O combustível fóssil de crescimento mais rápido do mundo pode sofrer um impacto direto das crescentes tensões comerciais globais. O duro discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o comércio com a China põe em risco os esforços de seu país para se tornar o maior exportador mundial de gás natural liquefeito. Na Europa, o projeto de um gasoduto da Rússia está em perigo por possíveis sanções dos EUA, enquanto as práticas de vendas do Catar, maior vendedor de GNL do mundo, estão sendo investigadas para determinar se são anticoncorrenciais.
As tensões podem abalar o comércio mundial de gás, que chegou a quase US$ 300 bilhões no ano passado, e distorcer os fluxos da commodity exatamente quando a demanda pelo combustível mais limpo dispara. Também podem estremecer projetos de exportação de vários bilhões de dólares nos EUA e criar oportunidades para países que não foram afetados pela
onda de protecionismo.
“O populismo voltou e, com ele, uma forma de nacionalismo econômico, e isso coincidiu com o surgimento global do gás”, disse Trevor Sikorski, chefe de pesquisa sobre gás natural e carbono da Energy Aspects em Londres. “O populismo leva a guerras comerciais e, assim que isso acontece, qualquer opção pode ser considerada.”
As complicações decorrentes de disputas comerciais e tensões geopolíticas podem distorcer o mercado global de gás, embora seja improvável que isso atrapalhe seu crescimento, disse Sikorski. Por exemplo, se a China impuser tarifas ao GNL dos EUA, os traders podem redirecionar as cargas para o Japão e a Coreia do Sul enquanto vendem gás australiano para a
China. Ou uma queda nas remessas do Catar para a Europa pode aumentar as da Nigéria ou de Angola para o continente europeu.
O resultado final serão taxas extras para os traders e custos ligeiramente maiores para os consumidores finais, disse Nicholas Browne, analista da Wood Mackenzie em Tóquio. Ele mencionou o gasoduto da Rússia para a Europa, que acaba de completar 50 anos, como exemplo de como o comércio pode resistir apesar das disputas.
Se há interesse, fluxo não para “Até mesmo no auge das tensões soviéticas ou nos piores dias da crise na Ucrânia, eles continuaram exportando gás para o Ocidente”, disse Browne. “Quando for do interesse econômico de ambas as partes, o comércio persistirá.”
Isso está sendo testado novamente pelos esforços russos para impulsionar as vendas europeias. O presidente Vladimir Putin afirmou recentemente que os interesses comerciais dos EUA estão no centro das ameaças de sanções de Trump contra o gasoduto Nord Stream 2, entre a Rússia e a Alemanha, porque seu sucesso pode reduzir a demanda da Europa por gás dos EUA.
Enquanto isso, a Europa também tenta dar a suas empresas de serviços públicos maior flexibilidade e enfraquecer o controle do Catar sobre o mercado. A Comissão Europeia afirmou no mês passado que iria verificar “cláusulas problemáticas de restrição territorial” em contratos de GNL com o país do Oriente Médio, que podem impedir que os importadores revendam o gás. Essa investigação ocorre um mês depois de o órgão regulador do bloco de 28 países ter estabelecido uma investigação de sete anos sobre como a Gazprom, da Rússia, fixou os preços para o fornecimento de gás para a Europa através do gasoduto.
Fonte: Valor Online
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