Reportagem do Valor mostra que os ataques do Irã a Israel, mesmo limitados, reforçam a atenção sobre a necessidade de eventuais reajustes nos preços dos combustíveis nas refinarias da Petrobras, já pressionados por uma alta defasagem ante o mercado externo. Desde o início do mês, as pressões por um aumento de preços se intensificaram, após bombardeio à embaixada do Irã em Damasco, na Síria. Os preços internacionais da commodity ultrapassaram a barreira de US$ 90 por barril e aumentaram ainda mais a distância dos preços dos derivados vendidos pela estatal no Brasil em relação à paridade internacional. Em situações que possam trazer impactos mais fortes nos preços externos, a Petrobras sempre tem esperado o cenário se estabilizar antes de decidir reajustar os preços dos derivados.
Apenas quando os preços se estabilizam em um novo patamar, para cima ou para baixo, a estatal acompanha o movimento, repassando as variações para o mercado doméstico. O dólar fechou negócios na sexta (12) a R$ 5,12. Preços do petróleo e câmbio são os principais fatores que influem no cálculo de preços no mercado interno. Além do Brent em alta, a perspectiva é de que o dólar tenha reflexos de alta, também por influência do noticiário sobre o Oriente Médio. Há dois componentes adicionais que podem interferir na decisão da empresa de mexer nos preços. Um deles é o fato de que a estatal está há mais de 100 dias sem reajustar os preços do óleo diesel e há cerca de seis meses sem alterar os preços da gasolina, acumulando defasagens.
O outro ponto é o quadro político: sob fogo cerrado por alas do governo, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, tinha sua saída cogitada desde março, quando se absteve de votar sobre a distribuição de dividendos em reunião do conselho de administração. Na semana passada, a crise arrefeceu, mas a necessidade de reajustar preços coloca uma dúvida sobre qual será o comportamento da petroleira. Se a empresa optar por não aumentar os preços por ora, essa decisão se dá pela tradicional observação do mercado ou por que há possíveis cuidados quanto a uma reação negativa do Planalto? O Brasil importa cerca de um quarto do óleo diesel e do gás liquefeito de petróleo (GLP) que consome. Ambos têm impacto direto sobre a inflação.
Fonte: Valor Online