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Gás natural tem 39% de reajuste; promessa de Guedes fica mais distante

Entrou em vigor neste sábado (01) o reajuste de 39% no preço do gás natural anunciado pela Petrobras. Segundo a estatal, o percentual de aumento para as distribuidoras medido em US$/MMBtu (milhão por Btu) será de 32%.

O aumento é impulsionado, principalmente, pela valorização do petróleo do mercado internacional e pela desvalorização do real.

Do início de 2019 até janeiro de 2021, o preço do gás natural vendido às distribuidoras teve queda de 10,4%. Esse percentual será engolido pelos 39% do aumento de hoje. Em junho de 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez uma promessa de que o valor do combustível, usado principalmente na indústria, cairia até 40% em 2 anos. A fala foi durante o lançamento do “Novo Mercado de Gás“.

Para que a promessa fosse cumprida dentro do prazo, o governo esperava a aprovação da nova Lei do Gás. O texto ficou circulando no Congresso por quase 2 anos e só foi aprovado em março de 2021, atrasando os planos de Guedes.

O Poder360 levantou o preço médio do gás vendido pela Petrobras desde 2008. Em janeiro daquele ano, custava R$ 13,1/MMBtu. Em janeiro de 2021 –dado mais recente calculado pelo Ministério de Minas e Energia– chegou aos R$ 34,14 /MMBtu.

Os reajustes do gás natural são trimestrais, conforme estipulado nos contratos com as distribuidoras estaduais. A Petrobras considerou o cotação de petróleo e taxa de câmbio de janeiro a março para chegar ao percentual. A commodity teve alta de 38% no período.

Entra no cálculo também o custo do transporte até o ponto de entrega das distribuidoras. Esse gasto é atualizado anualmente em maio pelo IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado), que acumulou alta de 31%.

Serão afetadas, principalmente, as indústrias, já que o uso residencial de gás canalizado é pequeno no país –só 8% das casas o composto, segundo mediu o IBGE em 2019. Para as fábricas, porém, o gás natural serve tanto como fonte de energia quanto como matéria-prima. É usado também para a produção de energia elétrica, em especial, em situações de baixa disponibilidade hídrica nos reservatórios.

Considerando a utilidade do gás natural e a situação econômica do país, a Abegás propôs, entre outras medidas, um adiamento do ajuste.

O diretor de Estratégia e Mercado da associação, Marcelo Mendonça, explica que o aumento era esperado –tendo em vista a alta do preço dos barris de petróleo no mercado internacional–, mas questiona o momento de sua aplicação.

“Se a gente olhar para o passado já houve 2 momentos em que, devido à conjuntura econômica, a Petrobras não aplicou a fórmula paramétrica diretamente. Em 2008, quando ocorreu uma recessão mundial, a Petrobras aplicou preços diferenciados para o gás natural justamente para reativar a economia. E em 2011, novamente, aí por conta de um problema interno, houve descontos”, citou.

A sugestão, no entanto, não foi aceita e o aumento anunciado foi mantido.

Projeções frustadas

O governo Bolsonaro apostou no chamado “Novo Mercado do Gás” como política para baratear o gás natural. Lançado em julho de 2019, visa atingir esse objetivo promovendo a concorrência no setor.

Antes mesmo de inaugurar a iniciativa, o ministro Paulo Guedes (Economia) já dava declarações a respeito da queda do preço do gás natural como resultado do plano:

junho de 2019: “Tem gente muito boa que estima em até 40% em 2 anos a queda do preço do gás natural no Brasil. Nós temos certeza que o preço vai cair, porque nós vamos aumentar brutalmente a oferta”;

novembro de 2019: “Vem aí uma abertura gradual da economia e o choque de energia barata vai derrubar 30% a 40% do preço do gás natural, o que vai contribuir para nossa reindustrialização”;

setembro de 2020: “Com ajuda do ministro Bento (Albuquerque de Minas e Energia), nós estamos aprovando a Lei do Gás Natural e aí vamos dar um choque de energia barata. Esperamos que o gás caia 20%, 30%, pelo menos”.

O chefe da pasta de Minas e Energia, Bento Albuquerque, porém, já busca alternativas para minimizar o impacto dos aumentos. Em abril, o almirante disse ao Poder360 que estuda renegociar os contratos com as distribuidoras.

A medida, no entanto, não será imediata: “Não podemos romper contratos. Tudo terá de ser negociado. No setor elétrico já fizemos isso, e 40 distribuidoras usam o IPCA e só 16 ainda estão com o IGP-M para reajustes de preços”.

A taxa de câmbio e o petróleo, no entanto, devem continuar pressionando o valor do gás natural e, consequentemente, o governo. Cálculo do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) aponta que, ao longo do ano, o gás natural deve ter alta de 48,9%.

O presidente do Sindigás, Sergio Bandeira de Mello, afirma que o aumento da concorrência e consequente maior oferta de gás natural incentivado pelo programa trará benefícios, mas a médio e longo prazo.

Bandeira aponta que o programa pode afetar positivamente, inclusive, o mercado de GLP (gás liquefeito de petróleo) mais conhecido como gás de botijão por meio da maior disponibilidade de UPGNs (Unidade de Processamento de Gás Natural).

Isso porque o GLP é formado de gases (propano e butano, principalmente) que podem ser separados do gás natural –composto basicamente de metano– nessas estruturas. Dessa forma, haveria aumento de oferta.

Ele reforça que o aumento que passa a vigorar neste sábado não afetará os consumidores do produto. “O que acontece com o GLP é que ele sofre aumentos a medida que no mercado o preço oscila. Ele já aumentou, nesse ano, na ordem de 25% no produtor. E para o consumidor final, aumentou cerca de 6,7%”, explica.

 

Fonte: Poder 360

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