A Unica e a Cogen sugeriram ao MME a criação de um produto específico nos leilões de reserva de capacidade para viabilizar a contratação de térmicas a combustíveis renováveis, como biogás e biometano. Com 51,4% da sua geração (897 MW médios) prevista para ser descontratada no mercado regulado entre 2024 e 2027, o setor sucroenergético também busca competitividade para a bioeletricidade no novo certame, que está com consulta pública aberta até o final do mês. Nas contribuições, as entidades defendem uma segunda categoria para térmicas sazonais – para incluir as usinas a biomassa que operam durante a safra canavieira. Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da Unica, explica que esses leilões ainda são novos no setor elétrico, mas para que a biomassa possa ter uma participação relevante nas concorrências, algumas diretrizes precisam ser reformuladas.
“Na origem, é um leilão para contratar potência. A usina tem que estar 100% disponível para o operador nacional do sistema. Isso faz com que, à primeira vista, a biomassa possa ter dificuldade de participar”. Como a biomassa tradicional – o bagaço de cana, por exemplo –, opera no sistema de cogeração, ou seja, em função da produção de açúcar e etanol, geralmente essa eletricidade está disponível de abril a novembro – período das secas que afetam a geração hidrelétrica. “Só por isso, já é muito bem-vinda a participação da biomassa. Mas precisaria primeiro que as diretrizes do leilão pudessem ser reformatadas, principalmente a necessidade de uma programação de parada, de acionamento diferente do que está proposto”.
Segundo o gerente, há um potencial técnico de até 3 GW em usinas de cogeração (21% de uma Itaipu) que poderiam atender à demanda por energia estável e com o atributo renovável. Em 2023, São Paulo, estado que mais gerou bioeletricidade no país (12.445 GWh) evitou a emissão de 4,3 milhões de toneladas de CO2, de acordo com estimativas da associação, o equivalente ao que seria removido da atmosfera com o cultivo de 30 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos. A bioeletricidade gerada no estado foi equivalente a 16,5% de todo o consumo residencial ou a 12,9% do consumo industrial de energia elétrica na Região Sudeste em 2023.
Outro ponto, é a contribuição da biomassa para o armazenamento de água, comenta Newton Duarte, presidente executivo na Cogen. “Por que a gente entende que os leilões deveriam considerar isso [as térmicas a biomassa]? Porque exatamente no período de abril a novembro, eu tenho uma ENA [energia natural afluente] mais baixa. Vai começar agora. Começa a chover menos, eu tenho uma energia natural afluente que vai caindo, com isso os reservatórios vão diminuindo”, explica. “É a hora que eu preciso guardar água. E como que eu guardo água? Exatamente com a biomassa. Então, eu usar aquela potência daquelas máquinas é inteligente, porque eu estou com uma hidroelétrica mais enfraquecida”, completa.
Já na criação do “Produto Potência Termelétrica Renovável”, a intenção é permitir a contratação de usinas que operem com biogás/biometano, associado ao gás natural. Esse blend fará com que a usina esteja disponível para operar durante o ano todo – independente da entressafra da indústria sucroalcooleira. Também defende a inclusão, nesse produto renovável, da cogeração com o licor negro, aparas de madeira, pinos/eucalipto, e uma série de resíduos. Para isso, Unica e Cogen pleiteiam a adaptação nas condições da flexibilidade operativa definidas pelo MME – caldeiras e turbinas a vapor, típicas dessas usinas, precisam de um tempo mínimo de permanência ligadas/desligadas e rampas de acionamento/desligamento diferentes daquelas propostas para o leilão.
“O biogás é uma maneira direta de você poder também despachar. Fazer o biometano e despachar. Pode ficar mais caro, mas isso é uma questão de colocar o CVU [custo por unidade de energia produzida] lá. Se você chegou naquele CVU, é despachado. Se não chegou lá, por ordem de mérito, não vai ser despachado”, pontua Duarte. “São alternativas que esse mundo da biomassa oferece para atender a reserva de potência”, completa o executivo.
Diferentes fontes tentam garantir um espaço no 2º leilão de reserva, previsto para 30 de agosto. Agentes de diversos segmentos da geração de energia apresentaram em março seus pleitos durante a consulta pública sobre as diretrizes da licitação. No primeiro certame, realizado em 2021, as termelétricas a gás natural foram as protagonistas – não por acaso. Os requisitos mínimos definidos para o certame colocam tecnologias fósseis em vantagem. O mercado aguarda, agora, uma definição de detalhes importantes, como a demanda por potência da licitação; qual será o espaço reservado às térmicas e hidrelétricas na divisão desse bolo; e sobre que combustíveis poderão participar de fato da concorrência com o gás natural – este sim, citado na minuta das diretrizes da licitação.
Embora não tenha apresentado a questão na consulta, a Unica defende ainda o reconhecimento do atributo ambiental da geração elétrica a partir de biomassa. “Em 2023, com a geração para a rede, o setor da biomassa da cana evitou quase 500 toneladas de CO2 a cada hora. É o equivalente a plantar 3,4 mil árvores. Então tem um atributo ambiental forte que seria importante que fosse alcançado nesses leilões no futuro”, afirma o gerente da Unica. Há ainda o fato de ser uma geração descentralizada, predominantemente na região Centro-Sul, onde está a carga do sistema. “A gente evita perda em transmissão, posterga investimento em linhas, um atributo importante a ser considerado”, completa Souza.
Fonte: Epbr
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