As empresas brasileiras de distribuição de gás dizem que ser capaz de oferecer contratos de biometano no mercado regulado ajudaria no desenvolvimento de um novo nicho na indústria de gás.
Marcelo Mendonça, diretor de estratégia e mercado da Abegá, diz que o mercado de biometano precisa evoluir e ampliar a produção, mas que a nova regulamentação da Arsesp, reguladora do estado de São Paulo, que cria um contrato de fornecimento de gás verde para as distribuidoras oferecerem aos seus clientes, é uma melhoria que pode ajudar o mercado.
A nova regulamentação do biometano de São Paulo não reduziria ou impediria o mercado de contratos bilaterais, uma vez que já é possível em muitos estados brasileiros que os consumidores de gás industrial comprem gás diretamente dos produtores, disse Mendonça, como alguns alegaram. O ritmo lento para os consumidores de gás industrial que entram em contratos bilaterais não é uma questão de sistema de distribuição, diz ele, mas sim uma percepção de risco por parte dos consumidores que poderia torná-los cativos dos distribuidores.
Mendonça disse que as distribuidoras podem ajudar o biometano a chegar aos consumidores de gás que buscam opções renováveis, já que a entrega é seu core business. A assinatura de acordos de fornecimento de gás com produtores de biometano também lhes dá uma renda garantida que incentivará o investimento na produção de biometano. Mas Mendonça adverte que os produtores devem fazer mais do que prometer os benefícios ambientais do biometano, mas se comprometer com acordos de take-or-pay e fornecer segurança de fornecimento para os consumidores.
“É uma tentativa de viabilizar esse mercado”, disse Mendonça sobre os contratos bilaterais. “Vamos observar como o mercado responde a isso.” Os distribuidores também podem desempenhar um papel em ajudar a vender o excesso de biometano quando os consumidores estão há muito tempo no gás, negociando-o em gasodutos uma vez que os produtores começam a injetá-lo nas redes de distribuição, diz ele.
A indústria de gás natural deve discutir o modelo de biometano que vai priorizar, diz Mendonça. A conexão de dutos com usinas de biometano é cara, uma vez que na maioria das vezes estão longe dos sistemas de dutos existentes, em áreas rurais. Assim, as empresas de distribuição estão pensando em novas maneiras de desenvolver esses mercados, como a criação de ilhas de distribuição em torno de regiões produtoras de biometano, onde uma nova rede de distribuição é construída em torno da produção, mas separada dos gasodutos de transporte e das principais áreas de distribuição, conforme criado pela empresa estatal de São Paulo GasBrasiliano.
Outra opção é fazer com que o gás chegue aos consumidores como gás comprimido ou liquefeito em caminhões, ou em um híbrido de caminhões e tubulações. Os distribuidores podem fazer parte desse sistema logístico, disse Mendonça. Do lado dos preços, Mendonça diz que os consumidores que querem comprar biometano devem estar preparados para pagar por um prêmio sobre o gás natural. O Brasil ainda não possui certificados ou créditos de biogás líquido ou biometano, dificultando que os consumidores encontrem o valor dos componentes verdes do preço do biometano. “A distribuidora de gás oferece o serviço logístico para entregar gás, mas é o consumidor que paga pelo prêmio de biometano, se ele estiver disposto. Ainda precisamos encontrar formas regulatórias de viabilizar isso”, disse Mendonça.
A indústria também deve encontrar maneiras de expandir a demanda pelo novo combustível, caso contrário, o mercado de biometano não se expandirá, uma vez que apenas substituirá o gás fóssil. O consumo de gás ou biometano em veículos de grande porte é uma oportunidade, diz Mendonça, permitindo que o Brasil reduza o consumo de diesel e óleo combustível. “O biometano e o gás devem andar de mãos dadas, com o gás criando uma nova demanda por biometano”, disse ele.
Fonte: Argus Media
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