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Pátria estuda saída da térmica Marlim Azul

Primeira termelétrica a gás natural a funcionar 100% do tempo e a utilizar o gás do pré-sal, Marlim Azul está prestes a entrar em operação comercial, depois de cinco anos de implantação. A usina, que pertence à Arke Energia, empresa controlada pelo Pátria Investimentos (50,1%), Mitsubishi (20%) e Shell (29,9%), está em fase de testes antes de injetar energia na rede. Marlim Azul precisa estar em operação em novembro, por causa da inflexibilidade, e a expectativa da Arke é que a operação comercial seja efetivada até o fim de setembro.

Embora majoritário no negócio e apesar do modelo de operação considerado inovador no setor de energia elétrica, o Pátria já estuda a saída do empreendimento. O modelo de negócios do Pátria Investimentos é de aplicar recursos de fundos em projetos com prazos mais longos de retorno. Porém, no caso de Marlim Azul, o fundo que aportou recursos foi o Pátria III, criado em 2015, com prazo de 12 anos, explicou o presidente da Arke Energia, Bruno Chevalier. O Pátria III é diferente de outros fundos, como o “Evergreen”, que não tem prazo determinado e remunera pela operação dos ativos, com menores retornos e prazos mais longos. “A gente não tem muito prazo para ficar, temos que devolver dinheiro aos acionistas”, disse Chevalier. De acordo com o executivo, a termelétrica de 484 megawatts (MW) já possui a licença de operação e aguarda apenas o parecer do Operador Nacional Sistema Elétrico (ONS) e um despacho da Anee) autorizando a usina a operar comercialmente. A usina venceu leilão de energia realizado em 2017 por um preço de energia da ordem de R$ 85 por megawatt-hora (MWh). O modelo de negócio baseou-se na adoção da inflexibilidade entre novembro e maio, durante o período de chuvas. No restante do ano ela pode ou não ser chamada a operar pelo ONS.

Ao optar pela inflexibilidade durante o período chuvoso, a usina garantiu o direito de gerar energia mesmo na época em que, geralmente, os reservatórios das hidrelétricas estão mais cheios, com menor demanda por energia térmica. Como o preço da energia vendida por Marlim Azul no leilão de 2017 foi relativamente baixo quando comparado com outras térmicas, a probabilidade de a usinar ser chamada a operar no período seco – maio a novembro – é maior.

Sendo assim, Marlim Azul garantiu, em tese, um período maior de operação ao longo do ano. Isso se mostra fundamental, uma vez que os contratos de compra de gás natural são do tipo “take or pay” ou “ship or pay”, o que significa que ela terá que pagar pelo gás mesmo quando não estiver gerando energia elétrica. Segundo Chevalier, esse modelo foi necessário porque Marlim Azul usa o gás do pré-sal, que é extraído junto com o petróleo. Por ser associado ao óleo, o gás precisa ser consumido imediatamente e para isso, a térmica tem que ter um desenho de operação que permita o uso contínuo do gás. “Esse gás é barato, é competitivo. Dar uso a esse gás é bom para o país”, disse Chevalier. Marlim Azul tem contratos de fornecimento de energia firmados com 25 distribuidoras e aguarda uma decisão da Aneel sobre atrasos no cronograma de implantação da usina por seis meses. A pandemia retardou o início das obras: dez dias depois de assinar com a espanhola Cobra contrato para construir a usina, a prefeitura de Macaé determinou medidas de distanciamento social que impediram a execução das obras. Chevalier conta que chegou a contatar a Aneel antes mesmo de ter o cronograma atrasado, mas foi orientado a voltar à agência quando o atraso se configurasse. Na ocasião, a empresa enxergava uma parada de 206 dias.

Com o estouro do cronograma (Marlim Azul deveria operar comercialmente no início deste ano), a empresa pediu extensão da outorga. Enquanto isso, Marlim Azul compra energia no mercado para entregar às distribuidoras. Por operar em teste, a energia gerada pela usina é remunerada pelo preço de liquidação das diferenças (PLD), usado como referência no setor, que gira em R$ 67/MWh. “Isso não tem, basicamente, nenhum impacto, porque não pedimos [compensação pelo] atraso e sim a extensão do contrato. A gente não pediu para iniciar mais tarde. Fomos no mercado buscar energia”, disse Chevalier.

A operação da usina será feita pela EDF Brasil, a primeira sem a participação acionária da empresa francesa. A entrada da usina com esse modelo de geração se dá num momento em que o setor elétrico discute a operação do sistema com usinas que garantam a estabilidade da malha de transmissão diante da crescente entrada de eólicas e solares, fontes renováveis com produção variável de eletricidade, especialmente após o apagão ocorrido em meados de agosto.

Fonte: Valor Econômico

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