A Compagas quer ampliar o número de postos no estado que ofertam GNV para caminhões no projeto Corredor Azul. O objetivo é aproveitar a janela de oportunidade para aplicação desta alternativa na matriz de transportes como um combustível de transição, antes que a janela feche.
Apesar de ser um fóssil, o gás natural é menos poluente que outros combustíveis derivados do petróleo, como o diesel, e está na mira tanto de companhias de gás que querem desenvolver esse mercado, quanto das transportadoras que buscam soluções para descarbonizar suas operações sem aumento de custos.
“É um insumo menos poluente que outros de origem fóssil e está presente em nosso dia a dia como uma fonte viável para todos os segmentos de mercado”, diz Rafael Lamastra Junior, diretor-presidente da Compagas e presidente do Conselho de Administração da Abegás.
Segundo a Compagas, o GNV reduz a emissão de CO2 em 23% quando comparado com o diesel, enquanto o biometano alcança uma redução próxima a 85%.
Outra vantagem, diz Rafael, é a possibilidade de aplicação do combustível em maior escala. Com o Corredor Azul, a Compagas pretende incentivar veículos movidos 100% a gás.
O projeto foi dividido em três fases. A primeira foca no aproveitamento da base existente de postos que já comercializam ou podem comercializar o gás.
Esses postos estão localizados em rodovias onde a companhia possui infraestrutura — passando por Curitiba e Região Metropolitana, e cidades como Ponta Grossa e Paranaguá, além de rotas para os estados de São Paulo e Santa Catarina.
A segunda vai identificar o potencial de regiões para receber infraestrutura da rede de distribuição no interior do Paraná, considerando o fluxo de veículos pesados, a autonomia e a quilometragem percorrida pelo caminhoneiro até a parada para abastecimento e também o potencial de produção de biometano.
Já a última prevê que as principais rodovias e rotas do estado sejam 100% atendidas pela oferta de gás para veículos pesados.
A primeira fase está em andamento e a previsão é de conclusão nos próximos três anos. As demais devem começar na sequência.
Segundo Marcelo Mendonça, diretor da Abegás, a pauta está com o Governo Federal desde 2019 e, de lá para cá, algumas ações foram feitas, como a concessão de linhas de financiamento pelo BNDES para ampliar o uso do gás natural no transporte de cargas e no transporte público.
A proposta de corredores sustentáveis – para biometano, GNV e GNL – é analisada por grupos de trabalho do Ministério da Economia e está no radar de um subcomitê do programa Combustível do Futuro, do MME.
Veículos pesados movidos a gás natural já são uma realidade no Brasil. Diretor da Scania, Paulo Genezini conta que a marca está comercializando caminhões com motores dedicados tanto a GNV quanto a GNL
“Como a eletrificação total vai demorar para chegar aos transportes pesados, dos pontos de vista econômico e ambiental a solução a gás é a principal hoje, pois consegue o mesmo desempenho de um motor a diesel em termos de torque, e ainda contribui para a redução de poluentes na natureza”, afirma.
De acordo com Genezini, já foram vendidos mais de 400 caminhões do tipo no Brasil.
Entretanto, infraestrutura ainda é um dos principais limitadores para a escala dessa alternativa. O diretor da Scania explica que, nos grandes centros o abastecimento é razoável, mas no interior a escassez ainda é grande.
Salvaria vidas, mas não o suficiente. É o que mostra um estudo da Universidade de São Paulo (USP) e do Imperial College London, no Reino Unido, sobre a viabilidade de criar um Corredor Azul no Estado de São Paulo.
De acordo com a pesquisa publicada em agosto na revista científica Atmospheric Environment, o GNL ajuda a reduzir as emissões de material particulado, mas não o suficiente para evitar todas as mortes atribuíveis à poluição nas cidades vizinhas às rodovias estudadas.
O artigo identificou que veículos movidos a gás natural produzem entre 70% e 85% menos poluentes que aqueles a gasolina ou a diesel, além de uma redução de 10% na emissão de gases de efeito estufa (GEE) em comparação com os caminhões a diesel — portanto, era de se esperar uma correlação entre mortes e poluição do ar.
Mas, pela simulação, a mudança no combustível dos caminhões para gás natural liquefeito poderia evitar menos de cinco mortes por ano por câncer de pulmão.
Com relação às doenças cardiovasculares, a redução máxima seria de 14 mortes, mas com 90% de chance de menos de cinco mortes serem evitadas. Para as doenças respiratórias em idosos, menos de dez mortes seriam evitadas anualmente.
Implementando Reformas do Mercado de Gás no Brasil. Relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) avalia que a abertura do mercado brasileiro pode apoiar a transição de energia limpa. Entre as possibilidades está a integração de uma parcela maior de energias renováveis variáveis no sistema de energia mais amplo, além do apoio à produção descentralizada, em pequena escala de gases de baixo carbono, como biometano, hidrogênio, metano sintético.
Fonte: Epbr