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Ternium quer substituir coque por gás

A abertura do setor de gás no Brasil começa a influenciar decisões de negócios em diferentes segmentos. Um exemplo vem da Ternium, companhia siderúrgica do grupo ítalo-argentino Techint. Atualmente, a usina do grupo em Santa Cruz, no Rio de Janeiro, produz cerca de 4,7 milhões de toneladas de placas de aço por ano com uso de coque, mas a empresa avalia converter processos produtivos da instalação, para poder também utilizar o gás natural como matéria-prima.

O vice-presidente da Ternium, Pedro Teixeira, explica que, com a conversão, a siderúrgica pode ter um acréscimo de cerca de 10% em sua capacidade, que chegaria a 5,2 milhões de toneladas por ano. Além disso, a alteração reduziria as emissões de carbono da operação. “Podemos produzir aço de forma mais competitiva usando o gás natural. Exportamos quase 90% da produção, então cada dólar de aumento de competitividade é importante”, explica Teixeira.

A decisão final de investimento para o projeto que visa aumentar a eficiência, no entanto, depende da aprovação da Nova Lei do Gás, em análise no Senado Federal desde o ano passado. “Esta é uma rota de produção [de aço] mais moderna, mas que precisa do gás natural competitivo para ser viabilizada”, afirma o diretor comercial e de desenvolvimento de negócios da Techint, Luis Guilherme de Sá.

Fora do Brasil, a Ternium já utiliza o gás natural em sua produção em outros países, como no México e na Argentina. De acordo com o vice-presidente da companhia, hoje o preço para a compra do gás no mercado brasileiro é de US$ 12 por milhão de BTU (medida térmica do gás), em comparação com os US$ 2 por milhão de BTU na Argentina. “A Ternium é a maior produtora de aço da América Latina, é natural que nossos acionistas façam comparações. Hoje, o fato de o gás natural ser muito mais caro no Brasil é desfavorável para a nossa operação no país. Nosso esforço é para tornar nossa atuação mais atrativa para que novos projetos sejam aprovados pelos acionistas”, diz Teixeira.

O grupo tem esperança de que eventuais preços mais baixos de gás ajudem não somente a elevar a capacidade de produção da usina, mas também a baratear o consumo de energia da usina. Hoje, a Ternium opera uma termelétrica que fornece eletricidade para a produção do aço. A usina de energia elétrica tem 490 megawatts (MW) de capacidade instalada, mas no momento duas turbinas a gás de 90 MW cada estão paradas.

Segundo Teixeira, a redução no preço de aquisição do gás natural pode levar o grupo a diminuir a capacidade ociosa da térmica, baixando o custo da energia na siderúrgica, além de viabilizar novos projetos. “Nós operamos no Rio de Janeiro um complexo industrial completo para fazer aço, que inclui terminal portuário privativo que oferece vantagem competitiva no recebimento de gás e, eventualmente, até para outros produtos que poderiam sair de uma unidade de processamento de gás”.

Os executivos destacam que novos investimentos da Ternium no país também estão atrelados a outras reformas, como a tributária. Além da federal, mudanças na cobrança de impostos estaduais para evitar a dupla tributação do gás em indústrias exportadoras também é um ponto importante para o desenvolvimento dos projetos.

À espera das reformas, a companhia começou a conversar com potenciais supridores de gás. Há negociações em andamento, por exemplo, com as petroleiras com reservas na região do pré-sal que têm potencial para iniciar a comercialização em cerca de cinco anos. A Ternium atualmente é cliente da distribuidora Naturgy, com a qual também já trava conversas sobre uma eventual ida para o mercado livre, no qual os consumidores podem escolher os fornecedores. “Temos um consumo constante, diferente das térmicas, que têm uma característica de intermitência na demanda. Para as petroleiras, um contrato de longo prazo com uma indústria que usa o gás na base é muito interessante”, afirma Teixeira.

 

Fonte: Valor Econômico

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