O Ministério de Minas e Energia (MME) e a Petrobras travam mais um capítulo da disputa pelo gás natural. Nesta sexta (14), o MME enviou nota na qual voltou a criticar a política da estatal para o gás, dizendo que as médias de reinjeção de gás da Petrobras são superiores aos volumes de outros países. “As médias de reinjeção da Petrobras estão superiores às médias em outros países, sendo de 12,5% na América do Norte, 21,5% na Europa e na Ásia, 23,3% na África, enquanto no Brasil é de 45,4%”.
O posicionamento do MME vem um dia depois de a Federação Única dos Petroleiros (Fup) divulgar um estudo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep) sobre a possibilidade de aumento de oferta de gás no país. Segundo o Ineep, as reservas de gás natural brasileiras possuem baixos volumes e não seria possível aumentar a oferta com a redução da reinjeção. A divulgação da Fup veio no mesmo dia em que o líder do MME, Alexandre Silveira, se encontrou em Brasília com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na nota desta sexta (14), o ministério defende também que o país teria maior oferta de gás natural caso as obras de infraestrutura fossem concluídas no prazo. “Gás natural da Petrobras é o mais caro do país e falta de investimentos contribui para aumentar importações do gás de cozinha”, diz o comunicado do ministério liderado por Silveira. A Petrobras vende o gás natural com preços médios de US$ 14,65/MMBtu no “city gate”, segundo o MME, enquanto a Origem em Alagoas vende a US$ 8,80/MMBtu.
As companhias de petróleo, especialmente a Petrobras, devolvem ao subsolo parte do gás extraído para retirar mais petróleo dos poços. A prática da reinjeção pode resultar em até 20% a mais de petróleo – em torno de sete vezes mais valioso comercialmente do que o gás. Mais petróleo produzido, dizem fontes ouvidas pelo Valor, representa mais royalties e participações especiais. Conforme apuração do Valor, a Petrobras reinjeta cerca de 52% do gás produzido.
A produção de gás no Brasil é majoritariamente associada à produção de óleo, o que exige o processo de separação. No Brasil, o custo associado à separação e ao transporte do gás vindo da produção “offshore” encarece o produto, se comparado a países que tem volumes maiores de reserva em terra, em que o custo da exploração é mais baixo, segundo apurou o Valor. A Origem, por exemplo, opera campos de gás “onshore”.
O Brasil tem registradas 12 trilhões de pés cúbicos (TCF) de reservas provadas de gás natural em 2022, contra cerca de 400 TCFs dos Estados Unidos, 870 TCFs do Catar e 1.321 TCF da Rússia, maior exportador de fertilizantes e um dos principais agentes do mercado global de gás natural, entre outros países.
Procurada pelo Valor, a Petrobras não quis comentar.
Entre as obras de infraestrutura citadas pelo MME na nota estão: unidade de processamento de gás natural (UPGN) do Gaslub, que, segundo o ministério, é “fundamental para início da operação do gasoduto Rota 3” e tem obras atrasadas em sete anos; projeto de Sergipe Águas Profundas, que “representa oferta adicional de até 18 milhões de m³ por dia” e teve obras atrasadas de 2026 para 2027; adaptações da UPGN de Caraguatatuba, com previsão de fim de obras de ampliação para 2024.
“O mercado brasileiro não teve etano disponibilizado para indústria química e GLP (gás de botijão) para população mais pobre cozinhar alimentos. Assim, deixou-se de exportar gás de Tupi e a Petrobras precisou pedir waiver da especificação de gás natural junto à ANP”, diz a nota do MME.
“A não conclusão e os atrasos dos empreendimentos demonstram o baixo interesse em viabilizar o mercado de gás natural no Brasil”.
Conforme apuração do Valor, a Petrobras vai investir US$ 5 bilhões em projetos para ampliar a capacidade de produção de gás natural e reduzir a dependência de importação. As novas infraestruturas agregarão uma capacidade de cerca de 50 milhões m³/dia na oferta de gás nacional.
Segundo o ministério, “os valores elevados para escoar e processar o gás natural na UPGN no sistema Petrobras inviabilizam o desenvolvimento de projetos de gás natural no Brasil e a economicidade”.
Fonte: Valor Online
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