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Biometano pode gerar ao Brasil R$ 200 bilhões por ano em 2050

A produção de biometano pode render ao Brasil quase R$ 200 bilhões por ano em 2050, movida pela crescente penetração no mercado em substituição do gás natural. A constatação faz parte de um estudo da consultoria alemã Roland Berger, que estima que o energético poderá atingir 39 bilhões de m3 de volume de vendas ao ano. Já o potencial de produção estimado é ainda maior e pode ir a 59 bilhões de m3 por ano, impulsionado pela grande quantidade de resíduos agroindustriais disponíveis nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Em termos comparativos, o número supera a extração de gás natural realizada em 2020, que foi de 45,9 bilhões de m3, de acordo com dados da ANP. O biometano, ou gás natural renovável, é obtido a partir da purificação do biogás, uma mistura de gases que têm como origem o processo natural de decomposição de resíduos orgânicos em ambientes onde não há troca de ar – a digestão anaeróbica.

O insumo energético é apontado como alternativa para a substituição sustentável aos combustíveis fósseis, em especial ao gás natural, e tem alto potencial para descarbonizar diferentes setores como o de bens de produção, eletricidade e transportes. O gerente de projetos sênior da Roland Berger, João Martins, explica que o insumo é algo atrativo no Brasil, que depende muito do gás natural para fins industriais e residenciais. “A previsão é que, até 2050, a demanda doméstica por produtos de gás natural e derivados deverá crescer de forma constante, atingindo cerca de 80 bilhões de m3. Já a penetração de mercado do biometano no Brasil, atualmente em apenas 4%, tem potencial de aumentar para 10% até 2030 e 50% até 2050”, aponta Martins. Desse total, a maior parte pode ser consumida pelo setor industrial com a geração de calor (caldeiras, fornos), seguida pelo setor elétrico, como usinas termelétricas, que podem substituir gás natural convencional por biometano, e finalmente uma fração menor no transporte – a frota movida a gás natural veicular (GNV). “O investimento em biometano serve para aproveitar a infraestrutura e a cadeia de valor que já existe do gás natural, seja na eletricidade, no calor industrial ou no transporte”, diz. A Roland Berger não acha provável que a rota de produção do energético passe de maneira imediata pela substituição do diesel.

Este ponto diverge da Abiogás, que acredita que o desenvolvimento do energético passará, sim, no curto prazo pela substituição do diesel. O ponto que as entidades convergem é que o desenvolvimento desta rota de produção se dará em três frentes: agropecuária, saneamento e setor sucroenergético. O crescimento da produção de biometano no Brasil se acentua a partir de 2016 paralelo com o avanço da regulação, que, entre outras coisas, constatou a intercambialidade do energético com o gás natural e a possibilidade da mistura da molécula nos dutos de gás natural. Mesmo assim, a produção hoje é de apenas 182 milhões de m3 por ano. Para a gerente executiva da Abiogás, Tamar Roitman, o avanço da regulação foi necessário, mas não suficiente, já que atualmente só seis plantas comercializam biometano. A expectativa da executiva é que em 2029 serão 87 plantas. O que explica isso é que o atributo ambiental está puxando a demanda para a descarbonização. No estudo, São Paulo é o estado com maior potencial produtivo anual, com 18,1 bilhões de m3. Em seguida vem Minas Gerais (7,5 bi m3), Goiás (6,9 bi m3) e Mato Grosso do Sul (4,7 bi m3).

De parte das empresas, nota-se crescente interesse no insumo para neutralizar as operações. A Zeg Biogás e a gestora de aterros sanitários Multilixo, por exemplo, deram partida na primeira planta de purificação de biogás fora da rede elétrica. A Compass, de gás e energia do grupo Cosan, formou com a Orizon Valorização de Resíduos, joint venture para construção de uma planta de biometano no aterro de Paulínia (SP). Entre as fabricantes de veículos pesados, a Scania e a Iveco têm apostado em modelos a biometano como alternativa ao diesel. Roitman diz que a fonte já está madura e com uma cadeia produtiva sólida, mesmo assim ela defende incentivos à fonte, sob argumento de que há ainda barreiras regulatórias e tributárias a serem vencidas. Dados do Centro Internacional de Energias Renováveis e Biogás (CIBiogás), o Brasil teve alta de 82% de plantas de biometano em 2022. Ao todo, 20 plantas produtoras de biometano entraram em operação no ano passado.

Fonte: Valor Econômico

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