Reportagem do Financial Times mostra que o consumo mundial de gás natural neste ano terá a maior queda na história, como resultado das medidas para conter a disseminação do coronavírus e do consequente choque sem precedentes na demanda.
O consumo mundial de gás natural neste ano terá a maior queda na história, como resultado das medidas para conter a disseminação do coronavírus e do consequente choque sem precedentes na demanda, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
Em anúncio na semana passada, a AIE, cuja sede fica em Paris, destacou que os efeitos da pandemia, somados a um inverno mais ameno do que o usual no Hemisfério Norte, provocarão uma queda de 4% no consumo mundial de gás natural em 2020, o que representa 150 bilhões de metros cúbicos a menos, com impacto em todas as regiões do mundo. O declínio será duas vezes maior do que o registrado depois da crise financeira mundial em 2009, quando a demanda caiu 2%.
Embora o impacto das medidas de confinamento impostas pelos governos mundiais na indústria de gás natural tenha sido menor do que o sofrido pelas de petróleo e carvão, que são mais usados no transporte e geração de eletricidade para empresas, a queda estimada mostra que o setor “está longe de ser imune” à pandemia, disse Fatih Birol, chefe da AIE.
Nos últimos anos, o setor de gás natural beneficiou-se da tendência de substituição do carvão pelo gás em vários setores, uma vez que os baixos preços e as políticas em prol da limpeza do ar têm encorajado a troca, em particular na China. Em 2019, a demanda cresceu 1,8% na comparação anual, o que equivale a 70 bilhões de metros cúbicos.
“O declínio recorde neste ano representa uma mudança drástica nas circunstâncias para um setor que se acostumara a fortes aumentos na demanda”, disse Birol.
Embora seja uma alternativa mais “limpa” na comparação com o que o carvão, o gás também é foco das atenções de ativistas ambientais e de alguns investidores, que querem desviar a alocação de recursos financeiros para longe dos combustíveis fósseis.
Ainda assim, muitos dos maiores nomes no setor de fontes de energia e importantes governos veem o gás como necessário para atender a demanda mundial por energia.
Os vários anos de fortes aumentos no consumo resultaram em altos investimentos na área de gás natural liquefeito (GNL). Um recorde de US$ 65 bilhões em investimentos em bens de capital em instalações de GNL foi anunciado em 2019, de acordo com a AIE.
Neste ano, contudo, o gás usado em geração de eletricidade será o segmento mais afetado, sendo responsável por mais da metade do declínio total estimado para a demanda. A geração de energia a gás terá uma queda particularmente mais forte na Europa, segundo a AIE, porque além da queda na demanda por energia elétrica, há um crescente uso de fontes renováveis na geração de eletricidade.
Depois da geração de energia, a maior queda na demanda está prevista nos setores comercial e residencial. O inverno de temperaturas mais moderadas reduziu a necessidade de gás para aquecedores no início do ano, enquanto os lockdowns impostos por governos reduziram o consumo pelas empresas.
A demanda por gás de uso industrial também caiu em função do impacto da doença, que paralisou economias pelo mundo e desacelerou as fábricas. Ao mesmo tempo, o próprio setor de energia teve uma forte queda no consumo do combustível.
A indústria de gás deverá se recuperar gradualmente nos próximos dois anos, mas a crise da covid-19 terá “impacto duradouro”, segundo Birol, já que o excesso de oferta e os investimentos e nova capacidade produtiva continuam superando a demanda.
Fonte: Valor Econômico / Financial Times
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