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Petrobras torna estratégia de preços arbitrária, mas evita intervenção política maior, avaliam analistas

A nova estratégia de preços para gasolina e diesel divulgada pela Petrobras nesta terça (16), em substituição à antiga política de paridade internacional (PPI) adotada desde 2016, foi bem aceita pelo mercado, com as ações da estatal subindo mais de 3%. A visão dos analistas que acompanham a empresa é que o novo mecanismo é pior do que o anterior, mas ainda assim afastou a possibilidade do pior cenário possível que seria a volta de uma intervenção mais profunda do governo federal nos negócios diários da companhia.

A Petrobras agora vai adotar o custo alternativo do cliente como valor a ser priorizado na precificação, ou seja, as principais alternativas de suprimento, sejam fornecedores dos mesmos produtos ou de produtos substitutos. Além disso, o valor marginal para a companhia também será considerado no cálculo, baseando-se no custo de oportunidade dadas as diversas alternativas para a companhia, dentre elas produção, importação e exportação dos produtos ou petróleos utilizados no refino.

A ausência de critérios objetivos em como a definição dos preços da gasolina e do diesel será adotada chamou a atenção do Goldman Sachs, impedindo uma avaliação dos impactos nas finanças da Petrobras, notando que pelo menos o anúncio feito pela empresa parece elementos de mercado na composição dos índices. Os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins escrevem que a estratégia de preços mais localizada visando manter o mercado balanceado pode limitar o alcance do que a companhia pode fazer.

 “As incertezas envolvendo a direção das políticas de preços, dividendos e investimentos permanecem elevadas, mas as notícias recentes dão conta que o pior cenário esperado por alguns dos investidores não deve mais acontecer”, pondera o banco. Mercados mais dependentes de importação de refinados, como Norte, terão menos espaço para ajustes nos preços, enquanto no Sul e Sudeste, mais próximos às refinarias, a Petrobras poderá agir com maior afinco.

O UBS BB tem uma avaliação mais positiva das mudanças, ponderando que a nova estratégia dá à Petrobras maior flexibilidade para o comitê gestor de preços, sem as restrições, freios e contrapesos proporcionados pelo modelo anterior, evitando grandes mudanças de preços e permitindo que a companhia consiga reter parte das suas margens de refino. Os analistas Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos afirmam a empresa tem um intervalo onde pode precificar os combustíveis sem incorrer em perdas.

“O risco é que, para algumas localidades, a Petrobras possa considerar as margens integradas como custo marginal de suprimento (considerando não apenas as margens de refino, mas também aquelas relacionadas à exploração e produção). Essa lacuna é significativamente maior enquanto estimamos ganhos domésticos integrados acima de US$ 60/barril em nossa curva de preços”, pondera o banco suíço.

Para a XP, a precificação da gasolina e do diesel pouco deve mudar na prática, destacando que o anúncio feito pela Petrobras é “opaco” e sem muitos detalhes, lembrando que a companhia não realizou mudanças nos seus estatutos e ela ainda é vinculada a leis que obrigam aderência à critério de governança.

Os analistas André Vidal e Helena Kelm afirmam que, em última instância, a diretoria da estatal ainda precisa agir de forma a maximizar geração de valor. “No final, achamos que o preço da refinaria da Petrobras pode cair alguns centavos em alguns pontos de entrega, mas não mudará de maneira significativa”, comenta a corretora. O ponto marginalmente positivo é que se elimina uma das fontes de riscos envolvendo suas ações, o que explica a valorização dessa terça-feira. Outros temas, como a política de pagamento de dividendos e investimentos continuam pendente de resolução.

Já os analistas Gabriel Barra, Andrés Cardona e Joaquim Alves Atie, do Citi, escrevem que a companhia precisa responder como vai resolver eventuais cenários de desabastecimento de combustíveis e definir custo marginal na sua nova estratégia de preços. Eles lembram que o Brasil importa cerca de 25% do diesel que consome e o abandono da paridade com os preços internacionais pode causar desequilíbrio neste mercado.

 “Se a Petrobras colocar o preço abaixo da paridade internacional, há duas soluções possíveis, a companhia vai bancar o custo de importar todo o combustível ou deixar o Brasil enfrentar desabastecimento”, comentam. A questão do custo marginal, um dos fatores que a Petrobras irá utilizar na precificação da gasolina e do diesel, também precisa ser bem definida para evitar riscos de estouro nas contas da empresa. O banco cita que a Petrobras precisa divulgar o que ela vai considerar como custo marginal.

Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, os termos apresentados pela estatal são vagos. “O mercado se anima porque não teve um cavalo de pau: não houve represamento de preços, não teve subsídio a preços de importação, não houve nada rígido, mas existem termos vagos e trazem mais assimetrias que podem causar distorções nos preços.” Os preços internacionais ainda serão considerados, sendo um componente dentro das múltiplas partes que podem ser contempladas pela Petrobras com a nova estratégia. Para o analista, agora há uma flexibilidade maior para que se pratique preços mais baixos, o que é facilitado pelo cenário atual, em que o preço do petróleo Brent ronda os US$ 70 o barril. “A dúvida agora é quando houver uma escalada do petróleo, quando os preços subirem, se haverá uma chance de arbitragem maior por parte dos pares que importam. Nós vamos entender melhor essa política quando o preço do Brent estiver volátil. Isso traz preocupação”, comenta.

A avaliação do Bradesco BBI é semelhante, a Petrobras trocou o critério objetivo da paridade internacional por diretrizes subjetivas, o que impossibilita o rastreamento do mercado. No entanto, uma mudança nesse sentido já era esperada. “É provável que os aumentos sejam arbitrários e potencialmente justificados pela busca de paridade de exportação de longo prazo”, escrevem os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka. “Se as variáveis macro estiverem ‘estressadas para cima’, a Petrobras não repassará a volatilidade para o mercado doméstico, deixando o caixa na mesa”, pondera o banco.

Os analistas dizem ainda que, para os investidores que esperavam que a atual gestão cortasse os preços de forma brusca e abrupta, a nova estratégia comercial parece sugerir o contrário. O anúncio de uma “precificação competitiva” garante que a companhia consiga manter um patamar de sustentabilidade financeira.

Fonte: Valor Online

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