A abertura do capital da Liquigás é uma, mas não a única, das possibilidades consideradas pela Petrobras, como alternativa ao veto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ao acordo de venda da distribuidora para a Ultragaz, do grupo Ultra, segundo quatro fontes consultadas pelo Valor. As restrições impostas pelo órgão antitruste, contudo, podem fazer a opção pelo IPO (sigla em inglês para oferta pública de ações) ganhar corpo.
O Valor apurou que o assunto ainda está totalmente em aberto dentro da estatal. Além do IPO, a Petrobras também avalia a possibilidade de reiniciar o desinvestimento da distribuidora de GLP no mercado, seguindo o mesmo modelo adotado anteriormente. Ou seja, vender 100% da empresa, para um novo controlador.
De acordo com sistemática do Tribunal de Contas da União (TCU), a estatal precisará recomeçar o processo da Liquigás do zero, divulgando ao mercado a oportunidade de venda para que todos os potenciais interessados, que atendam às condições do negócio, possam participar.
O entendimento na estatal, contudo, é que poucos investidores poderiam participar da negociação, devido às restrições impostas pelo Cade. Na quarta-feira passada (dia 28), a relatora do caso, a conselheira Cristiane Alkmin, sugeriu que a Petrobras deveria buscar uma empresa compradora com uma participação de mercado menor do que 10%, o que pode resultar em um processo pouco competitivo.
Quando a Petrobras lançou o processo de venda da Liquigás na praça, em 2016, as maiores concorrentes da Ultragaz – a Nacional Gás e SHV – Supergasbrás – também estavam no páreo, mas por possuírem fatias relevantes do mercado, possivelmente também enfrentariam restrições do órgão antitruste. Consigaz, Copagaz, a turca Aygaz e a Gávea Investimentos, fundo do economista Armínio Fraga, completam a lista de empresas envolvidas no início do processo de desinvestimento da distribuidora.
Porém, como relata uma fonte, nenhuma delas conseguiu fazer frente à oferta da Ultragaz, de R$ 2,8 bilhões. O grupo Ultra estava disposto a pagar um prêmio maior pelo ativo, para consolidar sua liderança no mercado.
Mas, com a imposição de restrições pelo Cade surgiu a hipótese de vender as ações da distribuidora de GLP na bolsa. Uma fonte lembrou, contudo, que a opção por um IPO “não é trivial”, sobretudo num ano eleitoral, e que exige tempo para ser estruturada.
A Petrobras informou que as alternativas para desinvestimento da Liquigás ainda estão sendo avaliadas e nenhuma decisão foi tomada até o momento na diretoria executiva. A empresa reforçou também que mantém a estratégia de sair integralmente do segmento de distribuição de GLP, conforme previsto no plano de negócios da companhia.
O Valor apurou que “todas as possibilidades” estão em aberto e que o assunto ainda não passou pelo conselho de administração. “Tudo é possível”, disse uma fonte ao ser questionada sobre a possibilidade de venda da empresa via mercado de capitais.
A venda da Liquigás à Ultragaz foi fechada em 2016. Na ocasião, a Petrobras incluiu no contrato a hipótese de rescisão do contrato, sujeitando a compradora a uma multa de R$ 286,2 milhões.
Na época, a venda da distribuidora correspondeu a 6% dos desinvestimentos anunciados pela estatal no biênio 2015-2016, de US$ 13,6 bilhões. Para o biênio 2017-2018, a companhia anunciou outros US$ 21 bilhões.
Neste momento, a empresa tem negociações avançadas, na fase de recebimento de ofertas vinculantes, para vender a Transportadora Associada de Gás (TAG), as áreas de Enchova e Pampo, em águas rasas, e a unidade de fertilizantes (inacabada) de Três Lagoas (MS).
Fonte: Valor Econômico