Maior exportador de gás natural liquefeito deixará o cartel petroleiro no ano que vem
O Qatar planeja deixar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no ano que vem, por conta da deterioração em seu relacionamento com os países árabes vizinhos, pondo fim a seis décadas de participação no cartel que dita os preços do petróleo.
O ministro do petróleo do emirado disse a repórteres na segunda-feira que a decisão de deixar a organização que congrega grandes exportadores de petróleo surgiu depois que o Qatar revisou as maneiras pelas quais poderia ganhar um papel internacional mais importante, enquanto muda o foco de sua economia para o gás natural.
A decisão aconteceu em meio a uma deterioração na situação política entre o Qatar e seus vizinhos. Quatro países árabes – Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos (EAU) – impuseram um embargo comercial e de viagens contra o Qatar em junho do ano passado, acusando o emirado de apoiar o terrorismo.
No entanto, Saad al-Kaabi, o ministro do petróleo qatariano, insistiu em que a decisão de deixar a Opep, da qual o emirado é parte desde 1961, não estava vinculada ao boicote político e econômico.
O Qatar é o maior exportador mundial de gás natural liquefeito mas um dos menores produtores de petróleo da organização, de acordo com o relatório de outubro do departamento de pesquisa da Opep sobre o mercado do petróleo. Kaabi disse que seu país planejava elevar sua produção de gás natural liquefeito de 77 milhões para 110 milhões de toneladas anuais.
O preço do petróleo disparou na segunda-feira, depois que os Estados Unidos e a China concordaram quanto a uma trégua de 90 dias em sua guerra comercial, tendo chegado a acordo durante a reunião do Grupo dos 20 países mais ricos (G20) na Argentina, no último final de semana, quanto a não impor novas tarifas comerciais.
O petróleo cru padrão Brent subiu em 3,88%, para US$ 61,77, no final da manhã em Londres, enquanto o contrato do West Texas Intermediate, o principal referencial do petróleo dos Estados Unidos, subia em 4%para US$ 52,97.
A decisão do Qatar surge em um momento no qual países que não integram a Opep, como a Rússia, se tornaram mais influentes na determinação da política petroleira, ao lado da Arábia Saudita, o maior produtor do cartel e para todos os efeitos seu líder.
Kaabi disse que o impacto do Qatar sobre a política de produção da Opep era pequeno, o que segundo ele influenciou a decisão do emirado quanto a deixar a organização; ele afirmou que o emirado continuaria a seguir os acordos coordenados entre os produtores mundiais quanto à extração de petróleo.
Ainda assim, coube ao seu predecessor no ministério desempenhar um papel crucial na obtenção de um acordo entre os países produtores de dentro e de fora da organização, em 2016, para cortes coordenados de produção que ajudaram a pôr fim a anos de desvalorização.
Kaabi disse que o Qatar participaria da reunião de ministros do petróleo da Opep que acontece esta semana em Viena, para ditar a política petroleira a ser seguida em 2019, em um momento de queda nos preços do petróleo cru que levou a cotação por barril abaixo dos US$ 60 na semana passada, ante mais de US$ 86 no mês anterior.
“O Qatar trabalhou diligentemente nos últimos anos a fim de desenvolver uma estratégia futura baseada em crescimento e expansão, tanto em suas atividades no país quanto no exterior”, disse Kaabi. “Realizar nossa ambiciosa estratégia de crescimento vai requerer esforços concentrados, dedicação e o compromisso firme de manter e reforçar a posição do Qatar como maior produtor mundial de gás natural liquefeito”.
A decisão do Qatar de deixar o cartel petroleiro não terá “grandes” consequências para a Opep, dada a produção petroleira limitada de Doha, disse Robin Mills, presidente-executivo da consultoria Qamar Energy.
A Arábia Saudita e seu principal aliado, os Emirados Árabes Unidos, os dois principais membros da Opep, lideraram o embargo contra o Qatar, mas outros países, entre os quais o Irã, arquirrival de ambos, continuam a fazer parte da organização.
“Surpreende que o Qatar esteja abandonando seu lugar à mesa. Seria melhor estar lá do que não”, disse Mills. “Presumivelmente isso está ligado à disputa política, mas diversos países membros da Opep não têm participação na disputa”.
E a participação na Opep tampouco impedia que o Qatar acelerasse sua produção de gás natural liquefeito, disse Mills.
O Qatar está tentando compensar o efeito do bloqueio por meio de um investimento de US$ 200 bilhões em infraestrutura e da abertura de novas rotas comerciais. Também redirecionou US$ 50 bilhões de seu fundo nacional de investimento à proteção do setor bancário e à manutenção de uma taxa de câmbio estável.
Arábia Saudita, Bahrein, Egito e os Emirados Árabes Unidos acusam Doha, que sempre foi considerada como desalinhada com as posições políticas da região, de financiar e apoiar o terrorismo. O Qatar, que abriga a maior base militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, negou repetidamente essas acusações, e a disputa está em impasse desde que surgiu.
Kaabi, antigo presidente da estatal Qatar Petroleum, foi nomeado ministro da energia em uma reforma ministerial realizada no começo de novembro.
Fonte: Folha de S.Paulo / Financial Times
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