O Brasil tem como um dos principais desafios no setor de óleo e gás a aceleração do aproveitamento do gás natural das reservas do pré-sal, especialmente a implantação da infraestrutura para escoar o insumo ao continente, avalia Diogo Pais, diretor de óleo e gás da empresa global de consultoria Kroll. Segundo ele, o país vem aumentando progressivamente a produção de petróleo e gás, mantendo marca acima de 4 milhões de boe/dia, ao mesmo tempo que pode exercer um papel relevante na transição energética, com exploração de matérias-primas que vão além da cadeia de óleo e gás, como as biomassas e o biogás.
Para ele, o Brasil é um dos principais produtores de petróleo e gás do mundo e o momento atual, de cotações que vêm se mantendo elevadas ao longo de 2022, representa “excelente oportunidade” para maior comercialização de petróleo e gás natural no exterior. A Petrobras, avalia, como principal produtora do país, pode se beneficiar deste cenário, ao elevar receita de venda no mercado externo, levantando recursos para desenvolvimento de projetos no pré-sal.
Pais alerta, porém, para o risco de eventual nova crise energética no Brasil a curto prazo, diante dos preços globais do gás natural liquefeito (GNL), que nos últimos meses tiveram alta impulsionada pela guerra na Ucrânia, ainda sem perspectiva de desfecho. Com menos investimentos na exploração e produção na Bolívia e dificuldades de fornecimento de gás pela Argentina, o Brasil poderia ter problemas para adquirir GNL, tanto pela oferta mais restrita (a Rússia é um dos principais supridores do mundo), quanto pelo preço.
O executivo avalia ainda que possível decisão de se investir em refino no país, seja na construção de novas plantas, seja na ampliação de projetos existentes, “não é fácil, nem barato, nem rápido”. Segundo ele, o mercado global de derivados está pressionado por aspectos conjunturais, de curto prazo. A perspectiva para os próximos anos é de que a demanda por produtos refinados entre em queda, como efeito do avanço dos projetos de transição energética.
A guerra na Ucrânia elevou as preocupações no Brasil sobre preços e a busca de alternativas para a importação de combustíveis para completar a produção nacional. Pais salientou que o Brasil conta com alternativas bem-sucedidas, como o etanol da cana, e o gás natural veicular (GNV), cuja oferta pode ser complementada com biogás ou biometano.
“No mundo da transição, a demanda pelo refinado vai diminuir; construir uma refinaria não seria uma decisão econômica tão inteligente”, destacou o diretor de óleo e gás da Kroll, que concluiu estudo recente segundo o qual empresas de petróleo e gás devem acelerar operações de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês), neste segundo semestre, mesmo com preços do barril acima de US$ 100. O estudo analisou centenas de operações globais de M&A no primeiro semestre, especialmente as ocorridas no segundo trimestre.
As atividades de M&A entre abril e junho concentraram-se em países da América do Norte, do Pacífico Asiático e da Europa. Entre as dez maiores transações na área de exploração e produção, porém, estão as vendas dos campos de Albacora e Atapu, feitas pela Petrobras para, respectivamente, um consórcio liderado pela Repsol e para a Shell. No “downstream”, a venda da unidade de Lubrificantes e Derivados (Lubnor) da Petrobras para a Grepar Participações, figurou entre as dez maiores transações.
A Kroll contabilizou 302 operações de M&A no segundo trimestre, com total de US$ 50,6 bilhões, 25,2% abaixo do apurado no primeiro trimestre, mas 45,2% acima do registrado um ano antes. No segundo trimestre, 128 transações ocorreram na América do Norte, somando US$ 31,2 bilhões, seguido pelo Pacífico Asiático, com 67 operações (US$ 6,1 bilhões) e pela Europa, com 51 negócios (US$ 5,5 bilhões). Petroleiras aproveitaram-se da alta de preços do petróleo para investimentos na América do Norte e no Pacífico Asiático, com a aquisição de ativos de exploração e produção, que corresponderam a 63,4% do total de negócios realizados no segundo trimestre.
Fonte: Valor Econômico
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