A agência um apresenta um breve perfil das novas entrantes na atividade de comercialização deste início de 2025 e faz um giro pelo mercado, para mostrar quem mais pode pintar.
Bolivianos miram venda direta
A YPFB Energia do Brasil contratou capacidade do Gasbol, em mais um passo no plano de entrar na comercialização. Ao todo, reservou o direito de injetar 50 mil m³/dia em Corumbá (MS) – a principal porta de entrada do gás boliviano no mercado brasileiro.
O contrato é trimestral – em razão da suspensão da oferta de capacidade 2025-2029, no fim de 2024, a ANP aprovou uma solução provisória para destravar a contratação de capacidade na malha da TBG, enquanto o regulador estuda uma forma de contornar o aumento inesperado das tarifas.
O movimento da YPFB faz parte de um reposicionamento da estatal boliviana frente à abertura do mercado brasileiro. A companhia vem buscando aumentar a sua carteira de clientes para além da Petrobras, sua parceira histórica.
Esta semana, aliás, a YPFB anunciou que está negociando novos contratos (incluindo firme) no Brasil para 2025-2027 – desde outubro, a Argentina deixou de nomear gás firme da Bolívia, o que abriu espaço para redirecionamento desse gás ao mercado brasileiro.
A YPFB informou que tem direcionado gás para “diversos clientes no mercado brasileiro” – embora, num primeiro momento, a YPFB tenha ancorado na Petrobras o envio dos volumes que a Argentina deixou de comprar.
A estatal boliviana tem se aproximado, nesse contexto, de comercializadoras privadas; em paralelo, tenta desenvolver o seu próprio braço de trading. Desde 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), quando o Novo Mercado de Gás começou a ganhar forma, a YPFB tem manifestado interesse em vender diretamente o gás boliviano no mercado brasileiro.
A companhia tem autorização da ANP há cinco anos, mas deu, agora, seu primeiro passo mais concreto. Pelo baixo volume movimentado, a iniciativa é entendida no mercado como primeiro teste da boliviana.
Em novembro, a YPFB Energia do Brasil assinou um contrato de importação de gás com a própria YPFB. Também em 2024, a companhia iniciou, com o intermédio dos governos de ambos os países, uma aproximação com a indústria brasileira — interessada em comprar gás boliviano sem intermédio da Petrobras.
Num primeiro momento, a YPFB mira oportunidades de vender o próprio gás boliviano no mercado brasileiro, mas, no futuro, mira o gás argentino. A YPFB tem autorização da ANP para trazer, para o mercado brasileiro, 2 milhões de m³/dia da Bolívia – e outros 5 milhões de m³/dia da Argentina.
Negociar contratos de compra e venda de gás proveniente de outros países, para comercialização no mercado internacional, é uma das novas atribuições da YPFB, pelo Decreto Supremo 5.206/2024 – o mesmo que criou o trânsito internacional como nova linha de negócios da estatal boliviana.
A comercialização internacional, contudo, seria uma segunda fase de internacionalização. Num primeiro momento, a intenção da empresa é atuar como agregadora de gás em trânsito – ou seja, como responsável pela recepção, programação, transporte e entrega de gás argentino ao Brasil pelo sistema integrado de transporte da Bolívia. Já assinou com a TotalEnergies e a Matrix Energy, aliás, o seu primeiro contrato operacional internacional do tipo. Depois de ficar seis anos sem divulgar suas reservas certificadas, a YPFB confirmou oficialmente o declínio de seus volumes nos últimos anos. Ao fim de 2023, possuía 4,5 TCFs, uma queda de 58% em relação aos 10,7 TCF certificados em 2017. A gestão da estatal boliviana questiona, contudo, os valores certificados na ocasião.
