Fundo Garantidor do Biogás lança edital para selecionar gestor

O Fundo Garantidor do Biogás, criado pela Abiogás com apoio do Lab, aceleradora de instrumentos financeiros da ONG Climate Policy Iniciative (CPI), lançou hoje edital para seleção da entidade que vai gerir o fundo de apoio ao setor.

O fundo foi desenvolvido no ano passado para oferecer garantias aos financiamentos para projetos de produção de biogás e agora precisa de um gestor para entrar em operação. O fundo deverá ser protocolado na CVM como um fundo de renda fixa e na modalidade de blended finance, ou seja, parte com capitais de mercado e parte com capital concessional – voltado a projetos de mitigação climática, que pode ter apoio de agências de fomento ou capital filantrópico.

Os candidatos a gestor do fundo têm até 25 de março para apresentar suas propostas. O processo de seleção será feito em duas etapas e o resultado final será divulgado em 9 de maio.

Segundo Gabriel Kropsch, vice-presidente da Abiogás, os gestores podem apresentar propostas para o fundo com algumas diferenças do que foi proposto até então pela associação e pelo Lab. “Estamos abertos à discussão caso alguém tenha ideia de como estruturar ou fazer avançar [o biogás] de forma melhor”, disse ele em apresentação virtual de lançamento do edital.

O plano da Abiogás é voltar o fundo ao apoio de investimentos de médio porte, que são os que representam a maior parcela dos investimentos potenciais na área e os que têm maior dificuldade em acessar as atuais linhas de crédito por falta de garantias.

“É diferente de projeto de energia elétrica, no qual o empreendedor entra em um leilão, consegue um contrato de 20 a 25 anos, e usa este colateral para levantar recurso. No biogás não tem isso”, observa. A Abiogás deve certificar quais projetos poderão ser escolhidos pelo fundo pelos seus aspectos econômicos e ambientais.

Assegurando as garantias, os investimentos poderão acessar linhas de credito já existentes. “As linhas [de financiamento] existem. No caso do Fundo Clima, há linhas extremamente incentivadas. Depois de algumas linhas agrícolas, é uma das linhas com juros mais baixos do Brasil, com juros negativos se considerar a inflação. Mas a perna da garantia acaba sendo um limitador”, atesta Nabil Moura Kadri, chefe do departamento de meio ambiente do BNDES, que também participou do evento virtual.

O volume de recursos a serem levantados deverá ser definido pela entidade gestora, mas a Abiogás estipula que o fundo poderá levantar cerca de R$ 300 milhões, o que ainda está abaixo dos R$ 1 bilhão de intenção de aportes já mapeados pela própria associação com seus próprios associados.

A Abiogás calcula que, considerando todos os resíduos agrícolas e urbanos já existentes atualmente, o Brasil poderia produzir 30 milhões de metros cúbicos por dia de biogás. O maior potencial está no setor sucroalcooleiro, que gera resíduos no campo e na indústria, seguido do setor de proteína animal, da produção agrícola em geral, e de resíduos urbanos. Para a concretização desta produção, porém, são necessários investimentos de R$ 50 bilhões, segundo a associação.

Para a Abiogás, mesmo em setores que já têm mais projetos de biogás, como na cana, o fundo pode destravar mais investimentos. Segundo Kropsch, da Abiogás, os aportes em biogás realizados por usinas suroalcooleiras atualmente estão mais concentrados em formatos de investimento garantidos por grandes sócios. “Seja na cana, na criação de suínos, de aves, no tratamento de resíduos e de esgotos, todos os segmentos de fontes podem ser beneficiados por esse instrumento [do fundo]”, afirmou ele.

Fonte: Valor Online