A importação de gás natural da Argentina pode ajudar a aumentar a oferta à indústria a médio prazo, mas não deve trazer mudanças significativas na competitividade do preço do gás no mercado brasileiro disse o professor do Instituto de Energia da PUC, Edmar de Almeida.
Almeida acredita que a Argentina desponta como uma fonte de “gás de oportunidade” para o mercado brasileiro, nos momentos em que há sobras no país vizinho – a demanda argentina tem um caráter sazonal, com crescimento abrupto no inverno.
Para o professor, o que vai, de fato, mudar o quadro de competitividade do gás no Brasil é o aumento da oferta de gás nacional. Hoje, destaca Almeida, o preço interno está alinhado ao custo marginal de importação do gás natural liquefeito (GNL).
“[Com o aumento da oferta nacional] Aí sim você muda o custo de oportunidade. Até lá, eu vejo que o custo de oportunidade do gás num contexto de mercado é o custo da importação. Então o que pode fazer o gás cair em curto prazo é ter uma queda do preço do petróleo, alguma coisa nesse sentido. Fora isso, é algum tipo de medida do governo, algum tipo de intervenção do governo, o que gera certo receio por parte do mercado”, afirmou.
Segundo ele, esse quadro só será possível com a chegada do gás dos projetos Raia (Equinor) e Sergipe Águas Profundas (Petrobras), no fim da década.
“É a partir de quando o Brasil vai ter superávit de gás firme, ou seja, vai ter maior produção de gás firme no Brasil do que a demanda. Só aí haveria uma situação em que as empresas teriam que diminuir preço para desenvolver demanda”, disse.
Argentina é alternativa para médio prazo, diz Ieda
A pesquisadora sênior no Instituto de Estudos em Energia na Universidade de Oxford e conselheira sênior da FGV Energia, Ieda Gomes, pontua que o gás argentino é uma das poucas alternativas que o Brasil, a médio prazo, tem de aumentar a oferta no mercado enquanto Raia e Sergipe não entrarem em operação. A outra solução é tentar aumentar a oferta de gás nacional por meio das rotas já existentes.
Ela estima que a molécula argentina pode chegar ao Brasil entre US$ 8 e US$ 9 o milhão de BTU. “A questão é econômica: como é que a Argentina vai investir em tudo isso [de infraestrutura] e como é que vai pagar os investimentos. Mas essas são as alternativas para o Brasil que eu vejo hoje para essa década”, comenta.
A rota de importação do gás argentino mais factível, tecnicamente, segundo ela, é via Bolívia. “Mas não politicamente, porque existe a questão de ser um país de trânsito”, ressalva.
Já a rota via Uruguaiana (RS) exigiria a construção de um trecho de gasoduto de 600 km para conectar o gás argentino ao Gasbol. Ieda lembra, no entanto, que esse investimento exigiria compromissos de take-or-pay (compromissos de retirada mínima).
Produtores argentinos têm interesse em exportar
A diretora de Estudos para Petróleo e Gás da EPE, Heloísa Borges, participou em março de uma comitiva de membros do governo e da iniciativa privada do Brasil a Buenos Aires, para prospectar oportunidades de importação de gás. Ela destaca que a expansão da oferta do país vizinho depende, necessariamente, do desenvolvimento de infraestrutura local.
Heloísa reforça, contudo, que há interesse por parte dos produtores argentinos de exportar para o Brasil e que o governo de Javier Milei vem trabalhando numa agenda de desburocratização e retirada dos controles sobre a exportação de gás.
Segundo ela, ainda falta clareza sobre os custos de transporte do gás argentino. Heloísa Borges acredita, no entanto, que o gás argentino possa ser um indutor de competitividade para o Brasil, mas que o gás nacional também pode cumprir esse papel: “O gás nacional também consegue chegar competitivo e o grande esforço é a gente equilibrar esses diferentes fatores”, disse.
Fonte: Epbr / Gas Week
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