A PRIO espera um salto na sua produção de gás em 2025 e começa a dar seus primeiros passos na comercialização. Firmou um acordo com a Petrobras para acessar o Sistema Integrado de Escoamento de gás natural da Bacia de Campos e a Unidade de Tratamento de Gás de Cabiúnas, em Macaé (RJ). Com isso, a petroleira independente consegue acessar diretamente o mercado. A companhia informou que sua carteira inicial será de 300 mil m³/dia, mas que a previsão é ultrapassar 1 milhão de m³/dia ao longo de 2025, com o início da produção de Wahoo, na Bacia de Campos. Além desse campo, a PRIO opera Frade (100%) e Albacora Leste (90%), que também produzem gás. A petroleira informou à agência eixos que já está vendendo seu gás ativamente no mercado desde 1° de janeiro, na saída da UPGN, “diretamente a empresas de grande porte, sem a presença de intermediários”. A companhia destacou, contudo, que a venda pode ser feita para todo o mercado, inclusive para outras comercializadoras.
Outra empresa que está estreando como carregadora é a Voqen. A empresa contratou uma capacidade de 30 mil m3/dia na malha da NTS, para retirada em São Paulo, onde está localizado o seu primeiro cliente: uma unidade da própria Braskem, a primeira do grupo a migrar para o mercado livre. Em 2024, a Voqen já estava ativa na montagem de seu portfólio de suprimento. Fechou, na ocasião, um contrato com a Shell; e abriu uma concorrência para compra de até 1,6 milhão de m3/dia para fornecimento a partir de 2025. A expectativa da companhia é concluir o processo nas próximas duas semanas. A empresa mira tanto para consumo das unidades industriais do grupo quanto para terceiros – com foco no segmento industrial. A Braskem espera migrar uma segunda unidade em São Paulo para o mercado livre em abril e, na sequência, planeja a migração de plantas na Bahia, Rio Grande do Sul e Alagoas. O BTG Pactual Commodities também está dando os seus primeiros passos como trader de gás. Contratou a saída de 30 mil m³/dia em São Paulo, no Gasbol. Uma das comercializadoras líderes em energia elétrica do mercado brasileiro, a companhia obteve em 2024 a autorização da ANP para atuar como comercializadora e carregadora. Ao longo do ano passado, o BTG Pactual Commodities começou a montar a sua carteira de suprimento. Celebrou, com a MGás, o seu primeiro contrato master – aqueles que definem as condições gerais e que permitem às partes serem mais ágeis em potencias negociações futuras. O negócio de gás não chega a ser uma novidade para o BTG – que está presente no setor, de forma indireta, como principal acionista da Eneva.
O ano de 2025 desponta como um ano de consolidação para o trio Edge, Eneva e MGás. As empresas fizeram importantes movimentos no ano passado. A Edge, por exemplo, contratou para 2025 uma saída de 546 mil m3/dia em São Paulo e Minas Gerais, na malha da Nova Transportadora do Sudeste (NTS). Dentre os principais clientes da comercializadora da Compass este ano estão a Saint Gobain e a Vale. Já a Eneva, que começou a comercializar o gás do hub Sergipe no 2º semestre de 2024, contratou uma saída de 320 mil m3/dia no Gasbol; e de 324,5 mil m3/dia na malha da Transportadora Associada de Gás (TAG), no Espírito Santo e Sergipe. A companhia já anunciou contratos para 2025, no mercado livre, com Vale e Cerâmica Capri. A MGás, que se tornou em 2024 uma das principais importadoras de gás boliviano, diversificou o seu portfólio de suprimento e de clientes. Estreou no mercado livre, com um contrato de curto prazo com a CSN; e fechou acordos de comercialização de longo prazo com clientes da indústria de cerâmica para os próximos anos.
A Vibra, por exemplo, vem montando o seu portfólio de suprimento e chegou a fechar, em 2024, seu primeiro contrato no mercado livre, para venda de gás à Samarco. A Energisa se prepara para começar a produzir biometano em 2025 e lançou, em 2024, seu braço de comercialização de gás. A companhia busca fontes de suprimento de gás natural fóssil, para compor seu portfólio. E atenção às oportunidades de importação de gás argentino. Agentes se movimentam para viabilizar o envio das primeiras moléculas de gás argentino ao Brasil na janela do verão. Edge, MGás e Tradener fecharam recentemente novos acordos de suprimento com produtores argentinos para importação de gás natural do país vizinho. Matrix Energy, Gas Bridge e Pan American Energy também estão na corrida.
Fonte: Eixos
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