O mercado voluntário de biometano será suficiente para que a indústria do gás renovável cresça nos próximos anos, mas a comercialização do biocombustível só ganhará escala, de fato, com políticas públicas de incentivo ao setor, como o Combustível do Futuro (PL 528/2020), defende o diretor de Engenharia e Implantação da Orizon VR, Jorge Elias. A companhia está construindo duas plantas de biometano – uma em São Paulo e outra em Pernambuco, ambas previstas para 2025 – e tem mais projetos em carteira no Sudeste e Nordeste à espera de uma decisão final de investimento. Elias conta que, hoje, a demanda pelo gás renovável, entre as indústrias interessadas em reduzir sua pegada de carbono, é maior que a oferta do produto, mas que o mercado voluntário é um mercado de nicho e que pensar num mandato, portanto, seria uma forma de dar continuidade ao crescimento da produção nacional. A empresa acompanha com atenção, nesse sentido, a tramitação do Combustível do Futuro no Senado. O projeto aprovado na Câmara cria um programa de descarbonização do mercado de gás natural, que obriga os supridores a reduzir gradualmente – em até 10% – as suas emissões por meio da aquisição de biometano.
“O primeiro passo do biometano já está sendo dado. Mas ele não ganha em escala, continua sendo um mercado de nicho… Para ele ter continuidade, ter um crescimento para sair desses 400 mil, 600 mil, 1 milhão de m3/dia [de oferta inicial] e chegarmos a uma produção de 10 milhões de m3/dia, será necessário [o Combustível do Futuro]”, disse Elias. O capítulo do biometano estava fora do escopo do PL originalmente enviado pelo governo ao Congresso. Na Câmara, a proposta incorporou, num primeiro momento, um programa de compra compulsória de biometano pelos produtores e importadores de gás – o relatório final, do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), contudo, foi na direção de um programa de descarbonização para o mercado de gás via biometano. Ao invés de comprovarem metas de aquisição de biometano com base no volume de gás comercializado, os agentes terão que cumprir metas de redução de emissões – a serem alcançadas por meio da participação do biometano no consumo do gás natural ou aquisição de Certificados de Garantia de Origem de Biometano (CGOB). O resultado prático, porém, continua ser incentivar a demanda pelo gás renovável.
Para Elias, é importante que as políticas de incentivo ao biometano (tanto o PL do Combustível do Futuro quanto as leis estaduais) sejam logo aprovadas, para atrair investimentos, ainda que ajustes futuros sejam necessários. Ele cita o caso da indústria do gás natural, que até hoje ainda carece de regulamentações. “Mas se você tentar ser mais real que o rei na saída, mata o negócio. Porque se coloca tanta barreira, tanto empecilho…Eu não vou apostar num negócio que não tem regra. Precisa ter regra”, comentou. O governo trabalha para que o PL do Combustível do Futuro seja aprovado antes do recesso parlamentar – sem alterações em relação ao texto que passou na Câmara dos Deputados, de modo que siga direto para sanção presidencial. Diante da falta de acordos no Senado, o relator Veneziano Vital do Rêgo (MDB/PB) adiou a entrega do seu parecer. A agência epbr apurou que o senador ainda avalia propostas, principalmente para o mercado de gás natural – produtores e consumidores industriais tentam alterar o mandato do biometano. E, assim, cogita deixar a votação para agosto. Já no Rio de Janeiro, a minuta de decreto que regulamenta a Política Estadual de Gás Natural Renovável esbarrou em questionamentos da Agenersa, a agência reguladora estadual e sua publicação, esperada para junho, foi postergada.
O pontapé da empresa no mercado de biometano aconteceu em 2022, quando entrou em operação a térmica Paulínia Verde (15,7 MW), contratada no leilão emergencial de 2021. É uma joint venture entre a Mercurio Partners, Grupo Gera e Orizon que consome biometano produzido no aterro local. A empresa decidiu, em seguida, avançar para uma segunda etapa em Paulínia. Formou então uma joint venture com a Compass, do grupo Cosan, para a construção de uma planta de biometano no aterro de Paulínia (SP) com capacidade inicial para produzir 180 mil m3/dia, a partir de 2025, mas que poderá alcançar até 300 mil m3/dia no futuro. A Edge, da Compass, ficará responsável pela comercialização do biometano em si. Em paralelo, a Orizon também investe numa segunda unidade, de 130 mil m3/dia, no Ecoparque de Jaboatão dos Guararapes (PE), também prevista para 2025. A produção local foi contratada pela Copergás, a distribuidora local de gás canalizado. A Orizon também anunciou a formação de duas sociedades com o grupo Urca, que controla a Gás Verde, para investimentos nas novas plantas de biometano nos aterros de Nova Iguaçu e São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. A parceria prevê uma produção inicial estimada de 180 mil m3/dia, mas ainda não foi concluída entre as partes. A gerente de Energia e Biocombustíveis da Orizon, Caroline Pinho, conta que a empresa também avalia novos negócios em São Paulo e no Nordeste – em ecoparques em João Pessoa (PB), Aracaju (SE) e Maceió (AL). Pinho disse que a estratégia de monetização do biometano dependerá de ativo para ativo, ao ser questionada se o plano de expansão seguirá o modelo de parceria na qual a comercialização do gás renovável é terceirizada – como é o caso da JV anunciada com a Compass, na qual a comercializadora do grupo Cosan será a responsável pela captura dos clientes finais. “A gente olha todo tipo de oportunidade e vê o que a gente consegue capturar mais valor agregado”, comentou.
Fonte: Epbr
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