Brasilândia e Santa Rita do Pardo enfrentam um dilema, ante a possibilidade da exploração de petróleo e gás. Ambos os municípios sul-mato-grossenses integram bloco adquirido pela Petrobras, em setembro do ano passado, que despertou alerta entre ambientalistas sobre o uso do fraturamento hidráulico para extração de gás do folhelho pirobetuminoso de xisto.
Dados da AIE (Agência Internacional de Energia) colocam o país com uma das dez maiores reservas de gás de xisto no mundo. Acessá-lo requer uso de técnica controversa que perfura o solo, ultrapassando fontes subterrâneas de água, para a extração de metano preso entre as camadas profundas de rocha. Um cano de aço, revestido por cimento injetado, leva produtos químicos e sua pressão causa fraturas que liberam o gás. Já areia, supostamente, mantém a porosidade para a migração do metano e evita que o terreno ceda. Isso pode vir ao Estado.
No entanto, depõe contra a indústria petrolífera imagens como as de torneiras pegando fogo na série de documentários Gasland, que acusam as empresas de irregularidades como a poluição de fontes de água por gás metano. Falhas estariam associadas ao revestimento de cimento.
O engenheiro e coordenador da Coalizão Não Fracking Brasil, Juliano Bueno de Araújo, disse em audiência pública na Assembleia Legislativa, nessa semana, que utilizar a técnica não vale o risco ambiental e econômico a longo prazo com poluição da água e solo.
“A injeção de produtos químicos e radioativos causa danos ao fornecimento de água para a população e acidifica o solo, impossibilitando a produção de alimentos de origens vegetal e animal. Barreiras fitossanitárias para a exportação são realidade em vários países. Unidades que não mais produzem continuam contaminando com metais pesados e radioativos [o solo] por 30 a 50 anos, portanto não podemos assumir esse risco”, reforçou Juliano.
São ao menos 54 municípios sul-mato-grossenses com áreas para exploração em potencial, conforme a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Diante dos riscos, o deputado estadual Amarildo Cruz (PT) propôs que a exploração seja suspensa por dez anos. “Estamos falando da contaminação do Aquífero Guarani, temos muito a perder”.
Chefe da assessoria de Gestão de Risco da ANP, Silvio Jablonski pontuou haver segurança no uso do fraturamento hidráulico. “Devemos olhar para onde há fato concreto, que é os Estados Unidos. Esse gás de xisto trouxe mais reservas e temos que aproveitar a janela de oportunidades porque gerações futuras não vão precisar de petróleo e o gás é a transição para as energias renováveis”.
Projetos piloto, conforme Jablonski, devem ser implementados para estabelecer parâmetros de segurança e não moratórias como a do petista.
Fogo cruzado – Na avaliação do secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, seria prematuro ter uma lei que proíba a extração do gás de xisto por não haver conhecimento sobre os impactos ambientais, potencial da reserva de gás existente e sua viabilidade econômica, que pode reduzir custos a clientes da estatal MSGás.
“Não é o gás pelo gás. Temos que tomar cuidados para conhecer e poder licenciar. Não tenho dúvidas de que o Brasil caminha para o futuro, mas ainda temos situações para resolver em relação ao gás boliviano que é interessante para nós hoje”, destacou Verruck.
Cacildo Dagno Pereira (PSDB), prefeito de Santa Rita do Pardo, lembrou que tudo o que é novo gera preocupações. Ele usou como exemplo os transgênicos, mas quanto ao xisto foi mais cauteloso até diante da possibilidade de recebimento de royalties. “Desenvolvimento é bom, desde que seja sustentável. A gente precisa ver o ônus que isso vai trazer”.
Geóloga e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Sandra Gabas apontou ser preciso criar uma “geração de conhecimento” no próprio Estado para colaborar com o debate sobre a extração do gás de xisto e seus efeitos. “Não podemos fazer discussão com paixões, mas dados científicos”.
Fonte: Campo Grande News (MS)
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