Em um dos seus editoriais desta segunda (16), o Estadão afirma que,
Quando em 2006 Lula da Silva, então no final de seu primeiro mandato, lançou a pedra fundamental do Comperj, o projeto era anunciado como uma inovação tecnológica que revolucionaria a petroquímica nacional e faria do Brasil um exportador de derivados de petróleo. Orçado em cerca de US$ 6 bilhões, no ano seguinte o Comperj integrou o primeiro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como a aposta mais cara da segunda gestão lulopetista. Mas a obra só começou de fato em 2008, já com o orçamento inflado para US$ 8,4 bilhões. Agora, 16 anos depois, a Petrobras anuncia o início das operações do polo que, de um grande parque industrial, minguou para uma unidade de processamento de gás natural do pré-sal, junto com unidades de produção de combustíveis e lubrificantes e duas térmicas. Mas a operação plena, como informou ao Estadão/Broadcast a diretora de Engenharia da companhia, Renata Baruzzi, está prevista apenas para 2029, incríveis 21 anos após o início da polêmica construção. A Petrobras não fornece dados sobre qual será, afinal, o custo da epopeia do Comperj, mesmo na versão reduzida. Em 2017, quando o então ex-presidente Lula da Silva, numa de suas caravanas, voltou ao terreno da obra inacabada em Itaboraí, para fazer as críticas de praxe à Lava Jato, atribuiu à operação anticorrupção o abandono do projeto, que originalmente incluía até a construção de linhas de transmissão de energia.
Obviamente, não fez menção às irregularidades constatadas nos contratos entre a Petrobras e as empreiteiras responsáveis pela obra. Tampouco ao superdimensionamento do projeto para o qual a Petrobras adquiriu uma fazenda de 45 milhões de metros quadrados. Paulo Roberto da Costa, o diretor da estatal que ganhou notoriedade como o primeiro delator da Lava Jato, dizia que iria atrair ao Rio não só a petroquímica, mas uma nova indústria de bens de consumo, e alardeava um interesse que não se concretizava. Ao final, a aventura megalômana teve apenas a previsível parceria do BNDES além de um grupo privado. Os desmandos foram tantos que até hoje não se conseguiu chegar a um cálculo exato dos prejuízos da aventura desvairada que foi a versão original. Um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) de fevereiro deste ano destaca que, entre os atos de gestão temerária praticados entre os anos de 2006 e 2015, provocou prejuízo a aprovação da transformação do projeto “orçado em US$ 8,4 bilhões na Fase II de desenvolvimento, para o Complexo Comperj, orçado em US$ 26,9 bilhões”. O relatório do ministro Vital do Rêgo ressalta que a própria Petrobras informou ser “autora, seja individualmente, seja em conjunto com a União e/ou o Ministério Público Federal (MPF), em 32 ações de improbidade administrativa e atua como assistente de acusação do MPF em 85 ações penais, ações nas quais são pleiteados cerca de R$ 14 bilhões a título de ressarcimento e R$ 40 bilhões a título de multa”.
Não se sabe qual será o custo da obra após a retomada. Mas, além das conhecidas denúncias de fraudes e superfaturamento, chama a atenção o desperdício de dinheiro em razão da necessidade de pôr abaixo parte do que foi construído. “Vou ter de desfazer para depois fazer”, disse a executiva da Petrobras, explicando a dificuldade de calcular o orçamento. O Comperj, que virou Gaslub na gestão Bolsonaro e agora foi rebatizado para Complexo de Energias Boaventura, é a expressão de uma era marcada por um sem-número de lançamentos de pedras fundamentais e “inaugurações” de obras inacabadas, projetos de custo exorbitante, uso indevido de recursos públicos, corrupção e pressão do governo sobre investidores privados. Mas Lula da Silva, como se sabe, não se emenda. Decerto na expectativa de reescrever a história, quer fazer do Comperj um dos símbolos de sua vitória sobre a Lava Jato. No discurso lulopetista, foi a operação anticorrupção que atrapalhou a Petrobras e arruinou o desenvolvimento do País. Com a retomada e a inauguração do Comperj, Lula decerto considera que está reparando uma injustiça – ao custo de bilhões para todos os brasileiros.
Fonte: O Estado de S.Paulo