A busca por soluções sustentáveis na logística tem colocado o gás natural em destaque como um elemento estratégico para a transição energética global. No Brasil, sua aplicação tem ganhado relevância em setores como transporte, indústria e geração de energia, prometendo reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e diversificar a matriz energética. Entre os estados, Pernambuco tem se destacado no setor de gás natural com um plano estratégico de investimentos robusto. Para entender um pouco mais sobre o assunto, a revista Folha Log (Folha de Pernambuco) entrevistou o presidente da Copergás, Bruno Monteiro.
Quais são os principais avanços que a Copergás tem alcançado na promoção do gás natural como alternativa sustentável para o setor logístico?
A Copergás tem avançado continuamente na expansão da malha de distribuição de gás natural, promovendo sua interiorização e adensamento em diversas regiões do estado. No setor de mobilidade, a empresa tem desempenhado um papel fundamental na ampliação do uso do GNV, uma alternativa mais econômica e sustentável para veículos leves e pesados. Atualmente, Pernambuco conta com mais de 93 mil usuários e 123 postos de abastecimento, consolidando-se como referência nacional no uso do GNV, especialmente entre taxistas e motoristas de aplicativo. A infraestrutura desenvolvida pela Copergás abre caminho para a adoção do GNV em outras modalidades, reforçando seu compromisso com a transição energética. No transporte público, o Governo de Pernambuco, por meio da Copergás e do Grande Recife Consórcio de Transporte, tem realizado testes com ônibus movidos a gás natural em parceria com empresas como Conorte, Mobi e Scania. Os resultados demonstraram vantagens econômicas e ambientais significativas em relação ao diesel, destacando o potencial do GNV para reduzir custos operacionais e emissões de poluentes. Agora, as concessionárias e o Consórcio debatem a melhor estratégia para a inserção gradual desses veículos na frota da Região Metropolitana do Recife, consolidando o gás natural como uma alternativa viável para o transporte coletivo. No setor logístico, a Copergás tem desenvolvido iniciativas para ampliar o uso do GNV no transporte rodoviário de cargas, em parceria com empresas privadas. Os primeiros testes apontam uma economia de aproximadamente 25% no consumo de combustível ao longo de uma rota de cerca de 140 quilômetros, evidenciando o potencial do GNV para tornar o transporte de cargas mais eficiente e sustentável.
De que maneira o biometano, planejado para ser integrado em 2025, transformará a matriz energética de Pernambuco?
A integração do biometano na matriz energética de Pernambuco representa um marco na transição para fontes renováveis. A Copergás firmou contrato com o supridor para o fornecimento desse combustível sustentável, produzido a partir de resíduos orgânicos oriundos de aterros sanitários (antigos “lixões”). Inicialmente está previsto uma produção de 60 mil m3/dia, o volume foi ampliado para até 110 mil m3/dia, consolidando o biometano como um vetor estratégico para a diversificação energética do Estado. Advindo do Ecoparque de Jaboatão dos Guararapes, o fornecimento terá início ainda em 2025. O uso do biometano traz benefícios ambientais e econômicos. Ele aproveita o gás gerado pela decomposição de resíduos, que antes seria desperdiçado, e o transforma em energia útil, reduzindo a emissão de poluentes. Além disso, amplia a oferta de gás natural no Estado, diminuindo a dependência de fontes fósseis e garantindo mais segurança no abastecimento para indústrias, transportes e demais consumidores. Com essa iniciativa, Pernambuco fortalece seu protagonismo na transição energética e cria oportunidades para o setor produtivo.
Como a Copergás pretende superar os desafios de infraestrutura para levar gás natural a regiões remotas, como o polo gesseiro do Araripe?
A Copergás pretende superar os desafios de infraestrutura para levar gás natural ao polo gesseiro do Araripe, adotando o modelo de Rede Local, já implementado com sucesso em Petrolina e Garanhuns. Esse sistema utiliza caminhões-contêineres para transportar o Gás Natural na forma líquida que, ao chegar ao destino, é distribuído através das redes locais que serão construídas. Para viabilizar o fornecimento ao polo gesseiro, a Copergás planeja a construção de dois terminais de regaseificação na região (um em Araripina e outro em Trindade), similar aos existentes nas localidades já mencionadas. Esse investimento inicial de aproximadamente R$ 6 milhões trará um impacto significativo para a indústria do gesso, que atualmente depende da queima de lenha oriunda da caatinga, causando desmatamento e altos custos logísticos. A substituição da matriz energética pelo gás natural permitirá a preservação de cerca de 6 milhões de árvores por ano, contribuindo para a conservação da caatinga, um bioma essencial para a biodiversidade do Nordeste.
