Alguns parlamentares alertaram para o impacto que a ação teria na capacidade de investimento da companhia. Além disso, no mesmo período, cerca de 485 mil clientes da distribuidora, em 40 municípios da Metade Sul gaúcha, ficaram sem luz por 22 minutos. Quanto a essas situações, o presidente do Grupo CEEE, Gerson Carrion, é categórico: a empresa terá capacidade de investimento em 2014 e as condições de fornecimento de energia devem melhorar.
O dirigente afirma que o Grupo CEEE enfrenta um passivo regulatório que data desde a época de privatização. Apesar disso, entre novembro de 2013 e o final de 2014, estão previstos investimentos na ordem de R$ 1,2 bilhão. Nesse montante não está incluído o aporte que a empresa fará na construção do parque eólico de 55 MW que implementará em Rio Grande. A companhia venceu em novembro o leilão para concretizar esse empreendimento. No mesmo mês, em parceria com a Eletrosul, o grupo ganhou um certame de transmissão que, entre outras melhorias, prevê obras na região das Missões. Essa última iniciativa também não está inclusa nos cálculos preliminares de investimentos.
“A empresa está totalmente alavancada com fontes de financiamento como BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Bndes e Agência Francesa de Desenvolvimento”, frisa Carrion. O dirigente destaca ainda que o repasse da cifra bilionária ao governo gaúcho faz parte da recuperação financeira da companhia, já que em contrapartida o Executivo passa a ser o responsável pelo pagamento de servidores ex-autárquicos. Carrion acrescenta que a medida foi demandada pelo órgão regulador do setor elétrico: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Conforme o dirigente, a pasta determinou que a despesa deveria ser assumida pelo governo, pois a entidade não reconhece o custo na tarifa e não admite que fique drenando recursos da concessão. A despesa com os ex-autárquicos, de acordo com Carrion, é estimada em cerca de R$ 100 milhões ao ano, na área de distribuição, e mais R$ 50 milhões nos segmentos de geração e transmissão.
O repasse do R$ 1,3 bilhão ao governo do Estado só será possível devido a uma batalha judicial envolvendo a chamada Conta de Resultados a Compensar (CRC), que diz respeito à compensação de pagamentos a ex-autárquicos e inativos. Em 1993, a concessionária gaúcha entrou na Justiça contra a União para discutir o direito a esses recursos. Em março de 2009, a sentença transitou em julgado, não cabendo mais apelação. Em janeiro de 2012, a presidente Dilma Rousseff e o governador Tarso Genro realizaram, no Palácio Piratini, cerimônia oficializando o repasse (em três parcelas) no total de cerca de R$ 3 bilhões ao Grupo CEEE.
Carrion informa que a última parcela da CRC foi repassada em meados de dezembro, no valor de aproximadamente R$ 770 milhões, cumprindo o acordo entre a União e o Grupo CEEE. O presidente explica que esse montante servirá de lastro da operação de repasse para o Estado. “Os deputados estavam colocando a questão como de Caixa Único, não é uma questão de Caixa Único, é uma obrigação que o órgão regulador tem exigido de forma recorrente“, reitera.
Volta da usina de Candiota 3 deve melhorar atendimento na Metade Sul
Tradicionalmente, as altas temperaturas no verão implicam um consumo maior de energia, o que aumenta as dificuldades quanto ao atendimento. Uma região que particularmente tem enfrentado problemas, no momento, é a Metade Sul gaúcha. A perspectiva é de que o fim da parada de manutenção da termelétrica a carvão Candiota 3, que ocorreu na semana passada, melhore as condições de abastecimento.
Um dos estabelecimentos que está passando dificuldades com a falta de energia é o Paradouro Costa Doce, localizado na BR-471, em Santa Vitória do Palmar, a cerca de 120 quilômetros da fronteira com o Uruguai. A gerente do Paradouro, Eva Beatriz Cardoso, comenta que toda a região rural de Santa Vitória do Palmar vem registrando quedas frequentes de energia durante os verões. Ela adverte que esse cenário pode causar muitos empecilhos para os motoristas que trafegam pelo local. “Não há muitos postos na região, e se a pessoa chega aqui e estamos sem luz não há como abastecer.“
A gerente diz que a explicação do Grupo CEEE é que ocorre sobrecarga no sistema e comenta que chega a ficar sem eletricidade por horas. Eva acrescenta que os arrozeiros, que utilizam muita energia para irrigar suas produções, também estão sofrendo dificuldades. Além dos problemas com a eletricidade, a gerente salienta que os sinais de telefonia e internet são precários na região.
O presidente do Grupo CEEE, Gerson Carrion, argumenta que as condições de fornecimento na Metade Sul melhorarão com a volta da usina Candiota 3, da CGTEE. O dirigente comenta que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) entendeu que seria melhor parar agora e fazer a manutenção da térmica, para ter um restante de verão mais seguro.
“Voltando à usina, esses cortes deverão ser pontuais“, projeta Carrion. A perspectiva, em um prazo maior, para a região parece ser mais promissora. Com os parques eólicos e as linhas de transmissões que estão sendo construídos no Chuí, Santa Vitória do Palmar e Rio Grande, as condições de energia devem melhorar ainda mais. Carrion recorda que houve uma expansão do consumo de energia na Metade Sul, com a implantação do Polo Naval e com a chegada da luz nas propriedades rurais. “Mas, atender a essa demanda é o bom desafio.“
O presidente do Grupo CEEE cita também como uma importante conexão para o Rio Grande do Sul uma linha de transmissão que deverá ser concluída em maio pelas empresas Eletrosul e Copel. A nova linha sairá de Salto Santiago, no Paraná, passará por Itá, em Santa Catarina, e irá até Nova Santa Rita, no Rio Grande do Sul, em um total de 495 quilômetros.
Ainda no campo da transmissão, recentemente a Aneel inabilitou o Grupo CEEE (entre outras companhias) a participar do leilão relativo ao serviço de transmissão para a hidrelétrica Belo Monte. O motivo é o atraso na construção de instalações de transmissão nos 36 meses anteriores à publicação do edital. Carrion minimiza a situação lembrando que o impedimento não se estende a leilões de geração e que o Grupo CEEE poderá disputar certames de transmissão através de consórcios, desde que não seja líder do grupo. O dirigente espera regularizar essa situação dentro de dois a três anos.
Dirigente atribui sua permanência a perfil técnico
Apesar de o PDT (partido ao qual o presidente do Grupo CEEE é ligado) ter deixado o governo Tarso Genro com objetivo de lançar candidatura própria nas próximas eleições, Gerson Carrion seguirá comandando a principal estatal gaúcha. Os anos de trabalho na empresa e seu perfil mais técnico foram determinantes para a decisão do governador.
“Honrou-me muito o convite do governador para permanecer na presidência, na condição de técnico“, justifica Carrion. O dirigente comenta ainda que houve a compreensão do seu partido sobre essa questão. Com 35 anos de carreira dentro do setor elétrico, Carrion entrou no Grupo CEEE no setor de auditoria interna. “Meu contrato de trabalho é com a minha empresa, independentemente do cargo que ocupe“, conclui.
Fonte: Jornal do Comércio – RS