A estratégia da Petrobras, de recorrer desde o fim de 2022 a contratos de fornecimento de longo prazo com as distribuidoras de gás canalizado, já garantiu à petroleira um consumo firme da ordem de 10 milhões de m3/dia para o seu gás natural, na virada da década. O volume equivale a cerca de 13% de toda a demanda de gás firme (não termelétrica) prevista pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para o início dos anos 2030, dentro da malha integrada de gasodutos. A expectativa, porém, é que novos contratos sejam anunciados nos próximos meses, ampliando ainda mais esse market share. A estatal assinou, nos últimos dois meses, novos acordos de suprimento com a Comgás (SP), Copergás (PE) e SCGÁS (SC). São os primeiros contratos com as novas condições comerciais, lançadas pela gestão Jean Paul Prates: totalizam 10,65 milhões de m3/dia no pico (em 2024) e 6,4 milhões de m3/dia ao fim do horizonte (2031-2034). E se somam aos contratos 2024–2032, assinados pela Petrobras entre o fim de 2022 e início deste ano – com outras condições comerciais, mas que marcaram a mudança de rota da estatal, que até então praticava acordos de curto e médio prazos.
Importantes contratos de fornecimento de gás da Petrobras com as distribuidoras vencem no fim deste ano: eles somam 19 milhões de m3/dia. O fim dessa leva de contratos (2020-2023) abriu uma nova janela de negociações com as concessionárias estaduais, para recontratação dos volumes disponíveis. Essa janela, contudo, acontece num momento novo, de abertura do mercado de gás no Brasil. Embora ainda seja um agente dominante, a petroleira passou a contar com concorrentes e lançou, nos últimos meses, novos produtos (mais opções de combinação de prazos contratuais e indexadores) e baixou preços.
Os novos contratos com a Comgás, Copergás e SCGÁS vieram com condições mais favoráveis que aqueles praticados pela Petrobras nas suas últimas levas – e que os preços praticados pela concorrência, em alguns casos. Os acordos de onze anos fechados com as três distribuidoras preveem que o percentual do Brent (cotação do petróleo) ao qual o preço do gás está indexado será de 11,9% – exceção feita a um dos dois contratos da SCGÁS (2026-2034), de 11,6%. Alguns dos acordos (Copergás e SCGÁS), porém, têm indexação mista a partir de 2026, com uma parte da precificação associada ao Brent e outra a 115% do Henry Hub. Internamente, fontes da Petrobras estimam que os preços da molécula devem oscilar entre US$ 9 e US$ 10 o milhão de BTU a partir de 2024, a depender da cotação do petróleo. Isso significa, nas contas do UBS BB, um ganho de competitividade em relação aos patamares atuais de US$ 11,5 por milhão de BTU, dos contratos mais caros da estatal (2022-2025). Nada, porém, muito diferente dos patamares históricos da petroleira – e muito menos um choque de gás barato.
Maior cliente da Petrobras, a distribuidora paulista optou por uma curva decrescente de compromissos de retirada de gás. O atual contrato com a estatal, válido até dezembro, prevê a aquisição de 12,5 milhões de m3/dia, mas já a partir de 2024 esse volume começa a cair. O novo contrato da companhia com a Petrobras começa em 9,5 milhões de m3/dia em 2024 e cai ano após ano, até se estabilizar em 4,75 milhões de m3/dia entre 2031-2034. A concessionária mira as oportunidades da abertura do mercado. Este ano, aliás, a entrada em operação do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP), de sua controladora, a Compass, já garante o início de uma diversificação da base de supridores da companhia. A Copergás optou, por sua vez, por um contrato sem oscilações, com contratação firme de 700 mil m3/dia até 2034. Já a SCGÁS fechou dois acordos com a Petrobras, com previsão de entrega de 450 mil m3/dia em 2024; 638 mil m3/dia em 2025; e 950 mil m3/dia entre 2026 e 2034. Vale lembrar que a concessionária catarinense já possuía outros acordos, incluindo um contrato até 2032, com a petroleira – o que justifica, em parte, os volumes mais baixos no início dos novos contratos.
A nova safra se soma a outros contratos de longo prazo (até 2032) assinados pela Petrobras entre o fim do ano passado e início de 2023, com as distribuidoras Cegás (CE), Compagas (PR), ES Gás (ES), Gasmig (MG), Potigás (RN), SCGÁS (SC) e Sulgás (RS). Somando-se esses contratos aos mais recentes, com a Comgás, Copergás e SCGÁS, a Petrobras já tem garantida uma demanda de 10,3 milhões de m3/dia em 2030. Esse volume cai para 9,8 milhões de m3/dia entre 2031-2032 e para 6,4 milhões de m3/dia entre 2033-2034. Os efeitos sobre o mercado: Para além da questão do preço – a Petrobras funciona como um importante formador, estabelecendo as condições de base para os demais supridores – os novos contratos de longo prazo têm um outro impacto sobre a concorrência: ajudam a estatal a “travar” um mercado consumidor, diante das perspectivas de abertura do setor. É bem verdade que os acordos mais recentes incluem mecanismos de flexibilização que permitem às distribuidoras reduzirem os volumes contratados ao longo da vigência dos contratos – mas as regras têm seus pisos.
Fonte: Epbr
Related Posts
Petrobras: produzir fertilizantes exigirá 30 mi de m³ de gás por dia
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que a produção de fertilizantes nitrogenados no Brasil exigiria um volume de 30 milhões de m³/dia de gás natural caso o país optasse por suprir toda a...
Queda do barril pode ajudar negociações para destravar importação de gás da Argentina
A queda no preço do barril de petróleo pode criar uma oportunidade para negociar aspectos que dificultam o comércio de gás natural entre Brasil e Argentina e, assim, dar condições mais vantajosas para a...