Há parcerias estratégicas em andamento para reduzir os custos do gás natural e torná-lo mais competitivo no mercado brasileiro?
Sim, a Copergás tem adotado diversas parcerias estratégicas para reduzir os custos do gás natural e torná-lo mais competitivo no mercado brasileiro. A empresa vem realizando anualmente processos de contratação para ampliar o número de supridores. Hoje a Copergás conta com seis fornecedores, o que fortalece o abastecimento, traz mais segurança e contribui para a redução do custo energético. Entre estes fornecedores, a Copergás tem o contrato de fornecimento de biometano, e, a partir de 2025, passará a receber até 110 mil m3/dia desse energético. Essa iniciativa reforça a estratégia de diversificação e sustentabilidade da empresa. Outro ponto fundamental é a participação ativa da Copergás em discussões com outras distribuidoras de gás natural e na Abegás. Em parceria com a Abegás, a Copergás trouxe (em 2024) para Pernambuco o evento “Gás Natural para uma Transição Energética Sustentável e Igualitária”, reunindo líderes do setor público e privado para debater soluções que impulsionem a competitividade do gás natural no Brasil.
Quais lições podem ser aprendidas com outros países que têm integrado o gás natural em suas soluções logísticas?
Sustentabilidade e transição energética – a utilização do gás natural como combustível de transição para uma economia de baixo carbono é uma lição importante. O gás natural tem sido usado para substituir combustíveis mais poluentes como óleo diesel, mostrando seu papel na redução de emissões de particulados (poluentes que se mantêm na atmosfera) e gases de efeito estufa. E a chegada do biometano elevará ainda mais os benefícios se utilizado nos veículos pesados. E ativará a promoção da competitividade: a chegada do gás natural em diversas localidades eleva a competitividade com os demais energéticos garantindo um mercado dinâmico e competitivo, o que pode levar a preços mais baixos e segurança no fornecimento.
De que forma a Copergás planeja contribuir para o uso de hidrogênio verde, outro combustível emergente, em Pernambuco?
O hidrogênio verde é um ponto fundamental na estratégia do governo de Pernambuco para promover a transição energética e a descarbonização da matriz energética do Estado. Como parte desse compromisso, foram anunciados investimentos de R$ 20 milhões na planta experimental de produção de hidrogênio verde no Porto de Suape. Além disso, um Projeto de Lei em tramitação na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) busca estabelecer as diretrizes da Política Estadual sobre o Hidrogênio Verde, consolidando a base regulatória para o desenvolvimento desse novo mercado. Nesse contexto, a Copergás, responsável pela distribuição do gás natural no Estado, e com a chegada do biometano, tem um papel estratégico na preparação para o uso do hidrogênio verde. A empresa acompanha de perto os avanços tecnológicos e regulatórios desse combustível emergente, avaliando formas de adaptação da infraestrutura existente e possíveis sinergias com sua rede de distribuição. Dessa forma, a Copergás se posiciona para integrar o hidrogênio verde à sua operação no futuro, contribuindo para a diversificação energética e o fortalecimento de uma economia de baixo carbono em Pernambuco.
Como a empresa avalia os impactos ambientais e econômicos do gás natural no contexto da transição energética global?
A Copergás avalia que o gás natural desempenha um papel estratégico na transição energética global, contribuindo para a redução das emissões de carbono e para a construção de uma matriz energética mais sustentável. A mudança climática já impõe desafios ambientais e socioeconômicos, exigindo que os setores produtivos adotem soluções com menor impacto ambiental. Como o setor de energia é responsável pela maior parte das emissões globais, a substituição de combustíveis altamente poluentes por alternativas mais sustentáveis é essencial para esse processo. Os setores de transporte e industrial respondem pela maior parte das emissões do setor energético, e a substituição do diesel pelo gás natural liquefeito no transporte rodoviário pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) entre 10% e 25%, além de diminuir em até 75% a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx). No setor industrial, o gás natural representa uma alternativa ao uso da lenha, que não apenas contribui para o desmatamento, mas também intensifica o processo de desertificação. No Polo Gesseiro do Araripe, por exemplo, a queima de lenha equivale à derrubada de 6 milhões de árvores por ano, e sua substituição pelo gás natural auxilia na conservação da caatinga, um bioma crucial para a biodiversidade nordestina.Dessa forma, ao estimular o uso do gás natural nos segmentos veicular, residencial, comercial e industrial, a Copergás não apenas impulsiona o desenvolvimento econômico de Pernambuco, mas também contribui ativamente para a transição energética. A empresa se posiciona como um agente de transformação, promovendo soluções que equilibram crescimento econômico e sustentabilidade ambiental.
Fonte: Folha de Pernambuco
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