A Abegás, representante das concessionárias de gás, pretende entrar com uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), contra a petroleira.
A Petrobras propôs aumentar entre duas e quatro vezes o preço do gás natural no ano que vem, nos novos contratos que a estatal está negociando com as distribuidoras estaduais. A Abegás, representante das concessionárias de gás, pretende entrar com uma representação Cade, contra a petroleira.
Embora 2022 deva marcar a entrada de novos fornecedores no mercado brasileiro, a Petrobras deve seguir como agente dominante. A expectativa é que os consumidores devem se beneficiar da abertura do setor em apenas alguns poucos casos pontuais. Na maior parte dos Estados, que mantêm a dependência da estatal, a previsão é de que haja um aumento expressivo nas tarifas, na contramão do “choque de energia barata” prometido pelo governo.
Segundo a Abegás, a Petrobras apresentou propostas de contrato com diferentes prazos de validade e valores. Para aqueles de mais curto prazo, de seis meses a um ano, o aumento proposto é de até quatro vezes.
O preço da molécula do gás praticado pela estatal, no país, hoje, oscila entre US$ 8 e US$ 9 o milhão de BTU (unidade térmica britânica). Com a proposta, esse preço pode chegar a algo entre US$ 25 e US$ 35, em linha com o atual patamar do índice asiático JKM, que tem sido bastante pressionado pela crise energética da China.
A estatal também ofereceu uma opção de contrato de mais longo prazo, de até quatro anos. Nesse caso, os preços praticados podem atingir entre US$ 16 e US$ 20 o milhão de BTU, segundo uma fonte.
“Um contrato desse tipo fecharia o mercado por mais quatro anos, impediria a abertura do mercado. É uma condição que preocupa muito a gente. A Petrobras está exercendo seu poder de mercado e colocando uma situação em que as distribuidoras não teriam opção de aquisição junto a outras empresas”, afirma o diretor de estratégia e mercado da Abegás, Marcelo Mendonça.
Segundo ele, 80% do volume das distribuidoras do país está para ser descontratado em 2022. As concessionárias estão numa corrida para fechar novos contratos, incluindo novos fornecedores, com validade já para a partir de janeiro. Mendonça conta, no entanto, que não há gás disponível de outros supridores, para todo o mercado nacional.
Ele estima que os novos fornecedores teriam condições de atender, nesse momento, no máximo, 5 milhões de m³/dia – volume que representa cerca de 12% de toda a demanda não térmica das distribuidoras em outubro, por exemplo. Ou seja, mesmo com a entrada de novos atores, a Petrobras sendo a principal supridora do mercado nacional.
Segundo uma fonte, a Petrobras decidiu aumentar os preços diante da alta expressiva do preço do gás natural liquefeito (GNL) no mercado global. No terceiro trimestre, a petroleira reportou uma queda de 98,5% no lucro líquido da área de gás energia, para R$ 20 milhões. O resultado da empresa tem sido pressionado pelos altos custos com importação de GNL, para suprimento das térmicas, no cenário de escassez hídrica.
Procurada, a Petrobras esclareceu que está participando das negociações com as distribuidoras estaduais “considerando a sua disponibilidade de gás”. Em função do cumprimento dos compromissos do termo de compromisso com o Cade, para a abertura do mercado, “as ofertas de gás pela Petrobras são restritas, observando as efetivas disponibilidades da companhia”. A empresa alega ainda que o portfólio da Petrobras prevê diferentes fontes de oferta, sendo a importação por GNL indispensável para atendimento ao mercado previsto para o ano de 2022, e aos compromissos já assumidos.
Fonte: Valor Online