O verão seco e o baixo nível dos reservatórios hidrelétricos provocaram uma demanda mais intensa por despacho de energia térmica, especialmente nos meses de janeiro e fevereiro. Dados do ONS apontam que a participação da geração das usinas térmicas a gás natural no Sistema Interligado Nacional (SIN) teve picos de mais de 20% nesse período. No entanto, enquanto a demanda por energia térmica crescia, a capacidade indisponível das usinas também aumentava.
Em 31/12/2020, a diferença registrada entre a capacidade instalada no parque térmico e a capacidade disponível de geração era de 4.824 MW. Ao longo de janeiro, a indisponibilidade evoluiu até atingir um pico de 6.574 MW no dia 23/01. A capacidade indisponível voltou a subir em fevereiro, chegando a atingir patamares acima de 7.000 MW, e vem mantendo-se em patamares elevados desde então. No último dia 30/03, esse número chegava a 7.239 MW, o que equivale a mais de duas vezes a capacidade das usinas GNA I e II somadas.
Segundo especialistas, o principal motivo do crescimento da indisponibilidade no parque térmico brasileiro é o aumento no número de paradas de manutenção nas usinas. Além de uma temporada de seca mais intensa, seguida de um verão de poucas chuvas, a necessidade de despacho térmico também foi impulsionada por restrições na geração de energia a partir da hidrelétrica de Belo Monte.
Com o acionamento mais frequente das térmicas a gás, o número de paradas de manutenção cresceu. Eli Elias, presidente da Brasil Comercializadora de Energias, observa que as plantas térmicas instaladas no Brasil não foram projetadas para rodar de forma ininterrupta, por isso têm limites técnicos para o número de horas de funcionamento.
“Quando você roda muito perto ou acima do limite por muito tempo, há perda de rendimento. E se você ultrapassa um determinado número de horas de operação tem de parar para fazer manutenção, ou então, pode até perder a garantia do equipamento”, explica.
Xisto Vieira Filho, presidente da Associação Brasileira das Geradoras Termelétricas (Abraget), admite que a alta demanda tem aumentado a frequência de partida e parada das plantas, o que provoca maior número de paradas de manutenção e, consequentemente, reduz a capacidade disponível das usinas. Ele observa que, apesar do aumento na indisponibilidade, as térmicas a gás possuem folga de capacidade. Com isso, o parque gerador térmico vem conseguindo cumprir as ordens de despacho do ONS e não há risco de abastecimento.
Xisto, no entanto, prevê que a demanda por energia térmica deve se manter em alta nos próximos meses. “O nível dos reservatórios hidrelétricos não se recompôs adequadamente neste verão”, diz ele. Em meados de março o armazenamento das hidrelétricas na Região Sudeste, por exemplo, estava pouco acima de 30%. Ainda assim, o presidente da Abraget não vê risco de abastecimento no futuro próximo.
O que não se sabe é qual pode ser o comportamento da economia ao longo de 2021 e como ele pode afetar a demanda de energia e a necessidade de despacho das térmicas a gás natural. Para Elias, a recessão causada pela pandemia pode ter evitado um problema para o setor elétrico. “Se não fosse a baixa produção industrial, o cobertor estava curto”, conclui.
Fonte: EnergiaHoje
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