O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou nesta quinta (22) que a estatal “não tem interesse em sonegar” a oferta de gás natural à economia brasileira. A declaração ocorre em meio a um embate da direção da companhia com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Na semana passada, Silveira criticou a estatal em razão da política em vigor para o combustível no país. “O que obviamente tem de ficar claro é que a Petrobras não tem interesse em sonegar gás à economia brasileira”, disse Prates. Segundo ele, o Brasil “não tem gás para todos os segmentos” que demandam o insumo ao mesmo tempo, como térmicas, produtores de fertilizantes e consumidores residenciais. “Não temos reserva para tudo isso”, declarou Prates.
Em um evento no Rio na semana passada, Silveira fez críticas à reinjeção de gás natural nos poços produtores em alto-mar, defendendo que esse combustível chegue ao continente para auxiliar a atividade industrial. “Os Estados Unidos reinjetam 12,5% [do gás] para poder produzir e impulsionar a produção de petróleo. A África reinjeta 23,9%. A Europa, 24,7%, e o Brasil reinjeta 44,6%”, afirmou o ministro na ocasião. “Sem uma explicação, e até agora não conseguiram mostrá-la, é uma reinjeção completamente desproporcional”, acrescentou. Nesta quinta, Prates disse que a reinjeção é “fundamental” para a produção de petróleo no país. “Se você não injetar, nos campos do pré-sal, cai a produção tremendamente, em volumes bastante significativos”, afirmou. Sem citar o nome do ministro, o presidente da Petrobras disse que “já é um erro” alegar que o Brasil tem uma reinjeção acima da média mundial. “Não existe uma média mundial de injeção. Há petróleo que sai espontaneamente. Há petróleo na Arábia Saudita que nem gás tem”, disse.
Em outro trecho da entrevista, Prates afirmou que o Brasil até tem condições de ampliar a produção de fertilizantes, mas que “não adianta só berrar pelo jornal”. “Não adianta nem careta, nem sorriso. O que adianta é trabalhar junto, convergir, e, principalmente, para um governo, adianta eleger prioridades”, disse o presidente da Petrobras. “Sem gás para todos os segmentos, e há segmentos que podem ter combustíveis substitutos, vamos trabalhar o mix em vez de criar polêmica onde não existe”, acrescentou. Depois, Prates ainda mencionou que a Petrobras vai trabalhar em conjunto com o Ministério de Minas e Energia e outros órgãos. As declarações ocorreram em uma entrevista para o anúncio de um acordo de cooperação entre a petroleira e o BNDES. O presidente do banco, Aloizio Mercadante, esteve ao lado de Prates durante o evento. O acordo de cooperação entre as instituições determina a criação de uma comissão para avaliar temas como transição energética, inovação e reindustrialização.
Fonte: Folha de S.Paulo Online