A Abiogás espera que o Brasil chegue a 2030 produzindo cerca de 30 milhões de metros cúbicos de biometano por dia, o que significa um salto na atual capacidade, conta o diretor Gabriel Kropsch. O volume poderia atender parte da demanda brasileira por diesel, hoje em torno de 150 milhões de m3/dia, avalia. A Abiogás fez um mapeamento entre as empresas associadas e identificou um volume entre 800 mil e 1 milhão de m3/dia para entrar em operação até o final de 2024, chegando na casa dos 6 milhões de m3/dia até 2029, com 86 plantas de produção. Atualmente, o país conta com seis plantas autorizadas pela ANP a operar, com capacidade de cerca 450 mil m3/dia. Segundo o diretor da Abiogás, outras 11 estão em processo de autorização, previstas para entrar em operação até o começo do ano que vem, o que vai acrescentar um volume relevante de biometano no mercado. No entanto, a capacidade atual representa menos de 2% do potencial brasileiro, destaca Kropsch. “Nos EUA são mais de 700 plantas. Na Europa mais de mil – 300 na França, que está adicionando centenas por ano. Chegar a 100 plantas no Brasil no final da década não é, de forma alguma, fora da realidade”, defende. O número de plantas e a velocidade desses projetos vai depender das condições do mercado.
Hugo Nery, CEO da Marquise Ambiental, lista regulação e suprimento como os pontos principais para destravar o potencial brasileiro. Ele explica que hoje um dos gargalos está no recolhimento dos resíduos em um país de dimensões continentais como o Brasil. “Em relação à geração de resíduos, para ter um aproveitamento adequado, precisamos de uma regulação real dentro dos municípios brasileiros capaz de fazer com que a separação de origem seja adequada, e que a distribuição e transporte do material consiga aproveitar ao máximo o potencial de geração de valor”. De acordo com Nery, o Brasil só separa 2% das 220 mil toneladas/dia de resíduos que gera por dia e mais de mais de 50% dos municípios não têm destinação correta do lixo. A Marquise opera, junto com a MDC, a GNR Fortaleza, uma planta de biometano instalada no aterro municipal – primeira e única do Nordeste, que já corresponde a até 20% de todo o gás natural comercializado pela Cegás. Este ano, a GNR Fortaleza completou cinco anos de atividades, ofertando 90 mil m³ de biometano por dia, volume suficiente para abastecer a frota brasileira de 1,6 milhão de veículos a GNV por 2 semanas. A expectativa é chegar a 108 mil m³ de biometano/dia. A dupla também estuda a viabilidade de replicar o negócio no aterro operado pela Marquise em Manaus, no Amazonas.
Giovane Rosa, CEO da Gás Orgânico, observa que o gás natural ainda tem muito espaço para crescer no Brasil, mesmo no contexto da transição energética. Para o executivo, a transição para alternativas como o hidrogênio ainda vai demorar, e, no curto prazo, o biometano é a alternativa viável para complementar essa transição com o gás fóssil. “Estamos em um período de transição e pode ser que essa transição para outros gases demore, por outro lado, o biometano é uma opção já disponível”, explica. Críticos aos subsídios dados aos combustíveis fósseis Kropsch, da Abiogás, e Nery, da Marquise afirmam que o biometano consegue se sustentar sem incentivos e que as questões regulatórias para sua expansão são as mesmas do gás natural: a regulamentação dos estados. “O mercado é composto pela sua capacidade de produzir pelo melhor preço e do país crescer para absorver a demanda. Então, o Estado só precisava não atrapalhar. Se não atrapalhar, o mercado já vai fazer com que a demanda exista e a partir daí a iniciativa privada busca redução de custo para fazer com que seu produto seja vendável”, defende Nery.
Fonte: Epbr
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