Foi assinado nesta sexta-feira (03) um convênio entre a indústria cerâmica e a sucroalcooleira para tornar possível o fornecimento às fábricas de biometano produzido nas usinas.
A meta da Anfacer é que dez fábricas do polo produtor de Santa Gertrudes (a 180 km de São Paulo) comecem a receber o gás entre o final de 2024 e o início de 2025. O fornecimento vai começar em 50 mil metros cúbicos por dia, inicialmente produzidos por uma única usina, segundo o Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), que também assina o convênio.
Para comparação, a indústria cerâmica do estado de São Paulo, responsável por 65% da produção nacional, consome 2,2 milhões de metros cúbicos de gás ao dia. O objetivo da Anfacer é que 50% desse consumo seja suprido com biometano até 2030.
Para Benjamin Ferreira Neto, presidente do conselho de administração da Anfacer, o uso do biogás pode ajudar na recepção do produto cerâmico nacional no exterior, impulsionado pelo movimento ESG. “Com as mudanças do mundo, podemos ampliar [o convênio] e fazer disso uma vantagem competitiva”, afirma. A entidade tem o objetivo de que o setor passe dos atuais 13,3% de exportações, registrados em 2022, para 30% também até 2030.
O consumo de gás natural é responsável por 30% a 35% dos custos de produção da indústria cerâmica. Inicialmente, o biometano não deve ser mais barato, mas há a expectativa de queda de preço ao longo do tempo.
A opção por utilizar biogás vindo da cana de açúcar foi geográfica. O polo de Santa Gertrudes fica em uma região paulista com muitas usinas de açúcar e álcool, pelo menos 30 em um raio de 100 quilômetros, segundo Ferreira Neto.
O setor sucroalcooleiro já utiliza o bagaço da cana para a produção de energia, mas Flavio Castellari, diretor-executivo do Apla, explica que a fabricação do biometano é feita com a vinhaça, um resíduo líquido da produção de álcool, e a torta de filtro, mistura de bagaço e lodo que resulta da filtração do caldo da cana.
Esses resíduos são usados hoje para irrigação e adubação dos canaviais, mas essa função não será perdida, afirma Castellari. “A produção do biometano afeta muito pouco o volume de água, e os minerais são mantidos na mesma proporção de antes da biodigestão”, diz.
O diretor destaca ainda que o setor conseguirá produzir biogás mesmo fora da safra da cana, porque são resíduos armazenáveis, e produzidos em grande quantidade — para cada litro de etanol fabricado, resultam de 11 a 12 litros de vinhaça.
Ele compara o potencial de produção energética dos canaviais, com etanol, energia elétrica a partir do bagaço (biomassa) e biogás, a um “Oriente Médio verde”.
Fonte: Valor Online