A indústria cerâmica de Santa Catarina tem buscado novas fontes de energia devido ao preço alto do gás no Estado, que chega a ser 20% mais caro que no interior de São Paulo. Hoje, a cidade de Criciúma, no sul do Estado, é considerada polo na produção cerâmica em Santa Catarina. O aumento de custos preocupa as companhias do setor em um momento em que as vendas desaceleram, obrigando as fábricas a promover férias coletivas, suspender contratações e fazer ajustes no quadro de funcionários.
Na Portinari e na Ceusa, pertencentes à Dexco (antiga Duratex), estão sendo feitos testes para o uso de pellets (prensados de madeira) para a produção de energia térmica usada na fabricação de revestimentos, com investimentos de R$ 1 milhão no projeto neste ano. Segundo o vice-presidente de revestimentos da Dexco, Raul Guaragna, há um pequeno ganho de custo no uso desse material frente ao gás. “Os testes, que realizamos em escala industrial utilizando wood pellets, mostraram resultados significativos em nossos indicadores de sustentabilidade, redução de custo e qualidade do produto”, afirma o executivo.
Entre esses indicadores está o aumento da qualidade do produto final e a redução de 13 mil toneladas na emissão anual de gás carbônico em comparação ao gás natural. “Do ponto de vista ambiental, o pellet é melhor do que o gás, por ser uma fonte de energia renovável”, defende Guaragna. O material, denso, é fabricado com um baixo índice de umidade, abaixo de 1%, o que lhe dá um alto potencial calorífico de geração de energia. “É uma das formas de aquecimento menos poluentes disponíveis no mercado”, afirma. A Dexco espera que o projeto entre em operação ainda este ano.
Atualmente, o preço do gás faz com que os pisos produzidos em Santa Catarina sejam mais caros em relação a outras produções cerâmicas do restante do país, salientam Guaragna e o diretor comercial da Pisoforte, Gerson Luis da Silveira. “Santa Catarina está tendo até um problema de competitividade dentro do mercado nacional”, diz Silveira. O mesmo produto da Pisoforte fabricado em São Paulo é mais barato, afirma. “O gás hoje impacta de 20% a 30% o custo de produção do produto cerâmico”, observa.
Guaragna, da Dexco, lembra que houve ajustes para baixo nas tarifas em 2023, mas considera que não foram suficientes na comparação com o praticado por algumas concessionárias do interior paulista, onde há indústrias que competem com as catarinenses. Outro problema, diz, é que mesmo que a fábrica não esteja consumindo gás – por parada de linha por problema de demanda, por exemplo -, é preciso pagar pelo combustível em função contrato. “Isso causou prejuízos importantes para muitas empresas do setor, que tiveram que reduzir sua produção para ajustar estoques”, pontua o executivo.
Porém, a troca por outras fontes de energia não é simples e demandaria ajustes na linha de produção. “Todos os equipamentos são confeccionados para uso desta energia [gás]”, salienta o diretor comercial da Pisoforte. Hoje, a indústria cerâmica nacional é a segunda maior consumidora de gás natural, segundo a Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres).
O setor atualmente passa por uma retração na demanda, que levou as empresas a reduzir a produção e fazer ajustes de mão de obra. Na Portinari e na Ceusa, que sentiram uma queda de 15% nas vendas no início do ano, cinco das 14 linhas de produção estão paradas. A Dexco, dona das marcas, concedeu férias coletivas no final do ano, promoveu desligamentos pontuais e novas contratações foram suspensas – ao todo, 450 postos de trabalho estão nesta situação, o que corresponde a cerca de 15% da força de trabalho.
Na Pisoforte, já foram concedidas duas férias coletivas para 40% dos trabalhadores – no final do ano passado e em março. Não houve redução no quadro de funcionários, que hoje gira em torno de 200 pessoas.
Silveira atribui o recuo nas vendas internas – caíram 25% no Brasil e na América Latina em 12 meses – a aumento de custos e queda no poder aquisitivo da população, além de uma possível antecipação de consumo na pandemia, embora os dois primeiros pontos sejam mais relevantes. “Os custos aumentaram, o produto ficou mais caro e o poder aquisitivo da população não acompanhou a alta”, diz.
Na Pisoforte, 70% da produção vai para o mercado interno. Os 30% restantes seguem para o exterior (Estados Unidos, para onde as vendas não recuaram, e outros países da América Latina). Na Portinari e na Ceusa, 15% da produção é exportada.
Fonte: Valor Econômico / Suplemento Santa Catarina
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