A crise energética na Europa pode ter efeitos colaterais sobre a abertura do mercado brasileiro de gás natural, segundo especialistas. O desequilíbrio entre oferta e demanda reverteu o cenário de baixa nos custos de importação de gás natural liquefeito (GNL) dos últimos anos. A situação se agravou nas últimas semanas e tem alimentado incertezas sobre o futuro dos preços, num momento crucial em que as distribuidoras negociam novos contratos com novos supridores e em que as indústrias se preparam para migrar para o nascente mercado livre de gás no Brasil.
Ontem (06) a escalada dos preços do gás foi interrompida depois que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que poderá ampliar o fornecimento para a Europa, a fim de estabilizar a situação. Com a notícia, os contratos futuros de gás reverteram a trajetória de alta e passaram a operar com fortes quedas na maior parte dos mercados.
Nos EUA, o Henry Hub fechou o dia com um recuo de 9,7%. O TTF, principal referência europeia, caiu por sua vez 9,6%, e o NBP, referência britânica, caiu 9,4%. Na Ásia, o índice JKM manteve a alta e chegou aos maiores preços desde 2009, segundo a S&P Global Platts.
Mesmo com a queda na maioria dos mercados, os preços do GNL ainda se mantêm elevados em relação aos patamares dos últimos anos. O chefe dos mercados de gás da Wood Mackenzie na América do Sul, Mauro Chávez, afirma que não há clareza sobre o comportamento dos preços no inverno do hemisfério Norte, quando o uso do gás para calefação aquece a demanda. Isso eleva a percepção de riscos para indústrias que querem migrar para o mercado livre.
“O Brasil é corresponsável por essa alta, pela crise hídrica, que aumenta a demanda por cargas de GNL para despacho das térmicas na Bacia do Atlântico. Esse momento é um bom exercício para a abertura do mercado brasileiro. Quem está se preparando para comprar gás precisará ser mais sofisticado nas negociações no portfólio de contratos para não ficar muito exposto”, comenta Chávez.
O analista sênior de óleo e gás da Bloomberg Intelligence, Fernando Valle, conta que o choque de preços do gás se deve à redução da oferta na Europa. O fechamento antecipado de campos de produção de gás, devido à transição energética, e o atraso de novos projetos na pandemia contribuem para o cenário, em meio à retomada do crescimento econômico global.
Para Valle, outro efeito da alta nos preços globais de gás para o mercado brasileiro é o encarecimento dos custos para operação das termelétricas, num momento em que o Brasil vive o período seco com menos de chuvas dos últimos 91 anos. “Esse alto custo vai acabar impactando a inflação e o bolso do consumidor mais à frente”, afirma.
O presidente da Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto, lembra que, nos últimos anos, o GNL se manteve em patamares baixos, o que aumentou o otimismo das indústrias em conseguir melhores condições contratuais no mercado livre, por meio da importação de gás. O cenário, agora, é outro. “Tudo indica que teremos um mercado difícil em 2022. Isso coloca um desafio para a migração das indústrias para o mercado livre e para as distribuidoras que estão negociando novos contratos. As negociações olham o longo prazo, mas há muitas incertezas hoje”, diz.
Fonte: Valor Econômico
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