Diante da febre dos certificados de energia renovável, com os quais as empresas “limpam” seu consumo de eletricidade e avançam nas metas de sustentabilidade, o mercado nacional já está desenvolvendo um produto similar para os consumidores de gás. Espera-se para este ano o lançamento dos Gas-RECs, que poderão atestar o consumo de gás natural “renovável” – ou seja, do biogás.
A lógica é semelhante à dos I-RECs, que asseguram que cada megawatt-hora foi gerado por uma fonte renovável de energia, injetado no sistema, até ser consumido pela empresa. No caso do gás, o certificado garante o rastreamento de biogás gerado e distribuído em usinas pelo país, chegando até o ponto de consumo.
“Assim como ocorre para a energia elétrica, as empresas poderão dar uma origem renovável para o seu gás adquirindo os certificados. É um mercado que está começando, acredito que vamos ter a primeira transação de Gas-REC neste ano”, afirma Fernando Lopes, presidente do Instituto Totum, que é o emissor local dos I-RECs e, futuramente, vai emitir os Gas-RECs.
O Totum já está realizando o processo de habilitação de duas usinas de biogás para a emissão dos Gas-RECs. O processo de rastreamento do biocombustível será realizado através de um sistema de “book and claim”, ou seja, de entradas e saídas, sem necessariamente seguir o fluxo físico. O sistema assegura que não existe dupla contagem, nem duplo beneficiário, do ponto de produção do biometano até o consumidor final.
Embora seja novidade, o produto já nasce para atender uma demanda do mercado. Com o fortalecimento da agenda “ESG”, várias empresas passaram a olhar com mais atenção seu próprio consumo de eletricidade e gás.
É o caso da montadora Scania, que usa gás natural em alguns de seus processos, como na pintura de cabines dos veículos. “Gostaria de ver para o gás o mesmo marco legal e ‘modus operandi’ que existe para a energia elétrica. A energia limpa, verde e renovável entra no ‘grid’ (rede) e você compra o certificado aqui no ponto final. Esse é meu sonho dourado”, afirma o presidente da Scania na América Latina, Christopher Podgorski.
Certificados de gás “renovável” já são comercializados na Europa e nos Estados Unidos. As compras costumam ser voluntárias – diferentemente do que ocorre para os certificados de energia, que muitas vezes são adquiridos para que as empresas possam cumprir obrigações regulatórias.
Segundo Lopes, do Totum, o Brasil deverá ser o primeiro país da plataforma international I-REC Standard a comercializar os Gas-RECs. Também utilizam essa plataforma países da América Latina, como México, Colômbia, Chile e Costa Rica, e outros grandes mercados de energia no mundo, como China e Índia.
O biogás é visto como uma grande promessa no Brasil, já que sua principal origem é a indústria sucroalcooleira e o agronegócio. O mercado vem crescendo, mas ainda não deslanchou: em 2020, foram produzidos 1,8 bilhão de metros cúbicos de biogás, muito abaixo do potencial de 44,1 bilhões de metros cúbicos anuais, segundo cálculos da associação ABiogás. Para 2021, a entidade estima crescimento de 30% da produção.
Fonte: Valor Econômico
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