A produção total de gás natural no Brasil deve dobrar nos próximos 10 anos. A estimativa é que a extração bruta do país alcance 314 milhões de m³/dia em 2034. No ano passado, o total foi de 150 milhões m³/dia. A disponibilidade desse gás para o mercado consumidor, no entanto, deve seguir restrita. Considerando o volume reinjetado nos poços, perdido ou queimado e consumido nas plataformas, a produção líquida de gás natural –ou seja, a quantidade efetivamente ofertada ao mercado– deve alcançar 134 milhões de m³/dia em 2034. Ou seja, uma disponibilidade de 42% ante ao total. As projeções integram os estudos do Plano Decenal de Energia, planejamento do setor energético para os próximos 10 anos que está sendo refeito pela EPE e o MME. O documento final ainda está em elaboração. De acordo com os estudos, a produção bruta de gás natural deve ter uma curva crescente nos próximos 10 anos. Os maiores incrementos anuais são projetados para 2025 (adição de 31 milhões de m³/dia) e para 2029 (mais 29 milhões de m³/dia).
A EPE mapeou pelo menos 5 grandes empreendimentos voltados para a produção de gás natural que devem entrar em operação na próxima década e estimular esse crescimento. Dentre eles estão os projetos Raia (liderado pela Equinor), Sergipe Águas Profundas (Petrobras) e Gato do Mato (Shell). O pré-sal, que atualmente responde por 75% da produção brasileira de gás natural, deve corresponder a 80% em 2034. A camada aumentará sua relevância mesmo com os projetos de gás em outras regiões, como em Sergipe.
De acordo com a EPE, a produção líquida de gás natural, ou seja, aquela efetivamente ofertada ao mercado, deve sair dos 52 milhões de m³/dia para 134 milhões de m³ em 2034. Se confirmado, será um crescimento de 158%. Entretanto, o volume disponibilizado ainda será bem distante da produção total de 314 milhões de m³/dia. Do volume que será entregue ao mercado, o pré-sal responderá por apenas 54%. Atualmente, a maior parte do gás não é ofertada ao mercado por basicamente 2 motivos: falta de infraestrutura de escoamento e de transporte e a alta reinjeção nos poços para elevar a produção de óleo são os motivos. Pelo que indica a EPE, o cenário deve mudar pouco nos próximos 10 anos. No Brasil, cerca de 85% do gás natural produzido está associado ao petróleo. É o caso do pré-sal. Ou seja, ambos estão presentes nos reservatórios. Para produzir óleo, as empresas têm que extrair gás natural. Restam às petroleiras duas opções: comercializar o gás ou reinjetá-lo. A devolução acaba sendo uma estratégia comercial de petroleiras, como a Petrobras, para aumentar a produção de petróleo. Ocorre que a injeção de gás natural, gás carbônico, água e outros fluidos aumenta a pressão dos reservatórios, ajudando a extrair o óleo. E o petróleo é mais lucrativo do que o gás
Em países com um perfil similar de produção, com predomínio de gás associado, as taxas de reinjeção de gás são naturalmente mais altas para ajudar na extração do petróleo. Variam de 20% a 35%. Contudo, o percentual no Brasil está acima de seus pares. Atingiu o recorde de 58% em março desde ano. Isso se deve à falta de infraestrutura. Enquanto o país correu para construir plataformas para extrair o óleo do pré-sal, não investiu o suficiente e a tempo para escoar o gás. Com isso, atualmente faltam gasodutos para levar a produção para o mercado e maior parte do que é extraído acaba voltando aos poços. Há só duas rotas de escoamento da produção de gás natural do pré-sal: os gasodutos Rota 1 e Rota 2, que interligam os campos às UPGNs (unidades de processamento de gás natural) em Caraguatatuba (SP) e em Cabiúnas (RJ). Essas estruturas exercem papel semelhante às refinarias de petróleo. Desde 2014, a Petrobras planeja o gasoduto marítimo Rota 3 para ampliar o escoamento da produção de gás, acompanhando o aumento da oferta do insumo. Os atrasos na construção provocaram vários adiamentos. Agora, o duto deve entrar em operação em setembro. Só ele tem potencial de reduzir em 10% a reinjeção no pré-sal. á ainda um outro problema, que é a falta de infraestrutura em terra para transportar o gás até as cidades. A malha nacional de gasodutos está praticamente estagnada há décadas e só chega até as cidades litorâneas. Com a rede limitada, não há estímulo ao consumo –e consequentemente a oferta– de gás na maior parte do país.
Fonte: Poder 360