Segundo reportagem do portal epbr,
O Nordeste funciona, hoje, como primeiro grande laboratório da abertura do mercado de gás natural do Brasil.
O Nordeste concentra o maior número de novos fornecedores e, não à toa, pratica, na média, os preços de molécula mais competitivos do país.
Aos poucos, no entanto, o movimento de abertura vai se espalhando pelo país. E o Nordeste, conseguirá sustentar sua vantagem competitiva atual?
Por que a região saiu na frente das demais regiões, na atração dos novos agentes?
Por que o Nordeste
Vou me permitir um preâmbulo na newsletter de hoje, ao som de Jorge Ben: “Êêê Bahia, Bahia de São Salvador”.
A Bahia é o berço do Brasil, afinal. Foi no litoral baiano que a armada de Pedro Álvares Cabral atracou, em abril de 1500, no território atualmente conhecido como Brasil (à época denominada Ilha de Vera Cruz).
À Bahia coube também o papel histórico do berço da indústria de gás do Brasil, na década de 1940. E, mais recentemente, é a partir do mesmo estado que a abertura do mercado de gás começa a se solidificar no país.
Da mesma forma como hoje historiadores contestam a versão de que Cabral chegou ao Brasil por acaso, o pioneirismo do Nordeste na abertura do mercado de gás também tem suas raízes.
Nas palavras do presidente da Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto, a região largou na frente devido a uma combinação de fatores conjunturais e vantagens naturais:
- O Nordeste abriga a maioria dos campos onshore vendidos pela Petrobras para operadores privados. E muitos desses campos se conectam diretamente à malha das distribuidoras locais, sem necessidade de acesso aos gasodutos de transporte;
- A Petrobras, frente aos altos custos para importar gás durante um ano hidrologicamente difícil, decidiu, em 2021, retirar suas propostas da mesa, para novos contratos com as distribuidoras nordestinas, abrindo espaço para a concorrência explorar a janela de oportunidade aberta pela descontratação da maioria das concessionárias locais;
- Do ponto de vista conjuntural, a TAG saiu na frente da NTS, ao disponibilizar contratos firmes para contratação de capacidade disponível do sistema.
- e a migração das fábricas de fertilizantes da Unigel para o mercado livre foi crucial para agilizar a abertura de capacidade da malha para terceiros.
Nordeste deixa de ser altamente concentrado
Todos esses fatores contribuíram para a entrada de novos fornecedores na região.
3R Petroleum, Alvopetro, Equinor, Galp, Origem Energia, New Fortress, PetroReconcavo e Shell operam, hoje, no mercado nordestino, em contratos com as distribuidoras locais e consumidores livres.
Além deles, a Eneva também prepara sua estreia em 2024 como fornecedora de GNL para indústrias no Maranhão.
A ANP considera que o Nordeste passou a ser um mercado moderadamente concentrado. Situação diferente das demais regiões. Com mais competidores, os preços da molécula comercializada no Nordeste também são melhores.
De acordo com os dados mais atualizados da ANP, de janeiro deste ano, as distribuidoras e consumidores livres da região pagam, em média, R$ 76,2 pelo milhão de BTU. É 15,8% a menos que os valores pagos no Sudeste. E 17,9% a menos que no Sul/Centro-Oeste.
Uma situação bem diferente daquela vivida na região nas décadas passadas, quando as distribuidoras locais conviviam com desvantagens competitivas com as concessionárias do Centro-Sul que consumiam gás boliviano.
Institucionalmente, as produtoras independentes têm se posicionado como fornecedores de um gás competitivo que pode mudar a capacidade do Nordeste de atrair investimentos no setor industrial.
Um novo equilíbrio no mercado
Aos poucos, porém, os novos fornecedores começam a explorar novos mercados. E o papel de protagonismo do Nordeste na abertura do mercado tende a ceder espaço para o Centro-Sul.
Galp (ES Gás, Gasmig, Sulgás e SCGás) e Shell (Gerdau) já fecharam seus primeiros contratos no Sudeste e no Sul.
Moreira Neto destaca que, à medida que a regulação do mercado avançar, as malhas de gasodutos da TAG, NTS e TBG tendem a ser integradas — facilitando a movimentação de gás entre diferentes regiões.
Atualmente, o empilhamento de tarifas entre os sistemas das diferentes transportadoras inibe a integração do mercado.
“O destino natural da modelagem tarifária da entrada e saída é a integração total entre as malhas. Hoje elas são ligadas fisicamente, mas o cálculo tarifário não é integrado”, afirma.
E aí se a tarifa de transporte deixar de ser um diferencial tão grande assim, a tendência é haver mais competição pelo gás do Nordeste.
Muitos produtores do pré-sal aproveitaram a janela do Nordeste, mas, quando esses contratos acabarem, abre-se uma oportunidade para recontratarem seus volumes no Sudeste.
“O mercado consumidor, de fato, está em sua maior parte no Sudeste”, comenta o CEO da Gas Energy.
Fonte: Epbr