O choque da inflação no orçamento das famílias provocou mudanças no padrão de consumo dos produtos essenciais e de primeira necessidade nos lares de baixa renda. Mesmo bens de baixa elasticidade, cuja demanda, em tese, não muda muito quando ficam mais caros, tiveram retrações consideradas significativas por seus fornecedores.
Um dos casos é o gás residencial, onde a queda de consumo não acontece apenas porque as pessoas estão cozinhando menos em casa com o retorno ao trabalho presencial. Os brasileiros compraram durante os quatro primeiros meses deste ano 7,4 milhões de botijões de gás de cozinha a menos do que no mesmo período de 2021.
Feita pelo Sindigás, o sindicato que representa as distribuidoras de gás liquefeito, com base nos números de comercialização do produto da ANP, a conta acentua as evidências de que uma parcela dos consumidores voltou a usar lenha para cozinhar alimentos.
“Não há dúvida que o preço do botijão de 13 quilos, para alguns consumidores, abalou a inelasticidade da demanda. A variação de preço foi tão importante que mudou o perfil de demanda, e vem forçando o consumidor a tomar outras decisões”, comenta Sergio Bandeira de Mello, que é presidente do Sindigás.
Ele avalia que, temporariamente, o auxílio emergencial ajudou a financiar o aumento do preço do gás nos lares de famílias mais vulneráveis, porém com o fim dos pagamentos mensais de R$ 600 o orçamento passou a ser drenado cada vez mais pela inflação dos alimentos. Desde fevereiro de 2020, quando foi registrado o primeiro caso de covid no Brasil, o preço do botijão de gás de 13 quilos já subiu mais de 60%, chegando a R$ 113.
Para Mello, o auxílio gás, ao redor de R$ 50, é um passo importante no combate à pobreza energética ao complementar o Auxílio Brasil, de R$ 400. Por não ser, contudo, um valor “carimbado” à aquisição de gás, o benefício pode estar sendo, em muitos casos, direcionado à compra de alimentos. “O pagamento feito em espécie leva a um desvio de finalidade, em que as pessoas usam o dinheiro para comprar proteína e continuam consumindo lenha”, considera Mello.
O presidente do Sindigás diz ser favorável a um programa social direcionado especificamente a essas pessoas que não têm mais condições de comprar o produto, de modo que a pobreza energética seja enfrentada com custo fiscal menor do que iniciativas que reduzem o preço para toda a população. Na segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi na direção contrária ao propor que o governo banque Estados que zerarem o ICMS do gás.
Em outros mercados de produtos essenciais, a inflação e a necessidade de enxugar ao máximo os gastos vêm levando o consumidor a ser, em geral, mais criterioso. Representante da indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, a Abihpec informa que, ainda mais do que antes, os consumidores buscam promoções e avaliam o custo-benefício dos produtos.
Fonte: Broadcast / Ag.Estado
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