A Gás Verde, empresa do grupo Urca Energia, prepara um plano de expansão e espera mais do que quintuplicar a sua produção de biometano, para uma meta de 700 mil m3/dia em três anos. Os detalhes do planejamento ainda estão sendo concluídos internamente, mas o plano passa pela diversificação dos negócios. Hoje, a companhia só possui ativos em aterros sanitários no estado do Rio de Janeiro. Uma das fronteiras que a empresa espera explorar nos próximos anos é a produção do combustível renovável a partir da vinhaça da cana-de-açúcar. “A maioria da nossa produção vai ser em aterro ainda, mas vamos ter projetos de vinhaça também”, afirma o sócio fundador e diretor executivo do Grupo Urca Energia, Maurício Carvalho.
A Gás Verde, segundo ele, avalia oportunidades de aquisições, para acelerar o crescimento. E busca um investidor para ajudar a bancar o plano. Só este ano, a Gás Verde espera investir cerca de R$ 500 milhões. “Estamos, sim, conversando com investidores para receber um aporte de equity na empresa, de algumas centenas de milhões de reais, para fazer essa curva de crescimento andar mais rápido”, comentou. A empresa produz cerca de 130 mil m3/dia no aterro de Seropédica e, até o fim do ano, espera chegar aos 150 mil m3/dia no ativo. Em paralelo, a companhia está investindo na conversão das usinas de geração de energia a biogás dos aterros de São Gonçalo e Nova Iguaçu em plantas de produção de biometano. Com isso, a Gás Verde espera atingir, no segundo semestre de 2024, uma produção de até 400 mil m3/dia nesses três ativos. Em 2023, a expectativa da empresa é concentrar esforços comerciais na busca de clientes.
A companhia já tem contratos fechados com Ternium, Saint-Gobain, Nestlé e Ambev – que reduziu em mais de 80% as suas emissões, com a troca do gás liquefeito de petróleo (GLP), na fábrica de Cachoeiras de Macacu (RJ), e cujo case será apresentado pela Gás Verde esta semana no The World Biogas Summit, na Inglaterra. Todo o volume produzido em Seropédica já está contratado, hoje. Carvalho conta que, em função do aquecimento da demanda industrial, a companhia espera liberar mais volumes de seu atual portfólio para o segmento – que, em geral, paga um prêmio maior pelo atributo ambiental do combustível renovável. A Gás Verde está negociando trocar o biometano que a empresa vende hoje aos postos de GNV por gás natural de origem fóssil — e, assim, realocar mais volumes para as indústrias. A empresa calcula ser possível liberar cerca de 70 mil m3/dia nessa operação.
Carvalho acompanha com atenção os desdobramentos do programa Gás Para Empregar, anunciado pelo governo este mês. Uma das propostas, segundo o Ministério de Minas e Energia, é integrar o gás natural à estratégia nacional de transição energética para contemplar sinergias e investimentos que favoreçam o desenvolvimento de soluções de baixo carbono, como o biogás/biometano. O executivo defende que, com a força do agronegócio brasileiro, o país deveria apostar na substituição do diesel por biometano – em combinação com o gás natural – nos veículos pesados, por meio da criação de corredores azuis. Ele cita que a ABiogás está elaborando um plano de massificação do uso do biometano no país e que o setor de transporte é peça-chave dentro dessa equação. A pauta é defendida também pela Abegás. “Quando vemos o mundo falando da eletrificação da frota, não sei se é a melhor vocação que o Brasil, com sua dimensão continental, deveria perseguir. Temos uma indústria de etanol gigantesca e queremos que o biometano se transforme numa indústria gigantesca também, do porte do etanol”, comenta. Carvalho defende que o governo precisa assumir um papel de indutor do mercado. “O custo do dinheiro está elevado no mundo e a captação de recursos está mais difícil. O governo deveria entrar como impulsionador: melhorar a carga tributária, desonerar a cadeia, dar incentivos de financiamento verde, por meio do Fundo Clima, por exemplo”, disse.
Fonte: Epbr
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