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Petrobras assegura adicional de gás boliviano em concorrência com a indústria brasileira

A YPFB ancorou na Petrobras o envio dos volumes de gás natural que a Argentina deixou de comprar da Bolívia a partir de setembro.  A estatal boliviana informou que, a partir desta semana, aumentou as exportações de gás para o Brasil — e que a Petrobras se comprometeu a importar mais volumes. “O gás que ia para a Argentina já está comprometido e vendido para a Petrobras”, disse o CEO da YPFB, Armin Dorgathen. A estatal brasileira, nos últimos anos, chegou a um acordo com a YPFB para redução das importações e flexibilização das penalidades, em meio às dificuldades do país vizinho de cumprir simultaneamente os compromissos com Brasil e Argentina. Agora, tem a chance de retomar parte dos volumes perdidos. Num cenário em que a Bolívia enfrenta dificuldades para ampliar suas reservas, há uma concorrência posta pelo gás da YPFB: comercializadores privados e consumidores industriais disputam uma brecha para trazer gás do país andino.

Nesse primeiro momento, contudo, a importação de gás boliviano sem o intermédio da Petrobras – e no mercado livre, para as indústrias brasileiras – ainda não avançou. A companhia boliviana enxerga espaço para venda para outros agentes. Cita que tem cerca de dez clientes brasileiros, entre contratos firmes e interruptíveis; e que tem acordos para exportação no quarto trimestre deste ano e negociações abertas para contratos para o período 2025-2027. A YPFB não informou qual o volume de gás adicional que passou a enviar para a Petrobras. Nos últimos meses, a Argentina vinha comprando cerca de 4 milhões de m3/dia do país andino – longe do pico de 20 milhões de m3/dia, há dez anos.

A Bolívia vê no Brasil o mercado natural para o seu gás. O gerente de contratos de exportação de gás natural da YPFB, Óscar Claros, disse que, em geral, os preços pagos pela Petrobras são mais baixos que o valor que era pago pelos argentinos. Os comercializadores privados, no Brasil, por outro lado, têm contratos com preços mais altos que a realidade argentina. “O Brasil é um mercado muito grande que permite colocar qualquer quantidade de gás que tivermos à disposição. Não é um problema de demanda.

Na verdade, o que os brasileiros demandam é muito mais gás do que podemos ofertar”, afirmou Claros. Por outro lado, a aproximação entre consumidores industriais e a YPFB, para viabilizar a importação de gás boliviano sem o intermédio da Petrobras, no mercado livre, ainda não avançou desde o início das conversas em julho, segundo fontes. Depois de 19 anos comprando gás da Bolívia, a Argentina declarou sua autossuficiência do gás boliviano em setembro. A interrupção era para ter ocorrido em julho, mas as partes renegociaram uma extensão por mais dois meses, em meio ao atraso nas obras de reversão do Gasoduto Norte e da chegada do inverno. A autossuficiência argentina é fruto do aumento da produção interna, sobretudo a partir do desenvolvimento das reservas de gás não-convencional de Vaca Muerta; e também de obras na infraestrutura interna. O investimento na reversão do Gasoduto Norte, na reta final, permitirá o envio do gás de Vaca Muerta, na Patagônia, para o Norte da Argentina, deslocando assim o consumo de gás boliviano naquela região – e abrindo as portas, inclusive, para uma futura exportação de gás argentino para o Brasil, via Bolívia.

A YPFB, aliás, vê nessa relação comercial Argentina-Brasil uma oportunidade de negócio. O governo da Bolívia publicou um decreto que amplia as competências da estatal e formaliza, assim, a criação do serviço de trânsito internacional. Um decreto atribui à YPFB o papel de agregadora de gás em trânsito – o que permitirá o envio de gás natural da Argentina rumo ao Brasil, pela malha de gasodutos do país andino. A YPFB informou que o serviço estará totalmente operacional a partir do quarto trimestre deste ano e que será possível trazer da Argentina até 4 milhões de m3/dia rumo ao Brasil.

O verão 2024/2025 surge no horizonte como a 1ª janela de oportunidade para importação de gás natural argentino e os agentes do mercado movimentam suas peças no tabuleiro, em busca dos primeiros contratos para testar a integração com o país vizinho. Ao todo, cinco empresas já têm autorização do governo argentino para importar gás do país: a Gas Bridge, Pan American Energy, Tradener, MGás e a Matrix Energy. A Edge, o braço de comercialização da Compass, é outra empresa que está “acompanhando de perto” as oportunidades de importação da Argentina. Do lado dos produtores, a Pluspetrol, a TotalEnergies, a Tecpetrol e a própria Pan American Energy se mobilizam. A curto prazo, a Bolívia é a única rota viável para escoar o gás argentino aos grandes centros de consumo do mercado brasileiro. A longo prazo, no entanto, se o comércio Argentina-Brasil se desenvolver para volumes maiores, será preciso investir em mais infraestrutura e aí outras rotas alternativas podem ser exploradas, como Uruguaiana, Uruguai ou Paraguai, por exemplo.

Fonte: Eixos

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