Com a pressão das questões climáticas, o mercado americano vive um momento de alerta para o setor de gás natural, tanto sobre o volume de emissões de gases de efeito estufa (GEE) quanto sobre a quantidade de terminais de exportação. Enquanto isso, o mercado brasileiro segue na expectativa de que a oferta local seja de crescimento nos próximos anos, mas ainda aguarda políticas públicas para direcionar o volume. Em ano eleitoral, o governo de Joe Biden tem considerado alterar a forma de licenciar os novos terminais de exportação de gás natural na tentativa de reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Ativistas climáticos argumentam que vazamentos e emissões dessas estruturas causam impactos ambientais. Os Estados Unidos se tornaram o maior exportador mundial de gás natural liquefeito (GNL) em 2023. Os sete terminais que operam no país podem produzir até 86 milhões de toneladas por ano, segundo a Energy Information Administration – o suficiente para atender as necessidades de gás combinadas da Alemanha e da França.
Os efeitos desses debates sobre o mercado brasileiro devem ser limitados, segundo Rivaldo Moreira Neto, presidente da consultoria Gas Energy: “Caso os Estados Unidos fiquem limitados em exportar gás, vai gerar um excedente interno grande. A saída para o mercado global é quase uma necessidade para eles dado o volume produzido. Mas, se aprovadas, essas restrições nos Estados Unidos não impactam diretamente o mercado brasileiro. O Brasil é pouco relevante no mercado global de GNL.” O Brasil faz importações pontuais do gás americano, no mercado “spot” (à vista), e não por contratos a longo prazo. “Se houver restrição futura das exportações americanas, isso pode até alterar os preços, mas não fecharia portas para nenhum mercado”, diz o consultor. A Bolívia é o exportador mais importante para o Brasil atualmente. A Petrobras tem contrato com a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) de importação de 20 milhões de metros cúbicos por dia. Hoje o mercado brasileiro consome cerca de 70 milhões de metros cúbicos por dia, segundo a Gas Energy. Quando há pico de demanda de geração térmica, o consumo pode alcançar 100 milhões. Conforme Neto, o setor de gás vive um momento de espera até que o governo atual direcione as políticas de desenvolvimento para o produto. “A produção nacional não tem crescido tanto nos últimos anos, mas as expectativas futuras, pelo menos até 2030, são de um choque de oferta doméstica, já considerando a redução da produção boliviana.” “A capacidade de produção contratada até 2030 pode dobrar a disponibilidade interna de gás natural”, segundo o consultor.
Projetos como BM-C-33, Rota 3 e Sergipe-Alagoas podem acrescentar 50 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural ao mercado até 2030. No ano passado, um dos grandes temas debatidos no mercado de gás foi o volume de reinjeção pela Petrobras. Em junho, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a estatal estaria sendo “negligente” sobre a política de gás natural no país, defendendo que a empresa deveria aumentar a oferta e reduzir a reinjeção – método utilizado para aumentar a produção de petróleo nos poços. Em resposta, a Petrobras negou volume de reinjeção maior que o necessário e disse que o ministro conhecia a política de gás da companhia.
Fonte: Valor Econômico
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