Um modelo de negócios mais vertical pode ser a saída para destravar os gasodutos estruturantes necessários para viabilizar as exportações firmes de gás natural argentino ao Brasil. O diretor-geral da Transportadora Sulbrasileira (TSB), Walter Farioli, defende que, para tirar novas rotas do papel, como a conclusão do projeto Uruguaiana-Porto Alegre, será preciso pensar em soluções “fora da caixinha” – ou seja, em alternativas ao modelo convencional de estruturação de projetos ancorados em compromissos de compra de longo prazo. “Esse cenário não existe mais, não existe essa possibilidade. O consumidor brasileiro, o potencial consumidor brasileiro de gás [industrial] não tem mais essa condição de pensar em um contrato de vinte anos, dez anos”, afirmou. “Quando fez o Gasbol [Gasoduto Bolívia-Brasil], o Fernando Henrique Cardoso [então presidente da República], que retomou o projeto original, não foi lá em São Paulo bater na porta do consumidor e dizer ‘vocês assinam um contrato aqui de tantos mil, que daí eu vou fazer um gasoduto com gás da Bolívia’. Óbvio que não foi assim”, complementou.
Integração passa por dividir riscos e ganhos
Farioli defende um modelo integrado, em que os diferentes agentes dos países envolvidos – sejam os produtores argentinos, sejam os consumidores brasileiros – se unam para dividir tanto os riscos quanto os potenciais ganhos da integração regional. O grande consumidor de gás, segundo ele, precisa ter garantias efetivas de que o fluxo do gás não será interrompido, como foi no passado. E uma das saídas para isso, prega o executivo, pode ser a verticalização. “É uma espécie de modelo cooperativado, em que o consumidor potencial ou gerador de infraestrutura no Brasil vá à Argentina e se posicione, como foi lá no passado, inclusive, junto com os argentinos e detenham conjuntamente esses investimentos e ativos para que esse gás, então, chegue com segurança”. Farioli sugere ainda, como forma de mitigação de riscos, investimentos em gasodutos exclusivos de exportação na Argentina. E também não vê um projeto estruturante se viabilizar sem a presença conjunta do Estado – ou dos Estados. “Se a gente está falando de gás, num volume desse tamanho da Argentina, com a estrutura de transporte necessária, a gente está falando de projeto estruturante. E aí eu não consigo pensar em algo sólido sem passar pela condição de agentes de Estado trabalhando em conjunto com agentes da iniciativa privada”.
Fonte: Eixos
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