O auxílio gás que o governo federal começou a pagar esta semana a 5,47 milhões de famílias pode ajudar a recuperar as vendas do botijão de 13 quilos (P13), que em 2021 começou a cair diante do encarecimento do produto. Especialistas do setor, contudo, não acreditam num pico de demanda, a exemplo do ocorrido em março de 2020, quando a pandemia eclodiu e o início da quarentena levou a uma “corrida às compras” que gerou casos pontuais de desabastecimento em algumas regiões do país.
De acordo com dados da ANP, as vendas do botijão P13 subiram 5,1% em 2020, impulsionadas pelas medidas de isolamento social. Em home office, as pessoas passaram a cozinhar mais em casa. O sócio da consultoria Leggio, Marcus D’Elia, afirma que, diante do aumento dos preços do GLP, no entanto, a curva de crescimento se inverteu em 2021 e o produto começou a ser deslocado, sobretudo pela lenha, entre as famílias em vulnerabilidade social. Entre janeiro e novembro, a comercialização do P13 acumula uma queda de 3,9% ante igual período de 2020.
O aumento acumulado dos preços do GLP no Brasil em 2021 foi de 36,2%. O botijão terminou o ano vendido a R$ 102.
D’Elia acredita que, com o subsídio, o gás pode voltar a reconquistar o espaço perdido para a lenha. Ele afirma que, devido ao fato de o mercado brasileiro ser deficitário, qualquer aumento da demanda terá que ser acompanhado de um esforço maior por importações e que a Petrobras, enquanto principal fornecedora doméstica, precisará estar atenta ao comportamento dos consumidores. O consultor aposta, contudo, num crescimento mais gradual do consumo, sem picos como a alta de 20% verificada entre fevereiro e março de 2020, na eclosão da pandemia, e sem riscos de desabastecimento. Ele diz que as importações de GLP foram maiores, no passado, e que recorrer a volumes adicionais seria, hoje, factível.
“O auxílio gás pode fazer o poder de compra do brasileiro recuperar um pouco, mas ainda é difícil projetar, neste momento, uma tendência [de crescimento continuado da demanda por GLP]. Seria natural um aumento das vendas, porque houve efeito contrário, de perda de mercado do gás. Há uma demanda reprimida, devido ao encarecimento do GLP, mas não quer dizer que ultrapassaremos patamares de importação do passado”, comentou.
O universo de famílias atendidas pelo Gás dos Brasileiros é pequeno, se comparado aos 17 milhões de beneficiados pelo Auxílio Brasil. O auxílio gás permitirá a compra, num primeiro momento, de 5,47 milhões de botijões neste primeiro trimestre — o equivalente a cerca de 8% do número de unidades vendidas a cada dois meses no país.
O presidente do Sindigás, Sérgio Bandeira de Mello, também tem a expectativa de aumento na demanda, mas não espera uma explosão do consumo. Ele destaca que, por não se tratar de um recurso com destinação específica, o auxílio gás pode acabar, em parte, sendo destinado a outros fins no apertado orçamento das famílias brasileiras em situação de vulnerabilidade.
“Essas famílias têm, hoje, muitas prioridades no orçamento. Existe uma possibilidade, não irrelevante, de que elas utilizem o dinheiro para compra de feijão, arroz, proteína. Pode haver um desvio de finalidade e que este seja um programa que engrossa a transferência de renda, mas sem termos, efetivamente, um impacto mais profundo no consumo de GLP”, disse.
Bandeira de Mello enxerga o auxílio gás, no entanto, como uma evolução nas políticas públicas, se comparado ao passado de controle de preços dos combustíveis no Brasil.
Além da possibilidade de desvio de finalidade dos recursos do auxílio, o executivo também alega que o benefício não deve criar uma demanda nova por GLP, e sim ajudar a recuperar, parcialmente, o espaço perdido para a lenha. Bandeira de Mello acredita, contudo, que gás e lenha devem continuar coexistindo em alguns casos.
O governo começou a pagar, na terça-feira (18), o benefício previsto no Programa Gás dos Brasileiros. O subsídio vai vigorar por cinco anos. A cada bimestre, os beneficiários receberão um valor que corresponda a pelo menos metade do preço do botijão de 13 quilos (o P13) no Brasil, com base na média dos seis meses anteriores. O Ministério da Cidadania informou que, nesta primeira remessa, serão pagos R$ 52 a cada família contemplada – o equivalente a 53% do preço médio do botijão no segundo semestre de 2021, de R$ 98, de acordo com o levantamento da ANP, usado como referência. O investimento será de cerca de R$ 285 milhões nessa primeira etapa.
Em dezembro de 2021, o governo fez a primeira distribuição do recurso a 108 mil famílias, residentes em municípios afetados pelas enchentes nos Estados da Bahia e Minas Gerais. Esta, no entanto, é a primeira vez que o auxílio será distribuído nacionalmente desde que o programa foi sancionado, em novembro.
Os depósitos serão feitos até o dia 31. A região Nordeste concentra metade dos beneficiários, com 2,74 milhões de famílias atendidas, seguida do Sudeste, que aparece com 1,78 milhão de beneficiados. O Norte terá mais de 535,7 mil famílias atendidas, o Sul outras 349,77 mil famílias e o Centro-Oeste, 167,65 mil famílias.
Poderão ser beneficiadas famílias inscritas no CadÚnico do governo federal, com renda familiar mensal per capita menor ou igual a meio salário mínimo – ou que tenham entre seus membros residentes no mesmo domicílio quem receba o Benefício de Prestação Continuada da assistência social. Nos primeiros 90 dias, terão prioridade na distribuição as famílias, nessa ordem: cujo registro do CadÚnico tenha sido atualizado nos 24 meses anteriores; com menor renda per capita; com maior quantidade de membros na família; beneficiárias do Programa Auxílio Brasil; e com cadastro qualificado pelo gestor por meio do uso dos dados da averiguação, quando disponíveis.
Segundo o Ministério da Cidadania, o programa admitirá a entrada gradativa de mais famílias, de modo que, em setembro de 2023, todos os beneficiários do Programa Auxílio Brasil sejam atendidos pelo Gás dos Brasileiros.
Fonte: Valor Online
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