A brasileira Amazonica Energy está negociando com uma companhia internacional da área de gás natural uma parceria para implantar um sistema de movimentação de gás natural liquefeito (GNL) na região amazônica, utilizando 23 mil km de redes hidroviárias do Pará, Amazonas e Rondônia. As tratativas em andamento, apurou o Valor com fontes próximas, são com o grupo japonês Mitsubishi, por meio da subsidiária Mitsubishi Corporation do Brasil.
Pela negociação, foi firmado um acordo para a realização de estudos técnicos, operacionais e econômicos de viabilidade do projeto na região Amazônica. Os estudos têm prazo de realização de dois anos. O sócio estrangeiro, caso o negócio se mostre viável, deverá ter uma
participação minoritária no empreendimento, orçado em US$ 600 milhões.
O acordo prevê a criação de uma sociedade de propósito específico (SPE) entre a Amazônica Energy e a Mitsubishi para desenvolver o negócio de distribuição de gás natural. A parceria deve ser anunciada nos próximos dias, apurou o Valor. Há ainda a possibilidade de ingresso de um terceiro sócio, de perfil financeiro ou estratégico.
Em entrevista ao Valor, Marcelo Araújo, presidente da Amazonica Energy, evitou confirmar o nome do parceiro, dizendo que as negociações ainda eram sigilosas e o anúncio ocorrerá em breve. “É muito possível que acoplemos mais um sócio estratégico nessa SPE. Estamos estudando com alguns. Pode ser um sócio financeiro ou um sócio da própria indústria de GNL”, disse o executivo e um dos sócios da Amazônica.
Constituída em 2016 e autorizada em 2018 pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para exercer a atividade de comercialização de gás natural, a empresa é formada por técnicos do setor elétrico. Entre os sócios estão o engenheiro elétrico Araújo, ex-consultor da área de gás e energia da Petrobras, com passagens por Neoenergia, Eneva e Enel, e o engenheiro civil Livio Rodrigues de Assis, ex-diretor da Celpa.
O empreendimento desenhado pela empresa é dividido em duas fases, que em algum momento poderão ser desenvolvidas em paralelo, caso o trâmite das duas etapas seja resolvido. A primeira fase engloba o eixo entre Itacoatiara (AM) e Porto Velho (RO), com demanda estimada de 3 milhões de metros cúbicos diários de gás natural. A segunda etapa envolve a região de Ponta de Pedras, na Ilha de Marajó.
A primeira etapa do projeto, com investimentos previstos de US$ 300 milhões a US$ 350 milhões e na qual a Amazônica Energy está concentrando os esforços neste momento, envolve a construção de um terminal em Itacoatiara para a atracagem de um Floating Storage Unit (FSU), um navio de estoque de gás, que servirá como um porto flutuante.
O GNL será importado e fornecido pela parceira internacional. O insumo energético será transportado até o terminal por um navio metaneiro. Do terminal, o produto será movimentado para o interior amazônico, em direção a Porto Velho, por meio de barcaças, com capacidade de 1,2 mil metros cúbicos diários cada. A companhia prevê montar uma frota de 50 barcaças (considerando as duas fases) e dez empurradores. A ideia é que as embarcações sejam construídas no Brasil.
Ao chegar nos destinos finais, o GNL será transformado em estado gasoso por meio plantas de regaseificação modulares de pequeno porte, com capacidades que vão variar de 50 mil a 300 mil metros cúbicos diários. Para alguns casos, dependendo do porte do cliente, a planta pode ser de tamanho médio, com capacidade de até 1,5 milhão de metros cúbicos diários. No desenho de referência da Amazonica Energy, estão previstas 30 plantas de regaseificação.
“Tanto o Pará, quanto Rondônia, como o próprio Amazonas são estados que têm uma perspectiva de mercado bastante amplas. Tanto de mercado existente, que hoje opera com outros combustíveis, quanto de um mercado ainda reprimido”, afirmou Araújo.
A opção por iniciar o empreendimento pelo trecho Itacoatiara – Porto Velho deve-se à carência por gás natural em Rondônia e à receptividade ao projeto naquele Estado. “Temos trabalhado junto com a Rongás [distribuidora de gás natural do Estado], em parceria. Temos um acordo de desenvolvimento daquele mercado e um estudo técnico para abastecimento de gás natural ao Estado de Rondônia, com a entrega desse combustível em forma líquida em Porto Velho”, explicou o executivo.
A expectativa da Amazonica é iniciar a operação do projeto no fim de 2021, comercializando um total em torno de 2,5 milhões de metros cúbicos ao dia. “Especificamente para Porto Velho, estamos estudando uma possibilidade de antecipação”, acrescentou o executivo. A expectativa é dobrar esse volume em 2024.
Enquanto negocia a entrada de novos sócios, a Amazonica negocia com fundos de private equity o financiamento para parte do projeto. Também há conversas com bancos de desenvolvimento internacionais, devido ao potencial de redução de emissões de gases poluentes ao se substituir óleo combustível e diesel por gás natural.
Para esse trabalho de captação de recursos, a Amazonica contratou a assessoria financeira da norueguesa Storm Capital Partners.
Para 2019, Araújo disse que a empresa já possui um montante de R$ 20 milhões para utilizar no processo de licenciamento ambiental e estudos de pré-implantação do projeto. “Esse é o dinheiro que vai ser consumido este ano para licenciamento ambiental, engenharia, entre outras licenças federais e, eventualmente, alguma aquisição de área”, explicou ele.
Fonte: Valor Econômico
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