento à Compagas. O avanço das conversas esbarra, contudo, no atraso na renovação do contrato de concessão da distribuidora, que vence em 2024 – o que dificulta a assinatura de contratos de longo prazo, a partir de 2025.
A expectativa é que a concessão da Compagas seja renovada ainda este ano, para que a empresa seja privatizada em 2023.
Além disso, a Nimofast mira grandes distribuidoras de combustíveis interessadas em se posicionar no mercado de GNL de pequena escala – um exemplo é a Vibra Energia – e potenciais consumidores de outros estados, interessados em comprar gás por cabotagem. O plano é que o terminal do Paraná se consolide como um hub.
“Nosso FSU poderá receber barcaças de terceiros, para outros estados. É uma outra forma de comercialização. Um projeto termelétrico, muitas vezes, não é suficiente, sozinho, para encher um navio de 180 mil m3 todo mês, mas pode vir ao Paraná buscar volumes menores. Isso abre portas para que outros desenvolvedores de projetos”, comenta o CEO da Nimofast, Ramon Reis.
O projeto
O terminal de regaseificação da Nimofast foi projetado para 6 milhões de m³/dia. Ficará num porto, no município de Antonina.
Prevê uma unidade flutuante de armazenamento (FSU, na sigla em inglês) no mar, a cerca de 4 km do terminal, com capacidade para 180 mil m³ de GNL e responsável por receber as cargas trazidas pelos navios de transporte (LNG carriers).
Ao todo, a previsão é receber uma carga por mês, mas há potencial para até duas. O gás virá essencialmente dos EUA.
Uma vez abastecido o FSU, duas barcaças — de 20 mil m³ cada — farão a descarga desse gás até o porto, onde estarão os tanques e o sistema de distribuição de GNL de pequena escala. Assim, defende a Nimofast, não há necessidade de ampliação do calado do porto para recebimento dos carriers.
O investimento é estimado em US$ 100 milhões. A Nimofast vendeu uma participação de 65% do terminal para um grupo estrangeiro, que financiará o projeto. O nome do parceiro também não foi divulgado.
A Nimofast foi fundada por Ramon Reis, empreendedor que já atuou como consultor da trading suíça Gunvor. Ele é o CEO da empresa. Roland Van Assche, ex-diretor do Porto de Rotterdam, é o vice-presidente.
Guerra da Ucrânia afeta todo mundo
A turbulência do mercado global torna o timing para desenvolvimento de terminais de GNL desafiador. A Guerra da Ucrânia está mudando a dinâmica do mercado global.
Diante das sanções das potências ocidentais ao gás russo, fornecedores globais aceleram planos para aumentar a oferta de GNL ao mercado europeu. Os preços da molécula bateram recordes este ano e a demanda por infraestrutura está aquecida, em meio à corrida por novos projetos de regaseificação na Europa.
Reis conta que a Nimofast tinha negociações avançadas para contratação do FSU, mas as conversas foram impactadas após o início do conflito no Leste Europeu. O executivo, no entanto, vê melhoras no cenário do mercado (“preços se acalmaram”). “Os navios foram todos para a Europa. Mas a poeira baixou e, há dois meses, os fornecedores começaram a voltar [a entrar em contato]. Temos memorandos com duas empresas, para a conversão de um antigo carrier num FSU e para as barcaças”, afirma.
Fonte: Epbr
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