Reduto do agronegócio brasileiro, o estado do Mato Grosso está a um passo de proibir o fraturamento hidráulico (fracking) para exploração de gás natural onshore em seu território. Aprovado na quarta (12) pela Assembleia Legislativa, o PL 1674/2023, que proíbe o fracking no estado, e de “demais modalidades de exploração de gases que possam ocasionar contaminações do lençol freático”, aguarda sanção do governador Mauro Mendes (União). Se for sancionado, o estado se juntará ao Paraná e Santa Catarina com legislações próprias para proibir a atividade apontada por organizações ambientais como uma ameaça aos aquíferos subterrâneos, entre outros possíveis danos à qualidade do ar e à saúde humana. A Bahia é outro potencial membro do grupo. No início do mês, a Assembleia Legislativa também passou a discutir um PL para proibir o fracking na região. Além dos estados, algumas centenas de municípios já aprovaram legislações locais para manter a exploração do gás não convencional longe de seus subsolos, um movimento articulado pelo Instituto Arayara e pela coalizão Não Fracking Brasil. Enquanto isso, na Câmara dos Deputados, o PL 1935/2019 aguarda parecer do relator na Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. O texto proíbe a concessão de licença para exploração de gás por meio de fracking no território nacional.
O fraturamento hidráulico é uma das técnicas usadas para tornar reservas de gás não convencional, a exemplo do shale (ou gás de xisto, como ficou conhecido) economicamente viáveis, justificando o investimento na produção. A produção desses reservatórios ganhou notoriedade mundial com o rápido desenvolvimento nos Estados Unidos, a revolução do shale a partir de meados dos anos 2000. É também alvo de críticas de ambientalistas e aqui no Brasil passou, praticamente, por uma moratória, iniciada na década passada, quando se tentou ampliar a oferta de áreas de exploração em terra, em regiões com potencial para produção não convencional. Fraturamento hidráulico é uma técnica conhecida e utilizada pela indústria de óleo e gás há mais de 70 anos. Consiste em injetar uma grande quantidade de água, com aditivos especiais, até provocar as “fraturas”, que fragmentam as rochas onde o gás e o óleo são gerados, mas a produção é inviável com poços tradicionais. Há histórico de uso no Brasil, em reservatórios convencionais, como uma das técnicas para elevar a recuperação de óleo e gás. A diferença é que, via de regra, o uso em larga escala dessas técnicas, que envolvem grande demanda por água, poços e insumos, torna economicamente atrativo produzir em reservatórios que não seriam desenvolvidos de outra forma. Por aqui, quando o assunto ganhou projeção a partir da 13ª rodada da ANP – grande oferta de áreas em terra, com potencial para gás natural – houve uma reação de ambientalistas e de ministérios públicos. Mais recentemente, em 2022, o governo de Jair Bolsonaro (PL) tentou viabilizar o fracking com o programa Poço Transparente, mas a iniciativa fracassou.
Além do risco de contaminação de aquíferos, o fraturamento hidráulico exige grandes quantidades de água para a injeção que vai fragmentar as rochas, o que preocupa estados onde estão as reservas do gás não convencional, mas também atividades agrícolas. No Mato Grosso, a iniciativa do deputado Diego Guimarães (Republicanos) foi embasada na defesa dos interesses do agronegócio: “(…) proteger nossas reservas naturais de água e resguardar a sustentabilidade da agricultura, principal expoente da economia mato-grossense, sobretudo ao passo em que a técnica implica em alto consumo de água”, diz a justificativa. Mesmo argumento levantado em 2019, quando o Paraná aprovou sua legislação. Na época, o deputado estadual Marcio Pacheco (PP), um dos autores do projeto de lei, disse que a medida era importante para a proteção ambiental e do agronegócio. “O agronegócio é a principal fonte de riqueza do Paraná. O fracking traz um dano irreparável e irreversível ao meio ambiente e a produção agrícola”, argumentou.
No mundo, a Rystad Energy projeta que o crescimento da demanda por gás natural levará a um aumento de 12,5% na produção global até 2030 e isso exigirá investimentos mais fortes na descoberta de novas reservas – já que os campos existentes entrarão em declínio nos próximos anos e não serão capazes de satisfazer o aumento do consumo global. O Oriente Médio desponta como peça-chave para preencher essa lacuna, assim como os EUA. De acordo com a consultoria, o shale deve responder por 1/3 da produção global até 2030. No Brasil, há um potencial em formações fechadas de gas (tight gas) da Bacia do São Francisco (Minas Gerais) e a partir de folhelhos (shale gas e shale oil), também chamado de gás de xisto, em bacias do Sul, como a do Paraná, e Nordeste do país, como Recôncavo (Bahia), Sergipe, Alagoas, Potiguar (Rio Grande do Norte) e Parnaíba (Maranhão, Piauí e Ceará). A exploração do gás não convencional integra a agenda regulatória de petroleiras independentes e tem apoio do Ministério de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira (PSD). A indústria de petróleo e gás tenta demonstrar que a atividade é viável do ponto de vista ambiental trará benefícios econômicos para o país, especialmente para ajudar o governo Lula a entregar a promessa de elevar a oferta de gás natural, com custos menores.
Fonte: Epbr
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