Com a aquisição da Fluxus, petroleira independente fundada por Ricardo Savini, o grupo J&F põe o pé na produção de óleo e gás na Argentina, num momento em que o país vizinho investe em infraestrutura para aumentar a sua capacidade de exportação – e em que empresários brasileiros miram a importação de gás competitivo para a indústria. A holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista anunciou na última sexta (01) a compra da Fluxus e, simultaneamente, a aquisição de ativos operacionais da Pluspetrol com foco, sobretudo, em gás. A Fluxus, comprada com o objetivo de ser a plataforma de investimentos da J&F no setor de óleo e gás na América Latina, incorporará ao seu portfólio uma produção de 1,3 milhão de m3/dia de gás e 1.365 barris/dia de petróleo, provenientes: dos Blocos 1, Bloco 2 e Bloco Centro, do campo de Centenário, na província de Neuquén; e de 33% do campo de Ramos, na província de Salta. O campo de Centenário produz óleo e gás convencionais, mas estão localizados na mesma bacia onde se encontra a formação não convencional de Vaca Muerta – umas das províncias mais promissoras de gás do mundo.
Um dos caminhos para o gás de Vaca Muerta é o envio para o Brasil por meio do 2º trecho do gasoduto Nestor Kirchner. Um acordo para construir o duto com financiamento do BNDES já tinha sido fechado entre os presidentes Lula e Alberto Fernández, mas esfriou com a eleição de Javier Milei. Crítico de Lula durante a campanha, Milei amenizou o tom após a vitória, abrindo espaço para o empreendimento, que pode abrir as portas para que o gás de Vaca Muerta seja exportado, no futuro, para o Brasil. Isso tem alimentado expectativas, entre empresários brasileiros, sobre a possibilidade de importação de gás competitivo para a indústria. A J&F não informou, num primeiro momento, se a aquisição mira a exportação do gás que produzirá na Argentina para o Brasil. O grupo, contudo, tem um histórico de integração energética com países vizinhos. A J&F controla, por exemplo, a Âmbar Energia, dona da termelétrica Cuiabá (480 MW), no Mato Grosso; e a GasOcidente, que opera o trecho brasileiro do gasoduto que traz da Bolívia o gás que abastece a usina. A empresa já tem relacionamento com os bolivianos. É a principal importadora de gás do país vizinho além da Petrobras, com volumes da ordem de 500 mil m3/dia nos últimos três anos, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia. A Bolívia, aliás, pode vir a ser, justamente, a rota de ligação do gás argentino para o mercado brasileiro, a partir do uso da capacidade ociosa de seus gasodutos de transporte.
Após uma primeira investida na Argentina, a Fluxus informou que mira oportunidades de investimentos em outros países, como Brasil, Bolívia e Venezuela. A Bolívia convive com o declínio de sua produção de gás e busca investidores para ajudar a recuperar os seus ativos. Se não reverter a curva de declínio, o país pode perder a capacidade de exportar gás para o Brasil na próxima década. Também atende ao mercado argentino. Já a Venezuela vive uma tentativa de reabertura. Executivos do setor de óleo e gás têm visitado o país para aproveitar as sanções mais leves impostas pelos EUA, mesmo com o risco de o acesso ser interrompido a qualquer momento. Shell, Repsol, Mol Nyrt da Hungria, Maha Energy AB da Suécia, National Gas Company de Trinidad e Tobago e a empresa estatal de gás da Bolívia, YPFB, enviaram delegações a Caracas desde a suspensão das restrições, de acordo com apuração da Bloomberg. O afrouxamento das sanções dos EUA à Venezuela também levou a Petrobras a considerar “seriamente” investimentos no país vizinho.
A expectativa é que a aquisição dos ativos argentinos pela Fluxus seja concluída em 2024. A petroleira foi criada este ano e ainda está em fase de construção de seu portfólio. Tornou-se a porta de entrada da J&F na produção de óleo e gás. Além de Savini, ex-CEO da 3R Petroleum, também fundaram a companhia Jorge Lorenzón (ex-diretor da 3R Petroleum, com passagens por YPF, Pérez Companc e Petrobras) e Vitor Abreu (geólogo exploracionista com passagens por Petrobras e ExxonMobil). A compra da Fluxus é também mais uma aposta do grupo J&F no setor de energia. A holding, este ano, já havia anunciado a aquisição da usina a carvão Candiota, da Eletrobras. Por meio da Âmbar, atua também em transmissão. E chegou a entrar em 2023 na disputa pela Braskem.
Fonte: Epbr
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