Trabalhadores de duas grandes plantas de gás natural liquefeito (GNL) da Chevron, na Austrália, iniciaram, na sexta (08), algumas paralisações parciais e se preparam para escalar para uma greve geral, de duas semanas, nas instalações Gorgon e Wheatstone a partir da próxima quinta (14). A Austrália é, ao lado do Catar e EUA, um dos maiores exportadores de GNL do mundo e o impasse trabalhista tem aumentado a volatilidade nos preços internacionais do gás, nas últimas semanas.
O que está acontecendo na Austrália?
A Chevron vive um impasse nas negociações com a Offshore Alliance, aliança entre o Sindicato dos Trabalhadores Australianos e o Sindicato Marítimo da Austrália, sobre salários e condições trabalhistas. Em agosto, o grupo sindical chegou a um acordo preliminar com a Woodside Energy para evitar uma possível greve em três plantas de liquefação offshore. A Chevron, contudo, não vê perspectivas de acordo e apelou a uma arbitragem para contornar a greve. A empresa pediu à Comissão de Trabalho Justo da Austrália que interviesse para resolver a disputa. Uma audiência foi marcada pela Comissão para 22 de setembro.
Qual o peso da Austrália para o mercado global?
A Austrália foi, em 2022, líder nas exportações globais de GNL, com 80,9 milhões de toneladas – um market share da ordem de 20%, de acordo com a União Internacional do Gás (IGU, na sigla em inglês). Gorgon e Wheatstone respondem, juntas, por mais de 5% do fornecimento global. Os principais destinos do GNL da Austrália são o Japão, China e Coreia do Sul. Riscos na oferta de gás do país, no entanto, mexem com o humor em outros locais, num mercado apertado – sobretudo em meio ao aumento da demanda europeia, após a guerra da Ucrânia.
Como o mercado reage ao risco da greve?
Os preços do GNL têm reagido aos riscos de uma paralisação na produção na Austrália. Desde o dia 8 de agosto, quando os trabalhadores da Woodside votaram a favor da greve – contornada posteriormente, após negociações entre a categoria e a empresa – o TTF, preço de referência do gás na Europa continental, acumula uma valorização de 14,7%, enquanto o JKM, referência na Ásia, saltou 22,2%. Na Europa, os preços começam a ceder nesta terça, em meio às perspectivas de uma audiência no dia 22. A situação atual, porém, está muito longe da pressão inflacionária com que o mercado de GNL conviveu nos últimos dois anos – sobretudo em 2022, com a guerra da Ucrânia. No pico, em agosto do ano passado, o TTF chegou a atingir os 339 euros por MWh – ante o nível atual de 35 euros por MWh. Para analistas do mercado, a expectativa é que a greve tenha um impacto limitado sobre a oferta nas primeiras semanas, cita a S&P Global Commodity Insights. O corte só teria um peso maior, se houver um prolongamento das paralisações. A Fitch Ratings destaca que os elevados níveis de estocagem de gás na Europa deverão ajudar a amortecer o impacto a longo prazo da greve na Austrália sobre o continente. A combinação desse cenário com a demanda europeia fraca reduz os riscos de um pico de preços, complementam analistas da Engie EnergyScan. Embora espere que o impacto das paralisações na Austrália seja temporário, a Fitch pontua que a volatilidade será a tônica dos preços do gás.
E o Brasil sofrerá algum impacto?
A Austrália não é uma fonte de suprimento usual do mercado brasileiro – mais impactado pela dinâmica do mercado da Bacia do Atlântico. Nos Estados Unidos, o preço de referência local (o Henry Hub), por exemplo, pouco oscilou no último mês. Uma crise no mercado asiático e europeu, contudo, tem efeitos indiretos sobre o Brasil: se a oferta da Austrália for reduzida, os compradores asiáticos poderão recorrer a outros fornecedores de GNL, concorrentes da Europa, durante a greve – o que estimula a volatilidade temporária dos preços spot (curto prazo) no mercado. É verdade que o Brasil não é uma ilha: em 2022, por exemplo, a Petrobras aumentou os preços do mercado doméstico, de forma a refletir o aumento dos custos de importação do GNL – que, desde 2021, já convivia com pressões inflacionárias. Mas a situação, este ano, é bem diferente: o consumo de GNL do Brasil está 85% mais baixo este ano, em relação a 2022, no acumulado do ano até julho, de acordo com dados da ComexStat, devido à menor demanda termelétrica. “Movimentos com impacto de curto prazo nos índices do mercado de gás terão sempre efeito limitado por aqui em anos como 2023: reservatório cheios e despacho térmico mínimo. Em regra geral, não sentiremos efeitos relevantes do que está acontecendo na Austrália”, frisa o presidente da Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto. As termelétricas são as principais consumidoras do GNL importado no Brasil.
Fonte: Epbr
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