A geração de energia a partir de gás natural é um dos caminhos da transição global para uma economia de baixo carbono. Embora seja um combustível fóssil – e, por isso, não renovável -, o gás tem características que o aproximam da energia limpa. Não à toa, tem sido impulsionador de pesquisas para o desenvolvimento de novas tecnologias. Acadêmicos e indústrias dedicam-se, com tempo e investimentos bilionários, a encontrar maneiras de tornar produção, armazenamento, transporte, distribuição e atendimento a clientes cada vez mais eficientes.
Por questões regulatórias, o Brasil ainda está um passo atrás no que se refere à implantação de novas tecnologias para o gás natural. “Temos problemas de logística, no sistema fiscal, na cooperação entre Estados e municípios. Faltam também normas infralegais que ofereçam mais segurança para o setor investir”, diz o gerente de estratégia e competitividade da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Marcelo Mendonça. O setor aguarda a conclusão da tramitação no Congresso de um novo marco regulatório, concentrado num projeto de lei baseado em proposta do Ministério das Minas e Energia. O texto está em discussão há dois anos, sem perspectiva de aprovação.
Mudanças são inevitáveis diante da diminuição da participação da onipresente Petrobras no setor. Ocorre que, sem regras claras, fica mais difícil garantir os investimentos necessários.
Mesmo sem um novo marco regulatório as empresas da ampla cadeia do gás se movimentam para aplicar os avanços tecnológicos. Como diz o diretor de tecnologia e regulação da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Leonardo Caio, empreendedores imobiliários, por exemplo, já se deram conta de que a atual rede de energia elétrica não é suficiente para garantir abastecimento contínuo. Muitos condomínios comerciais, shoppings e hospitais hoje operam com geradores alimentados com gás natural da rede já existente. A novidade está na exploração da versatilidade: o gerador recebe o combustível e pode transformá-lo em energia elétrica térmica e vapor d’água. Assim, tem-se energia elétrica para
equipamentos, água quente para torneiras e em temperatura baixa para resfriamento do ar condicionado. Trata-se da “combined heat and power”, tecnologia importada pela Comgás do Japão.
Na ponta do consumidor, a Comgás implantou plataformas digitais para deixar mais rápidos os atendimentos. Segundo a empresa, 70% dos contatos são feitos por canais digitais. Em ocasiões nas quais um cliente precisa da presença de um técnico no local da instalação, o trabalho já dispensa o papel: a parte burocrática é feita por um terminal digital portátil. A empresa também investe em produtos mais “amigáveis” para o cliente final. Desenvolveu um protótipo de tomada para equipamentos a gás natural que dispensa a instalação por um técnico, num sistema “plug and play”. Os investimentos em TI, inovação e pesquisa e desenvolvimento somaram R$ 40 milhões no ano passado.
As inovações não param também na ponta da oferta. A Shell, um dos maiores produtores de gás no país, investiu R$ 95 milhões para a criação, em parceria com a Fapesp, do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás, sediado na USP. De acordo com a gerente de projetos em gás sustentável da Shell, Camila Brandão, os 300 pesquisadores integrados ao projeto desenvolvem estudos para uso sustentável de gás natural e outros combustíveis mais limpos. “Temos vários resultados positivos e esse é só o começo.” Com equipamentos dotados das tecnologias mais modernas – fornecidas pela Siemens, acionista do projeto ao lado de Prumo e BP – a Gás Natural Açu desenvolve um hub de gás no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, que, quando finalizado, deve ter o maior parque termelétrico da América Latina. Serão investidos até 2023 cerca de R$ 8 bilhões em um terminal de regaseificação e duas termelétricas a gás.
Fonte: Valor Econômico
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