Ao anunciar um reajuste de 39% no preço do gás natural para as distribuidoras, a partir de 1º de maio, a Petrobras anula toda a queda do preço registrada desde o início de 2020 e mostra que o choque de energia barata prometido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, com a abertura do mercado de gás, ainda não se sustenta estruturalmente.
Em 2020, houve uma queda acumulada de 35% nos preços do gás natural praticados pela Petrobras, junto às distribuidoras. Foi o primeiro ano desde o lançamento do programa Novo Mercado de Gás, pelo governo federal, em 2019. Na ocasião, Guedes disse que o custo do energético poderia cair entre 30% e 40%, para o consumidor final, contribuindo para aumentar a competitividade da indústria nacional.
A redução dos preços em 2020, porém, foi essencialmente conjuntural, e não estrutural. Acontece que os contratos da Petrobras com as distribuidoras são indexados aos preços do petróleo e ao câmbio. Com o choque dos preços da commodity, no mercado internacional, devido aos impactos da pandemia de covid-19 sobre a demanda global, o preço do gás também caiu significativamente no Brasil em 2020.
A abertura do mercado, no entanto, ainda dá seus primeiros passos e, na prática, a Petrobras ainda é praticamente a única grande fornecedora do mercado brasileiro. Assim, o preço do gás nacional segue, por ora, mais atrelado à dinâmica dos preços do petróleo – previstos nos contratos coma estatal – do que aos impactos do Novo Mercado de Gás.
Com a recuperação dos preços do barril do petróleo, no início de 2021, para acima dos US$ 60, o preço do gás começa o ano em forte alta. Os contratos da Petrobras com as distribuidoras preveem reajustes trimestrais. Desde o início do ano, já são duas altas: 2,5% em fevereiro e 39% em maio.
Os preços praticados pela Petrobras têm um peso grande sobre o custo final do gás para o consumidor final. Ao todo, a molécula do gás e as tarifas de transporte, juntos, equivalem, em média, a 59% do total pago pelo consumidor na conta de gás canalizado.
Mudanças mais estruturais, no mercado brasileiro, ainda dependem do avanço da agenda de abertura da indústria de gás. Ao longo de 2020, concorrentes da Petrobras ainda enfrentaram dificuldades para acessar a infraestrutura existente para acesso ao mercado, o que acabou frustrando expectativas de distribuidoras e de indústrias (no mercado livre em gestação) de capturar preços mais baixos.
Mesmo que a entrada de novos agentes seja bem-sucedida no mercado, a queda de 40% no preço do gás, prometida por Guedes, nunca foi consenso e dependerá, muito, da dinâmica do mercado – como, por exemplo, como se comportarão os preços do gás natural liquefeito (GNL) importado.
Fonte: Valor Online – 05/04/21